Botijão de gás já consome 10% do salário mínimo em 16 estados

Publicado em 29 de setembro de 2021

Um item essencial para milhões de famílias, o botijão de gás de cozinha já custa o equivalente a 10% do salário mínimo em 16 estados.
Dona Ana Maria cuida sozinha dos três netos. A filha dela, mãe das crianças, morreu em 2020. Sem trabalho nem aposentadoria, a única renda da casa vem de um programa social do governo do Distrito Federal: R$ 250 por mês. Na cidade dela, um botijão custa R$ 90.
“Esse gás que eu estou usando eu ganhei ele através de uma associação que me deu um vale de R$ 35 e eu inteirei o restante do dinheiro para eu poder comprar o gás”, conta Ana Maria do Nascimento.
O almoço desta terça-feira (28) já foi preparado com a angústia de um botijão quase no final.
“Se for para cozinhar um feijão, eu fico preocupada, porque sei lá, o gás nunca avisa a hora que ele vai acabar. Às vezes eu ponho a panela no fogo, como já aconteceu várias vezes, que eu vou ver, o gás acabou”, diz Ana Maria.
O aumento no preço do gás também tem espantado a clientela de algumas revendas. Numa em Ceilândia, cidade mais populosa do Distrito Federal, eram vendidos, no começo do ano, cerca de 80 botijões todos os dias. Nas duas últimas semanas, segundo os comerciantes, as vendas despencaram e agora só saem, diariamente, cerca de 15 botijões.
O professor de economia Mauro Rochlin, da Fundação Getúlio Vargas, explica que o preço do botijão de gás é resultado, basicamente, de quatro fatores: o preço internacional do petróleo, a cotação do dólar, os impostos e o lucro dos revendedores e distribuidores. E o que mais tem provocado os aumentos, segundo ele, são a disparada do petróleo e do dólar.
“Se a gente olhar o comportamento de dólar e preço de petróleo, a gente vai ver que num espaço de 18 meses subiu mais que 60%, os dois preços combinados. E isso tem impacto, então, no preço do petróleo, em reais, e, portanto, no preço final do botijão de gás”, diz Mauro Rochlin.
Segundo a Agência Nacional do Petróleo, em 16 estados o preço médio do botijão está acima de R$ 100, quase 10% de um salário mínimo, que hoje está em R$ 1,1 mil.
Em Mato Grosso, a ANP encontrou o maior preço cobrado em um botijão: R$ 135. Só em Sergipe, o preço máximo ficou abaixo dos R$ 100.
Com a disparada dos preços, agora, grande parte das marmitas que Lucas vende são preparadas no fogão à lenha.
“A gente usava dois botijões de gás por mês, e agora a gente está usando um só”, conta o aposentado Lucas Thadeu da Rosa.
Para Ana Maria, voltar a cozinhar à lenha é reviver um passado de pobreza que ela não deseja para o futuro os netos.
“Aí, meu filho, nós vamos ter que falar que nem os velhos antigos. Vai ter que ir para roça, fazer um fogãozinho de lenha no fundo do quintal e mandar brasa, porque o gás está muito caro”, diz.
G1

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