Continência de brasileiros no pódio no Pan chama atenção, e COB defende

Publicado em 17 de julho de 2015

mayraDos 590 atletas brasileiros que estão em Toronto para a disputa dos Jogos Pan-Americanos, 123 são ligados à Marinha, ao Exército ou à Aeronáutica, dentro do Programa de Alto Rendimento dos Ministérios da Defesa e do Esporte. Isso acabou gerando um hábito que não é novo, mas ganhou destaque em Toronto: o gesto de continência à bandeira do Brasil durante a cerimônia do pódio.

A continência é uma saudação prestada pelo militar. E pode ser individual ou da tropa. Das 42 medalhas conquistadas pela delegação brasileira até o meio-dia desta quarta-feira, 18 foram por atletas que fazem parte das Forças Armadas, o que representa 42%. Foram sete de ouro, três de prata e oito de bronze.

O caso ficou mais evidente pelo fato de que dos 13 medalhistas do judô, modalidade até agora que mais levou atletas ao pódio, 12 fazem parte do programa. Tiago Camilo, Charles Chibana, Felipe Kitadai, Luciano Corrêa e Victor Penalber são do Exército Brasileiro. Erika Miranda, Rafaela Silva, Nathália Brigida, Mayra Aguiar, Mariana Silva, Maria Portela e Maria Suelen representam a Marinha do Brasil.

– Eu estou desde 2010 no Exército e isso é uma coisa que fazemos no pódio deste então. Eles recomendam prestar continência para a bandeira. Na verdade, eles pediram para fazer, mas é uma coisa que vem da gente. Ficamos um mês no Exército para fazer a iniciação e aprendemos bastante sobre o militarismo. É um orgulho mesmo poder fazer essa homenagem, mostrar o quanto eles estão nos ajudando e demonstra respeito – disse Mayra Aguiar, que ficou com a medalha de prata no Pan.

A suposta obrigatoriedade da continência na hora da premiação gera polêmica já que é proibido fazer propaganda ou manifestar-se politicamente em eventos esportivos como os Jogos Pan-Americanos. O Comitê Olímpico do Brasil (COB) emitiu uma nota oficial nesta quarta-feira para explicar o caso. Nela, alega que a continência é “um sinal de respeito que deve ser prestado, estando ou não com a cabeça coberta. Reza ainda que o militar da ativa deve, em ocasiões solenes, prestar continência à Bandeira e Hino Nacional Brasileiro e de países amigos. É bom notar que esses atletas não são militares apenas quando estão fardados, mas sim, todo o tempo.”

O COB também diz em sua nota que “entende, portanto, que a continência, além de regulamentar, quando prestada de forma espontânea e não obrigatória, é uma demonstração de patriotismo, sem qualquer conotação política, perfeitamente compatível com a emoção do atleta ao subir no pódio e se saber vencedor. Segundo muitos deles, representa também um reconhecimento pelo apoio que recebem das Forças Armadas e uma manifestação do orgulho que têm em representar o país.”
– No judô é natural prestar continência no pódio. O primeiro judoca campeão mundial militar foi o Wagner Castropil em 1994. Depois,o Sebastian Pereira em 2000. Isso vem de muitos anos acontecendo. É uma tradição nas Forças Armadas ter judocas representando o Brasil. Aqui, no judô, isso é uma coisa tratada como natural – justifica Ney Wilson, gestor técnico da Confederação Brasileira de Judô.

Alguns atletas alegam que o ato de continência é natural e não foi exigido nas cerimônias. Faz parte do treinamento que eles receberam ao entrarem para o programa.

– Represento o Exército Brasileiro. E lá somos ensinados que sempre que ouvimos o hino tocar, por sinal de respeito, o militar tem de prestar continência e ficar em posição de sentido. É uma forma de respeito pela minha bandeira e meu país – disse Léo de Deus, medalha de ouro nos 200m borboleta, que é sargento do Exército.
Érika Miranda, ouro no Pan-Americano, porém, não prestou continência após a conquista, mesmo sendo do Exército. Segundo relato da própria, não foi proposital, apenas esqueceu do ato.

– Eu sempre procuro prestar continência, porque quase todos nós somos militares. Eu pensei “meu Deus”, eu esqueci de fazer no pódio. Esqueci porque não pode falar de patrocinadores e clube, mas isso é diferente, pode fazer (…). Não tomei bronca por esquecer, mas isso fez com que todos os outros lembrassem. Vão ter outros pódios e muitas competições e não vou esquecer de fazer – enfatizou a atleta.

O Programa de Alto Rendimento ganhou força em 2008 com o nascimento do Programa de Atletas de Alto Rendimento (PAAR) das Forças Armadas. E se expandiu em 2011 com a 5ª edição dos Jogos Mundiais Militares, disputada no Rio de Janeiro.

Marinha e o Exército incorporaram em seus quadros atletas do Time Brasil. A iniciativa proporcionou a conquista de 114 medalhas e a primeira posição no quadro geral de medalhas, tornando o Brasil uma potência no cenário mundial militar. Neste ano, será disputada a 6ª edição dos Jogos Mundiais Militares, que vai acontecer na Coreia, e o Brasil será uma das principais forças.

Os atletas chegam ao Exército e à Marinha por meio de concursos para preencher vagas de sargento ou marinheiro temporário especialista. Os novos militares têm a função específica de atuar em competições esportivas. Mas eles são alistados e recebem um treinamento militar básico, que dura em média um mês. Atualmente, 610 esportistas fazem parte do PAAR. Eles recebem salários, têm direito a soldos, 13º salário, locais para treinamento, além de plano de saúde, atendimento médico, odontológico, fisioterápico, alimentação e alojamento.

– Nós prestamos continência como uma forma de respeito com a bandeira e até para agradecermos por fazermos parte do programa do Exército. Não combinamos nada. Foi uma coisa que parte de cada atleta, todos têm orgulho de ser do Exército brasileiro – disse Luciano Correa.
globoesporte

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