Menino diz ter visto colega de 11 anos que morreu na BA ser baleado pela polícia enquanto brincavam
Publicado em 17 de março de 2019![](https://rededenoticias.com/wp-content/uploads/2019/03/hebert.jpg)
Um menino de 10 anos que brincava com o garoto Hebert Filipe Silva Souza, de 11 anos, que morreu em Camaçari, na região metropolitana de Salvador, durante uma ação policial, contou que viu o momento em que o amigo foi baleado e relatou que está em trauma.
“Eu estou sem palavras, eu estou em choque ainda. Eu vi ele morto. Eu vi meu colega sendo morto pela polícia. Isso não pode acontecer mais”, disse, em entrevista à TV Bahia neste sábado (16), dois dias após o caso.
Hebert foi atingido por disparos de arma de fogo na noite de quinta (14). De acordo com a assessoria do governo do estado (Secom), houve uma troca de tiros entre PMs e criminosos na Rua dos Pássaros, bairro Jardim Brasília, onde o garoto morava, e a criança acabou baleada. Afirmou, também que está investigando de onde partiu o disparo que atingiu o garoto.
Vizinhos da vítima, no entanto, negam a versão da polícia e do governo e dizem que não houve nenhuma troca de tiros no local e que os policiais chegaram atirando. Os policiais envolvidos foram presos.
“Eu estava em cima do muro ali, atrás do muro na cadeira, a viatura parou, arrancou e veio de lá para cá. Aí foi atirando e eu me abaixei. Quando eu levantei de novo eles [os policiais] já estavam aqui. Não tinha coisa nenhuma aqui, bandido nenhum”, disse um morador, que preferiu não se identificar.
Hebert foi enterrado na tarde de sexta-feira (15). No sepultamento, amigos e parentes pessoas levaram cartazes com mensagens com pedido de justiça pelo ocorrido.
Pai lamenta
O motorista José Carlos Souza, pai de Hebert, está bastante abalado e espera que os envolvidos paguem pela morte do filho.
“Foi uma parte que tiraram de mim, da mãe, dos vizinhos também, porque era um menino extrovertido, brincava com todo mundo”, disse.
Ele conta que não estava em casa no momento em que o filho foi atingido. Motorista, ele trabalhava na cidade sergipana de Aracaju e, ao receber a notícia, viajou imediatamente para Salvador.
“Saí desesperado de lá para cá. Quando cheguei em casa, 2h, recebi a notícia de quem tinham tirado a vida do meu filho. Isso é revoltante. Precisamos de polícia preparada e não despreparada”, falou.
José Carlos ainda fez um desabafo sobre a ação da polícia. “A rua só de gente de bem. Não tinha medo porque ele estava na porta de casa. Não é possível que uma criança não possa brincar na porta de casa? Que segurança nós temos nesse país? Nossos impostos, os que nós pagamos, para ter essa segurança? É segurança isso aí? Estamos em um país em que os pais estão enterrando os filhos e não ao contrário, como deveria ser”, lamentou.
Caso
Hebert Filipe foi baleado durante uma ação da Polícia Militar, enquanto brincava com os amigos na rua em que morava. Ele ainda foi ocorrido pelos PMs para o Hospital Geral de Camaçari, mas não resistiu aos ferimentos. Um vídeo mostra o momento em que ele chega à unidade de saúde carregados nos braços por um policial.
Segundo a Polícia Militar, quatro policiais estavam na guarnição envolvida na ação. Os agentes foram levados para a Corregedoria da PM, em Salvador, onde foram presos em flagrante, e levados para a Coordenadoria de Custódia Provisória da corporação, localizada no bairro da Mata Escura. Os policiais seguem à disposição da Justiça.
Quando foi atingido, Hebert brincava de esconde-esconde com outros dois colegas, também crianças, mas que conseguiram sair ilesos da ação.
Na mesma noite, sete adolescentes internos da Comunidade de Atendimento Socioeducativo (Case) Irmã Dulce, também em Camaçari, fugiram e os familiares de Hebert chegaram apontar que os tiros disparados ocorreram durante as buscas pelos adolescentes.
A Secretaria de Comunicação do Governo do Estado (Secom), no entanto, detalhou que os casos são distintos e não têm relação.
Segundo a Secom, por volta das 19h da quinta-feira, cinco adolescentes, fardados e desarmados, fugiram da unidade da Fundac de Camaçari, que fica na Rua Santo Antônio, no bairro KM 512, e as circunstâncias da fuga são investigadas.
Já no bairro Jardim Brasília, onde Hebert foi baleado, a pasta informou que houve uma troca de tiros entre policiais militares e membros de uma organização criminosa. A criança, que não era um dos adolescentes que evadiu da Fundac, deu entrada no hospital e foi a óbito. A Corregedoria da PM e a Polícia Civil investigam o caso.
Por meio de nota, a Polícia Militar lamentou a morte da criança e informou que a guarnição envolvida na ocorrência foi autuada em flagrante com base em indícios colhidos na Corregedoria da Polícia Militar, na manhã desta sexta-feira.
Um Inquérito Policial Militar (IPM) foi instaurado e foram ouvidas as testemunhas e familiares da vítima, assim como os policiais militares integrantes da guarnição envolvida no fato.
Fuga no Case
A assessoria da Fundac informou que os adolescentes que evadiram têm idades entre 16 e 19 anos. Esclareceu, ainda que a medida socioeducativa de internação é garantida aos adolescentes até 21 anos incompletos, de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
A Comunidade de Atendimento Socioeducativo Irmã Dulce foi inaugurada em 16 de dezembro de 2014. O local é um espaço do governo do estado para a execução de medidas socioeducativas de internação e acolhimento provisório, para adolescentes autores de atos infracionais.
Na manhã de sexta-feira, a Polícia Militar informou que seis internos do Case Camaçari foram recapturados. Entretanto, não há informações das circunstâncias, nem quando os adolescentes foram achados.
G1