Sindicalização volta a crescer no Brasil e rompe sequência de queda iniciada em 2012

A taxa de sindicalização no Brasil voltou a crescer em 2024 após mais de uma década de recuos consecutivos. Os dados integram o módulo Características Adicionais do Mercado de Trabalho da Pnad Contínua e foram divulgados originalmente pela Agência de Notícias do IBGE. Segundo o levantamento, 8,9% dos 101,3 milhões de ocupados no país estavam vinculados a sindicatos — o equivalente a 9,1 milhões de pessoas.
Esse é o primeiro avanço da série histórica desde 2012, revertendo a tendência de queda tanto no número de sindicalizados quanto no percentual de associados entre os trabalhadores. Em relação a 2023, quando a taxa havia atingido o menor nível registrado (8,4%), houve expansão de 9,8%, com a entrada de 812 mil novos filiados.
Setores mais organizados puxam o resultado
O estudo mostra que todos os grupamentos de atividade registraram aumento nas taxas de sindicalização em 2024. Os maiores avanços ocorreram em Administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais, que alcançaram 15,5%, e na Indústria geral, que chegou a 11,4%.
O analista do IBGE, William Kratochwill, destaca a importância do movimento de retomada nesses segmentos. “O aumento da taxa de sindicalização na Administração pública e na Indústria é importante, porque também houve aumento de contingente de trabalhadores. É possível que exista um movimento de retomada, já que historicamente são grupos mais organizados em termos de sindicalismo”, afirmou.
Na direção oposta, a Agricultura — segundo setor com maior proporção de sindicalizados, com 14,8% — apresentou leve recuo de 0,2 ponto percentual. Segundo Kratochwill, a dinâmica do setor ajuda a explicar a queda. “Na Agricultura, ao contrário, tem havido uma forte queda no contingente ocupado. A redução de 4,8% na taxa de sindicalização nesse setor pode estar mais associada à redução desse contingente do que a uma redução de sindicalização entre os trabalhadores”, explicou.
Trabalhadores com carteira e setor público lideram filiações
O avanço também é perceptível quando se observa a posição na ocupação. Os empregados do setor público continuam sendo os mais sindicalizados (18,9%), seguidos pelos trabalhadores do setor privado com carteira assinada (11,2%). Já os empregados sem carteira (3,8%) e os trabalhadores domésticos (2,6%) seguem como os grupos com menor presença sindical.
Para Kratochwill, o aquecimento recente do mercado de trabalho pode ter incentivado maior procura por proteção e organização. “Com mais pessoas sendo contratadas, agora talvez estejam identificando a necessidade de se organizar um pouco mais. Pode ser que os sindicatos tenham buscado aumentar seu alcance, retomar sua credibilidade e prestação de serviços. O mercado está se aquecendo”, avaliou.
Escolaridade e gênero influenciam a sindicalização
Entre os 9,1 milhões de sindicalizados, trabalhadores com ensino médio completo e aqueles com ensino superior completo representam as maiores parcelas — ambos com cerca de 3,4 milhões. A maior taxa de sindicalização está entre pessoas com nível superior (14,2%), enquanto o menor índice aparece entre quem concluiu apenas o ensino fundamental (5,7%).
Mulheres e homens apresentam diferença cada vez menor nas taxas de sindicalização. No Nordeste, elas superam os homens: 10% contra 8,9%. Nacionalmente, a diferença caiu para 0,4 ponto percentual.
Sul e Sudeste impulsionam crescimento nacional
O aumento da sindicalização foi impulsionado principalmente pelas regiões Sul (9,8%) e Sudeste (9,2%). Em 12 anos, porém, todas as regiões registraram forte retração em comparação a 2012.
Formalização cresce entre empregadores e conta-próprias
O estudo também detalha o avanço da formalização entre empregadores e trabalhadores por conta própria. Em 2024, 33,6% dos 29,8 milhões de trabalhadores dessas categorias atuavam com registro no CNPJ, o segundo maior percentual da série histórica.
A cobertura entre empregadores alcança 80%, enquanto entre os conta-própria chega a 25,7%. O analista do IBGE explica que instrução e necessidade de operar em mercados mais complexos influenciam diretamente a formalização. “A taxa de cobertura de CNPJ é significativamente mais alta entre aqueles que atuam como empregadores, porque, ao atingir esse nível, a pessoa passa a contratar, o que aumenta a necessidade de cumprir formalidades”, destacou Kratochwill.
Serviços e comércio têm maior presença de negócios formalizados
Comércio (47,2%) e Serviços (38,2%) concentram as maiores taxas de registro no CNPJ. Já Agricultura, Construção e setores de maior informalidade seguem abaixo da média nacional.
Baixa adesão às cooperativas
A associação a cooperativas segue limitada: apenas 4,3% dos empregadores e trabalhadores por conta própria participam desse tipo de organização — o menor índice da série. A Região Sul mantém a maior proporção (8,2%).
Trabalho no próprio empreendimento aumenta
Mais da metade dos trabalhadores ocupados exerciam suas atividades em estabelecimentos do próprio empreendimento em 2024, tendência que se intensificou no pós-pandemia. Já o trabalho no domicílio — que havia disparado em 2022 — voltou a recuar.
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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