Após culpar Lula, Tarcísio pede acordo e diz que tarifaço prejudica SP. Agora ele defende negociação
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), disse nesta quinta-feira (10) que a tarifa de 50% sobre produtos brasileiros anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, terá impacto “negativo” para São Paulo.
“O impacto é negativo, porque, como eu falei, São Paulo é um grande exportador. O maior destino de exportações industriais do Estado de São Paulo são os Estados Unidos”, afirmou em um evento sobre a obra do Metrô de São Paulo.
Tarcísio reconheceu, no entanto, que a medida do governo dos EUA é “deletéria” para o estado, ou seja, danosa, porque “pega empresas importantes, como, por exemplo, a Embraer, que fechou grandes contratos agora recentemente”.
O governador afirmou que a sua gestão já está “conversando com a embaixada” americana, mas que cabe ao governo federal estabelecer uma mesa de negociação, deixando as “questões ideológicas de lado”.
A gente precisa, obviamente, sentar na mesa, deixar de lado as questões ideológicas, deixar de lado as questões políticas, o revanchismo, as narrativas e trabalhar. A gente precisa estabelecer uma mesa de negociação.
Na noite de quarta, o governador atribuiu a medida a atitudes do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Tarcísio disse em suas redes sociais que “a responsabilidade é de quem governa” e que “Lula colocou sua ideologia acima da economia, e esse é o resultado”.
Aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e cotado para disputar a Presidência contra o atual presidente em 2026, o governador afirmou que a decisão de Trump é resultado de alinhamento do Brasil a países autoritários e defesa da censura, acrescentando que o governo petista não pode jogar a culpa no seu antecessor.
“Tiveram tempo para prestigiar ditaduras, defender a censura e agredir o maior investidor direto no Brasil. Outros países buscaram a negociação. Não adianta se esconder atrás de Bolsonaro”, escreveu Tarcísio.
• O anúncio de Trump foi recebido com espanto por especialistas no Brasil e no mundo, que destacaram a motivação política da decisão. “Ele [Trump] mencionou a iminente condenação do Bolsonaro”, disse, em entrevista à GloboNews, o ex-presidente do Banco Central Alexandre Schwartsman.
• “Não seria a primeira vez que os Estados Unidos usam a política tarifária para fins políticos”, escreveu o economista Paul Krugman, vencedor do Prêmio Nobel.
• Entidades da indústria e da agropecuária brasileira também manifestaram preocupação com o anúncio e afirmaram que as taxas ameaçam empregos no setor.
Em resposta a Tarcísio, a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, afirmou que “quem está colocando ideologia acima dos interesses do país é o governador Tarcísio e todos os cúmplices de Bolsonaro que aplaudem o tarifaço de Trump contra o Brasil”.
Segundo ela, os adversários do PT “pensam apenas no proveito político que esperam tirar da chantagem do presidente do EUA” e que se trata da “continuação do golpe pelo qual Bolsonaro responde no STF, agora usando tarifas de um país estrangeiro”.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), também comentou o posicionamento do governador de São Paulo e disse que ele é candidato “a vassalo”.
“O governador [Tarcísio] errou muito. Porque ou bem uma pessoa é candidata a presidente, ou é candidata a vassalo. E não há espaço no Brasil para vassalagem, desde 1822 isso acabou. O que está se pretendendo aqui? Ajoelhar diante de uma agressão unilateral sem nenhum fundamento econômico”, afirmou.
Carta ao Brasil teve teor político e citou Bolsonaro
Em carta enviada ao presidente Lula na qual justifica a elevação da tarifa sobre o Brasil, Trump citou Bolsonaro e disse ser “uma vergonha internacional” o julgamento do ex-presidente no Supremo Tribunal Federal (STF).
Após o anúncio, Lula afirmou que o Brasil “não aceitará ser tutelado por ninguém” e que o aumento unilateral de tarifas sobre exportações brasileiras será respondido com base na Lei da Reciprocidade Econômica.
O petista declarou ainda que o processo judicial contra os envolvidos na tentativa de golpe de Estado de 8 de janeiro de 2023 é de competência exclusiva da Justiça brasileira.
Na carta, Trump afirmou, sem provas, que sua decisão de aumentar a taxa sobre o país também foi tomada “devido aos ataques insidiosos do Brasil contra eleições livres e à violação fundamental da liberdade de expressão dos americanos”.
Segundo o documento, a tarifa de 50% será aplicada sobre “todas e quaisquer exportações brasileiras enviadas para os EUA, separada de todas as tarifas setoriais existentes”. Produtos como o aço e o alumínio, por exemplo, já enfrentam tarifas de 50%, o que tem impactado diretamente a siderurgia brasileira.
Tarifa mais alta
A tarifa de 50% anunciada por Trump é a mais alta entre as novas taxas divulgadas. Ao justificar a medida, Trump também afirmou que a relação comercial dos EUA com o Brasil é “injusta”. Disse que barreiras tarifárias e não tarifárias do Brasil “causaram esses déficits comerciais insustentáveis contra os EUA”.
Apesar do argumento, dados do Ministério do Desenvolvimento mostram o contrário. O Brasil tem registrado déficits comerciais seguidos com os EUA desde 2009 — ou seja, há 16 anos. Isso significa que o Brasil gastou mais com importações do que arrecadou com exportações.
Ao longo desse período, as vendas americanas ao Brasil superaram as importações em US$ 90,28 bilhões (equivalente a R$ 493 bilhões na cotação atual), considerando os números até junho de 2025. Leia mais aqui.
Por isso, analistas afirmam que a postura de Trump com as tarifas tem um forte componente geopolítico, com o objetivo principal de ampliar seu poder de barganha e influência nas relações internacionais.
O que disse Lula
Após o anúncio, o presidente Lula reiterou a soberania brasileira e afirmou que o país “não aceitará ser tutelado por ninguém”. Ressaltou ainda que “o processo judicial contra aqueles que planejaram o golpe de Estado é de competência apenas da Justiça brasileira e não está sujeito a nenhum tipo de ingerência ou ameaça que fira a independência das instituições nacionais.
O presidente também respondeu às críticas de Trump em relação às plataformas digitais:
“No Brasil, liberdade de expressão não se confunde com agressão ou práticas violentas. Para operar em nosso país, todas as empresas, nacionais ou estrangeiras, estão submetidas à legislação brasileira.”
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G1