Pelo menos dez brasileiros são capturados por Israel em flotilha humanitária rumo a Gaza. Mais de 170 ativistas já foram detidos

A ativista sueca Greta Thunberg e o ativista brasileiro Thiago Avila sentados em um navio a caminho de Israel, depois que as forças israelenses interceptaram algumas embarcações da Dez brasileiros e um argentino residente no Brasil estão entre os mais de 170 ativistas detidos por Israel durante uma operação militar de interceptação da flotilha humanitária que tentava furar o bloqueio à Faixa de Gaza. A ação, considerada ilegal por organizações internacionais, mobilizou familiares e ativistas em São Paulo, que exigem apoio do governo brasileiro e o rompimento de relações comerciais com Israel. A deputada Luizianne Lins (PT-CE) e o ativista Thiago Ávila estão entre os detidos.
A operação militar israelense contra a flotilha humanitária Global Sumud ocorreu em águas internacionais. Israel anunciou nesta quinta-feira, 2, que os ativistas capturados serão expulsos para países da Europa.
A flotilha, composta por 45 barcos e com a presença de figuras públicas e militantes como a sueca Greta Thunberg, partiu da Espanha em setembro, com o objetivo de romper o bloqueio imposto por Israel à Faixa de Gaza — território em guerra e, segundo a ONU, em situação de fome extrema. As embarcações que escaparam do cerco israelense tenta seguir viagem.
Em comunicado, os organizadores classificaram a ação como “um ataque ilegal contra civis desarmados” e pediram que governos, líderes mundiais e instituições internacionais pressionem por segurança e pela libertação de todos os ativistas a bordo.
O Ministério das Relações Exteriores de Israel informou que os militantes detidos serão deportados para países europeus. Segundo o próprio governo israelense, foram interceptados 13 barcos, com cerca de 200 pessoas. Entre os passageiros estava a ativista sueca Greta Thunberg, que foi filmada recolhendo seus pertences sob escolta de militares armados.
A flotilha reúne cerca de 500 pessoas de diversas nacionalidades, em uma ação que se define como pacífica e não violenta contra o genocídio em Gaza. Até as 20h30 de quarta-feira, ao menos 178 participantes haviam sido capturados pelas forças israelenses.
Operação ilegal em águas internacionais
A Anistia Internacional no Brasil classificou a interceptação como ilegal: “Nenhuma regra do direito internacional autoriza ataques a embarcações em livre navegação em águas internacionais. A missão da flotilha é pacífica, humanitária e legal”, afirmou em nota, cobrando dos governos garantias de passagem segura até Gaza.
O Brasil “lamenta a ação militar do governo israelense, que viola direitos e coloca em risco a integridade física de manifestantes pacíficos”, declarou o Ministério das Relações Exteriores em comunicado. O país informou que transmitiu “diretamente” a Israel suas preocupações sobre os 15 brasileiros que participam da flotilha, entre eles a deputada Luizianne Lins, segundo o chanceler Mauro Vieira.
Nos meses de junho e julho de 2025, a Marinha israelense já havia interceptado dois veleiros com ajuda humanitária a caminho de Gaza, que transportavam Greta Thunberg e a eurodeputada franco-palestina Rima Hassan, do partido França Insubmissa. Ambas foram desembarcadas em Israel e posteriormente expulsas.
Em sua segunda tentativa frustrada de levar ajuda humanitária ao enclave, a eurodeputada franco-palestina voltou a acusar Israel de prisões ilegais e arbitrárias. Ela transmitiu a aproximação da Marinha israelense ao vivo e jogou seu celular ao mar ao ver militares subindo em sua embarcação.
Celulares no mar
Imagens divulgadas por vários ativistas, pouco antes de jogarem seus celulares ao mar, mostram militantes com coletes salva-vidas e mãos erguidas enquanto soldados israelenses embarcam nos navios. A correspondente Frédérique Misslin, em Jerusalém, relatou que a Marinha usou canhões de água contra as embarcações. O barco onde estava Greta foi um dos primeiros a ser abordado. As autoridades israelenses garantem que ela e seus companheiros estão em segurança e com boa saúde.
Israel também divulgou um vídeo em que um oficial da Marinha alerta, por rádio, que os barcos estavam se aproximando de uma “zona bloqueada”, considerada área de combate, e exige que mudem de rota. Do outro lado, os ativistas gritavam “libertem a Palestina”. Não há registro de feridos.
Em comunicado na rede X (antigo Twitter), o Ministério das Relações Exteriores de Israel afirmou que os passageiros da flotilha Hamas-Sumud estavam sendo conduzidos pacificamente para Israel, onde serão iniciados os procedimentos de expulsão. Todos estariam em boas condições físicas.
Entre os brasileiros capturados, o ativista Thiago Ávila publicou um vídeo nas redes sociais pedindo apoio imediato:
“Se você está assistindo a este vídeo, significa que nossa missão humanitária em Gaza foi interceptada ou atacada por Israel. Cada minuto conta, cada segundo conta. Peçam ao meu governo que me leve para casa imediatamente e que leve todos os ativistas para suas casas.”
Já a Flotilha Global Sumud — cujo nome significa “resiliência” em árabe — informou, também pela rede X, que 30 embarcações continuam navegando rumo a Gaza, a cerca de 85 quilômetros da costa, apesar das agressões da Marinha israelense. “Eles estão determinados, motivados e fazendo tudo o que podem para romper o bloqueio ainda nesta manhã”, afirmou o porta-voz Saif Abukeshek.
O grupo islamista Hamas, que governa a Faixa de Gaza, classificou a ação israelense como “crime de pirataria e terrorismo marítimo contra civis”.
Vigília no Brasil
Em São Paulo, familiares e ativistas iniciaram uma vigília no Al Janiah, casa de shows fundada por refugiados palestinos, exigindo apoio do governo brasileiro e o rompimento das relações comerciais com Israel.
A reação internacional foi imediata. O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, anunciou a expulsão da delegação diplomática israelense. Na França, o ministro das Relações Exteriores, Jean-Noël Barrot, pediu que Israel garanta a segurança dos participantes. Na Itália, centenas de manifestantes protestaram em Roma e Nápoles, e sindicatos convocaram uma greve geral.
Entre os brasileiros capturados estão:
Ariadne Catarina Cardoso Teles
Magno De Carvalho Costa
Luizianne De Oliveira Lins
Gabrielle Da Silva Tolotti
Bruno Sperb Rocha
Mariana Conti Takahashi
Thiago de Ávila e Silva Oliveira
Lucas Farias Gusmão
Mohamad Sami El Kadri
Lisiane Proença Severo
Nicolas Calabrese (argentino com cidadania italiana, residente no Brasil)
Foto: via REUTERS – ISRAEL FOREIGN MINISTRY / RFI
Frédérique Misslin, correspondente da RFI em Jerusalém e Agência Brasil



