Idosa é presa em flagrante por injúria racial e agressão em ônibus de SP: ‘macaca’, ‘preta nojenta’

Publicado em 27 de julho de 2018

A caminho da marcha pelo Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, que luta contra o racismo, o genocídio negro e o feminicídio, realizada nesta quarta-feira (25), a estudante Alanne França, de 21 anos, foi vítima de ataque racista dentro de um ônibus, na Avenida Interlagos, Zona Sul de São Paulo. A autora da agressão foi presa em flagrante por injúria racial e lesão corporal.
Ao G1, a jovem disse que foi agredida fisica e verbalmente por uma senhora de 62 anos, que sentou ao seu lado e começou a disparar as ofensas: “Macaca, preta nojenta, macaca dos infernos”. “Enquanto ela dizia isso ela me deu dois tapas na cara e apertou meu rosto com as unhas, e para afastar ela, eu a segurei pelos cabelos. As pessoas tentarem afastar ela de mim e não dava jeito”. Ela ficou com um arranhão embaixo do olho esquerdo.
Segundo a senhora Argemira Ribeiro, Alanne “tomou as dores” de uma outra passageira, que pisou no pé dela. “Quando eu entrei dentro do ônibus essa moça [Alanne] estava dentro do ônibus e eu sentei do lado dela. E então, uma outra moça pisou no meu pé e eu disse: Você pisou no meu pé moça (…) Depois disso, essa moça sentada do meu lado tomou as dores pela outra que pisou no meu pé. E disse: Olha, a moça está pedindo desculpas, você não vai desculpa-lá? Eu respondi que ela já estava desculpada”.
Argemira confessou que a chamou de “macaca”. “Foi ela que me agrediu primeiro. Eu chamei ela sim [de macaca], eu não nego o que eu falei, mas chamei sem querer, porque ela veio puxar o meu cabelo”, conta.
Durante a agressão, outros passageiros do ônibus pediram para Alanne não responder à agressora por que ela poderia “perder a razão”.
“Eu me senti não humana quando ouvi isso, me sinto privada de não poder expressar as sensações que qualquer um teria em um caso de injustiça, mas eu percebi que mesmo em casos em que eu tenho razão e eu estou sendo agredida ainda sim querem que eu me cale”, contou a jovem.
Em seguida, o motorista parou o veículo e um passageiro acionou a polícia, que determinou a prisão em flagrante da idosa. Ambas foram encaminhadas para o 99º Distrito Policial, em Campo Grande.
“Quando a afastaram de mim, ela simplesmente tirou os sapatos que calçava e jogou eles em mim, enquanto disse: ‘se você gosta tanto de defender, tinha que começar se defendendo nascendo branca’. Depois disso, eu sentei e chorei”, conta a estudante.
A idosa pagou fiança de R$ 1 mil e foi liberada da delegacia.
“Não me explicaram o motivo de terem colocado como injúria racial e não racismo. Apenas fui informada que eu tinha que dar o direito da acusada de pagar a fiança. Sobre isso, eu com certeza vou recorrer”, afirma.
De acordo com o artigo 140, parágrafo 3º do Código Penal, injúria racial se refere à ofensa à dignidade ou decoro utilizando palavra depreciativa referente à raça e cor com a intenção de ofender a honra da vítima.
O crime de racismo, previsto na Lei n. 7.716/1989, é aplicado quando a ofensa discriminatória é contra um grupo ou coletividade. Por exemplo, impedir que negros tenham acesso a estabelecimento comercial, privado etc.
Para Alanne, este caso não se encerra no papel. “É a segunda vez que eu sofro racismo seguido de agressão (…). Estou com o meu psicológico todo abalado, mas com certeza vou recorrer dessa situação, vou retornar na delegacia e acionar todas as autoridades que eu puder, por que isso não vai ficar assim”.
“Se tem uma coisa que posso afirmar é: não vai ter silêncio da minha parte”, diz a jovem. Ela também compartilhou o caso em suas redes sociais.
Argemira diz que não registrou e nem pretende registrar boletim de ocorrência contra a jovem. “Já passou e eu paguei a fiança. Deixa pra lá, eu não tenho mais nada contra ela, não. Já aconteceu”, afirma.

Crimes raciais
De acordo com pesquisa realizada pela GloboNews em julho deste ano, ao longo dos cinco primeiros meses deste ano, 38 crimes raciais da Grande SP foram contabilizados pela Decradi. No mesmo período de 2017, a delegacia tinha registrado 23 casos dessa natureza.
A reportagem analisou todos os boletins de ocorrência registrados pela Decradi entre janeiro de 2017 e maio de 2018. Entre janeiro e maio deste ano, a Decradi registrou 80 boletins de ocorrência. Desse total, 38 foram crimes raciais, 28 tiveram como motivação homofobia ou transfobia e 14 não trazem no registro da ocorrência o tipo de discriminação informada.
G1

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