Alcolumbre e Hugo Motta se calam após Trump anunciar sobretaxa contra o Brasil. Tarcísio apóia o tarifaço

As principais lideranças do Congresso Nacional permaneceram em silêncio diante da ofensiva comercial deflagrada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra o Brasil. Nesta quarta-feira (9), Trump anunciou uma sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros, medida que veio acompanhada de críticas diretas ao Judiciário brasileiro e menção a Jair Bolsonaro (PL).
Apesar da gravidade do anúncio, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), e o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), optaram por não se pronunciar publicamente, informa a Folha de S. Paulo. Motta chegou a conduzir os trabalhos no plenário da Câmara durante o dia, mas evitou comentar o assunto, mesmo após ser procurado por jornalistas. Alcolumbre, por sua vez, não participou da sessão no Senado, mas estava em Brasília e também se manteve em silêncio.
Trump mira Brasil em defesa de Bolsonaro – Na carta enviada ao governo brasileiro, Trump afirmou que a decisão de sobretaxar o Brasil se deve, em parte, aos “ataques insidiosos do Brasil às eleições livres e aos direitos fundamentais de liberdade de expressão dos americanos”. O documento foi devolvido oficialmente pelo governo brasileiro.
A tarifa de 50% foi a mais alta entre as 21 medidas protecionistas anunciadas nesta semana por Trump. O republicano justificou a medida alegando preocupação com decisões judiciais brasileiras que, segundo ele, limitam a atuação de plataformas digitais.
Em resposta à medida, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, conversaram por telefone no início da noite. De acordo com interlocutores, ficou decidido que as reações oficiais do Brasil serão conduzidas pelo Executivo, com foco no Palácio do Planalto, Itamaraty e outros órgãos do governo.
Nos bastidores, ministros do STF afirmaram que não pretendem se pronunciar publicamente neste momento, por considerarem que a atitude de Trump tem natureza política e não impacta diretamente os processos em curso no tribunal.
Reações no Congresso – Durante o dia, a decisão de Trump gerou intensos debates entre parlamentares. Aliados do governo Lula apontaram Bolsonaro como responsável por mais um episódio de desgaste internacional do Brasil. Já deputados bolsonaristas culparam a política externa do atual governo, acusando-o de gerar atritos com os Estados Unidos.
A bancada ruralista, representada pelo deputado Pedro Lupion (PP-PR) e pela senadora Tereza Cristina (PP-MS), vice-presidente do grupo e ex-ministra da Agricultura de Bolsonaro, divulgou nota em que manifesta preocupação com os impactos da nova tarifa sobre o agronegócio. “A nova alíquota produz reflexos diretos e atinge o agronegócio nacional, com impactos no câmbio, no consequente aumento do custo de insumos importados e na competitividade das exportações brasileiras”, alertou a nota, que defende uma resposta “firme e estratégica”.
Lula responde: “Brasil é soberano” – À noite, Lula se pronunciou pelas redes sociais e por meio de nota oficial do Palácio do Planalto. O presidente reafirmou a soberania do Brasil e o respeito às instituições nacionais: “o Brasil é um país soberano, com instituições independentes e não aceitará ser tutelado por ninguém”.
A nota também rebate a tentativa de interferência de Trump no processo judicial que envolve Bolsonaro, réu no Supremo por liderar uma tentativa de golpe de Estado em 2022. “O processo judicial contra aqueles que planejaram o golpe de Estado é de competência apenas da Justiça brasileira e, portanto, não está sujeito a nenhum tipo de ingerência ou ameaça que fira a independência das instituições nacionais”, afirmou Lula.
Por fim, o presidente destacou a diferença entre liberdade de expressão e disseminação de violência: “no Brasil, liberdade de expressão não se confunde com agressão ou práticas violentas. Para operar em nosso país, todas as empresas nacionais e estrangeiras estão submetidas à legislação brasileira”.

GLEISI ENQUADRA TARCÍSIO: ‘É NESSA HORA QUE DISTINGUIMOS OS PATRIOTAS DOS TRAIDORES’
A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT), reagiu com indignação à decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros. Em postagem nas redes sociais, nesta quinta-feira (10), Gleisi classificou a medida como “o maior ataque já feito ao Brasil em tempos de paz” e denunciou o alinhamento de figuras da extrema direita brasileira, como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e Jair Bolsonaro (PL), ao que chamou de “chantagem do presidente dos EUA”.
A medida anunciada por Trump entra em vigor no dia 1º de agosto e representa uma escalada nas tensões comerciais entre Washington e Brasília. Em carta enviada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o chefe da Casa Branca não apenas formalizou o tarifaço como também saiu em defesa de Bolsonaro, que responde a um inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado em 2023.
Em tom de pressão econômica, o republicano ainda sugeriu que o Brasil abra seus mercados e elimine tarifas e barreiras comerciais, insinuando que só assim a Casa Branca poderia “considerar um ajuste” na nova tarifa.
A resposta de Gleisi veio de forma contundente. “Quem está colocando ideologia acima dos interesses do país é o governador Tarcísio e todos os cúmplices de Bolsonaro que aplaudem o tarifaço de Trump contra o Brasil”, afirmou. Em sua avaliação, trata-se de um ataque direto à economia, à soberania e à democracia brasileira, como parte de um projeto autoritário em curso. “É a continuação do golpe pelo qual Bolsonaro responde no STF, agora usando tarifas de um país estrangeiro para impor seu projeto ditatorial”, escreveu.
A ministra destacou ainda o papel histórico que cabe aos brasileiros neste momento. “É nessa hora que uma nação distingue os patriotas dos traidores”, disse Gleisi, citando editorial do jornal O Estado de S. Paulo que criticou duramente a postura de Tarcísio. “É absolutamente deplorável que ainda haja no Brasil quem defenda Trump, como recentemente fez o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (…) Eis aí o mal que faz ao Brasil um irresponsável como Bolsonaro, com a ajuda de todos os que lhe dão sustentação política com vista a herdar seu patrimônio eleitoral”, destacou o jornal.

Foto: Andressa Anholete/Agência Senado
Brasil 247

compartilhe

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *