Israel inicia ofensiva terrestre para ocupar Gaza. Comissão da ONU aponta genocídio; Israel nega

Após uma série de bombardeios, Israel iniciou nesta terça-feira (16) uma ofensiva terrestre na Cidade de Gaza, a maior cidade da Faixa de Gaza e que o governo Netanyahu considera o último reduto do grupo terrorista Hamas no território.
O ministro da Defesa israelense, Israel Katz, afirmou nesta manhã que “Gaza está em chamas” e que seu Exército estava “atacando com punho de ferro” a estrutura terrorista para libertar reféns e derrotar o Hamas.
“Não recuaremos e não desistiremos — até a conclusão da missão”, disse Katz.
A ofensiva levou milhares de pessoas a deixar novamente a Cidade de Gaza, para onde parte da população local havia voltado após fugir para o sul em uma primeira fase da guerra na Faixa de Gaza.
Nesta manhã, estradas que levam ao sul do território palestino já estavam colapsadas com filas de carros amontoados e pessoas fugindo a pé (veja imagem abaixo). Segundo Israel, cerca de 40% da população local já havia deixado a cidade, que fica no norte da Faixa de Gaza, perto da fronteira com Israel.
Um militar israelense afirmou à agência de notícias Reuters que a parte principal da ofensiva contra a Cidade de Gaza havia de fato começado e que as tropas de Israel estavam avançando em direção ao centro da cidade nesta manhã.
Antes disso, Israel fez durante cerca de um mês um cerco à cidade com bombardeios diários e a derrubada de dezenas de arranha-céus na região. O governo do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, acusa o Hamas de estar utilizando os prédios como bases operacionais.
O militar disse também à Reuters que a quantidade de tropas na região aumentará ao longo dos próximos dias e que o Exército israelense está preparado para manter as operações contra o Hamas pelo tempo que for necessário.
A Organização das Nações Unidas (ONU) criticou nesta terça a ofensiva terrestre.
“Este massacre deve parar imediatamente. Peço a Israel que pare com sua destruição indiscriminada de Gaza”, afirmou o alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Turk. A Unicef, a agência da ONU para a infância, disse ser “desumano” exigir que crianças tenham que deixar novamente a cidade.
Também nesta terça, um comitê de investigação apontado pela agência de direitos humanos da ONU para apurar os ataques em Gaza apontou que Israel está comentendo genocídio no território palestino. O governo israelense negou e refutou as conclusões do relatório.
Tomada total de Gaza
A ofensiva terrestre ocorre após o gabinete de Netanyahu aprovar, no início de agosto, um plano para tomar toda a Faixa de Gaza, começando pela Cidade de Gaza, lar de quase a metade de toda a população do território.
Além da ofensiva por terra, testemunhas relataram que uma série de ataques aéreos foi lançada contra a Cidade de Gaza durante a noite de segunda (15). Em seguida, tropas avançaram pela região.
A ofensiva terrestre começou um dia após uma reunião entre o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, e Netanyahu. Segundo o site americano “Axios”, fontes do governo israelense afirmaram que o presidente Donald Trump apoia a operação, desde que seja rápida.
Na tarde desta segunda-feira, Trump declarou que recebeu informações de que o Hamas teria movido reféns mantidos em Gaza desde outubro de 2023 para a superfície, a fim de usá-los como “escudos humanos”.
“Espero que os líderes do Hamas saibam no que estão se metendo se fizerem tal coisa. Esta é uma atrocidade humana, como poucas pessoas já viram”, escreveu em uma rede social.
Na semana passada, o Hamas divulgou o vídeo que mostra dois reféns israelenses circulando de carro pela Cidade de Gaza.
No domingo (14), a agência Reuters afirmou que os ataques aéreos contra a Cidade de Gaza estavam se intensificando, com mais de 30 prédios residenciais destruídos. As forças israelenses afirmam ter atingido alvos terroristas.
Israel já havia declarado que tinha planos de tomar a cidade para eliminar o que chamou de “último bastião” do Hamas. Cerca de 1 milhão de pessoas vivem na região.
Na semana passada, Israel também conduziu um ataque em Doha, no Catar, contra lideranças do Hamas. O país é um dos mediadores para um acordo de cessar-fogo. O bombardeio provocou uma crise na região e foi condenado por parte da comunidade internacional, incluindo a ONU.
A guerra entre Israel e o Hamas começou em outubro de 2023, após um ataque do grupo terrorista matar mais de 1.200 pessoas no sul do país e sequestrar centenas de outras. A ofensiva israelense já matou mais de 63 mil palestinos em Gaza, a maioria civis, de acordo com o Ministério da Saúde local, controlado pelo Hamas.
COMISSÃO CONTRATADA PELA ONU APONTA GENOCÍDIO EM GAZA; ISRAEL NEGA
Um comitê de investigação contratado pela Organização das Nações Unidas (ONU) apontou nesta terça-feira (16) que Israel comete genocídio na Faixa de Gaza.
O governo israelense nega as acusações.
O comitê, chamado Comissão de Inquérito sobre o Território Palestino Ocupado, é formado por juristas e investigadores convocados pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU para apurar os ataques israelenses na Faixa de Gaza.
Nesta terça, a comissão publicou um relatório em que aponta a existência de genocídio, baseado nos seguintes atos que o documento conclui que Israel comete em territórios palestinos como Gaza:
• Matar civis;
• Causar danos físicos ou mentais graves;
• Impor deliberadamente condições de vida para provocar a destruição dos palestinos e
• Impor medidas destinadas a impedir nascimentos, como no ataque de dezembro de 2023 à maior clínica de fertilidade de Gaza, que teria destruído cerca de 4 mil embriões, além de 1 mil amostras de esperma e óvulos não fertilizados.
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O relatório também cita bloqueios de ajuda humanitária, deslocamentos forçados e a destruição de uma clínica de fertilidade para sustentar sua conclusão de genocídio.
Segundo a comissão, autoridades e forças israelenses cometeram quatro dos cinco atos de genocídio definidos pela Convenção da ONU sobre Genocídio, de 1948, contra um grupo nacional, étnico, racial ou religioso — neste caso, os palestinos de Gaza. Para ser considerado genocídio, ao menos um de cinco atos deve ter ocorrido.
O documento também acusa o alto escalão do governo de Israel, incluindo o premiê Benjamin Netanyahu, de incitar esses atos.
“Está ocorrendo genocídio em Gaza. A responsabilidade por esses crimes atrozes recai sobre as autoridades israelenses nos mais altos escalões, que vêm orquestrando uma campanha genocida há quase dois anos, com a intenção específica de destruir o grupo palestino em Gaza”, disse Navi Pillay, chefe da Comissão de Inquérito sobre o Território Palestino Ocupado e ex-juíza do Tribunal Penal Internacional.
O comitê é independente e não representa oficialmente a ONU, que ainda não utilizou oficialmente o termo “genocídio” para se referir aos ataques de Israel na Faixa de Gaza. O relatório divulgado nesta terça deve servir para nortear novas ações e declarações das Nações Unidas.
ISRAEL NEGA
O embaixador de Israel na ONU em Genebra, Daniel Meron, chamou o relatório da comissão de “escandaloso” e “falso” e acusou os componentes do comitê de atuarem “por procuração do Hamas”.
“Israel rejeita categoricamente o libelo difamatório publicado hoje por esta comissão de inquérito”, disse Meron a jornalistas.
Segundo a comissão, os atos de genocídio citados no relatório se baseiam em entrevistas com vítimas, testemunhas, médicos, documentos de fonte aberta verificados e análises de imagens de satélite compiladas desde o início da guerra.
A Comissão Independente de Inquérito sobre o Território Palestino Ocupado e Israel foi criada pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU em 2021, e se reporta ao conselho e à Assembleia Geral do organismo multilateral anualmente por meio de relatórios.
O órgão é composto por três membros especialistas, e seu presidente é nomeado pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU.
A guerra entre Israel e o Hamas começou em outubro de 2023, após um ataque do grupo terrorista matar mais de 1,2 mil pessoas no sul do território israelense. Desde então, o conflito em Gaza já matou mais de 64 mil palestinos, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas — a contagem é chancelada pela ONU.
Os mais de dois milhões de palestinos que vivem em Gaza enfrentam uma grave crise humanitária com fome generalizada constatada no território, segundo agência da ONU —algo que Israel também contesta.
A divulgação do relatório da ONU ocorre no mesmo dia em que Israel iniciou uma ampla ofensiva terrestre na Cidade de Gaza, que o governo Netanyahu acredita ser o último reduto do grupo terrorista Hamas no território palestino.
O ministro da Defesa israelense, Israel Katz, disse que “Gaza está em chamas”.
Foto: REUTERS/Amir Cohen
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