O superávit da Seguridade Social que vira déficit da Previdência. Pode?
Publicado em 27 de fevereiro de 2016O governo continua vendo as contas da Previdência como sempre foram vistas, antes de 1988, quando a Constituição incorporou a Previdência ao novo conceito de Seguridade Social. O objetivo é claro: colocar o país contra a Previdência, espalhar a infortunística e frustrar as esperanças de uma aposentadoria digna.
Com a Constituição de 1988 acabou-se com o Orçamento da Previdência que existiu de 1923 até 1988, incorporado ao Orçamento Fiscal e da Seguridade Social.
Neste orçamento, a receita da Seguridade Social passou a ser composta pela a Receita da Previdência Social com base na contribuição sobre a folha, que vigia desde 1923, mais as receitas da Contribuição sobre o Lucro Líquido-CSLL e a Contribuição para a Seguridade Social-COFINS. A receita dos impostos compõe o Orçamento Fiscal.
Em 2015, A Receita Federal arrecadou R$ 1,242 bilhões. A receita previdenciária bateu R$ 379,4 bilhões, 30,53%, a COFINS fechou com R$ 266,4 bilhões, 21,44%, a CSLL chegou a R$ 183,5 bilhões, 14,77%. A receita da Seguridade Social alcançou R$ 829,4 bilhões, 66,74% do total da receita. Tudo de fonte.
A lógica da contribuição sobre a folha consagra o pacto de gerações, em que os trabalhadores de hoje sustentam os de ontem e mantém o princípio de que a Previdência é contributiva e que não existe Previdência sem contribuição.
A Seguridade Social serviria para cobrir as despesas com Previdência Social, Assistência Social e Saúde.
Na verdade, a receita sobre a folha de salários não está cobrindo as despesas, mesmo porque os rurais contribuem com pouco ou quase nada. Menos de 2% da despesa. Além do que a Receita Previdenciária foi alvejada pela má gestão da Receita Federal e da Procuradoria Geral da Fazenda Nacional, pela renúncia e desoneração contributiva, pelos sucessivos Refis e os favorecimentos aos caloteiros.
As receitas da Seguridade Social, seguramente, cobrem de longe as despesas previstas. A Seguridade Social seria superavitária, mesmo com a voracidade da Desvinculação das Receitas da União DRU, de 20 ou 30%. O governo espuriamente usa os recursos da Seguridade/Previdência (contribuição sobre a folha) para fins não muito claros.
Mas o governo segue, de forma “ sabida”, desagregando as contas, e apresentando ao grande público a Receita Liquida, da folha de salários, menos a despesa com benefícios do Regime Geral de Previdência Social-RGPS, o que mostra que a Previdência tem um déficit ou um rombo preocupante.
Esse modelo de apresentar as contas da Previdência (com a folha não cobrindo a despesa) é uma iniquidade, mas serve aos interesses do dos phds, terceirizados, analistas, especialistas, fiscalistas, rentistas, mercado, bancos, governo e a oposição “venezuelana”. Não serve aos trabalhadores e a Previdência, como política de Estado.
Daí o monstruoso e impactante déficit, rombo, ou qualquer coisa que valha, para arrochar os benefícios previdenciários. Já se sinaliza que em 2016 seria de R$ 130 bilhões!
O governo patrocina o déficit e o rombo sem explicar qual a razão principal.
Dou cinco boas razões para explicar o déficit ou o rombo:
1) A expansão dos pagamentos dos benefícios rurais, apontados como previdenciários, quando não são. Para que fossem previdenciários, teriam que ter contrapartida de contribuição. Ora a receita rural é inferior a 2 por cento da despesa. Os urbanos financiam os rurais desde 1971, quando o Funrural foi criado, e contribuem para achatar o valor de seus benefícios na concessão inicial e na manutenção, enquanto estiverem vivos recebendo suas aposentadorias e pensões. Um pesadelo sem fim. O rombo dos rurais vem sendo pago pela COFINS, CSLL
2) Um bom numero de renúncias contributivas (da contribuição patronal) das filantrópicas e das exportações rurais e mais recentemente do Simples, SuperSimples e Mei – Micro Empreendedor Individual (com redução da contribuição patronal e do empregado). Mais recentemente, o ministro Nelson Barbosa, quando Secretario Executivo do Ministério da Fazenda “Social”, patrocinou a desoneração contributiva, usando a Previdência como instrumento da política fiscal! Deu no que deu!
3) A desastrada e estabanada incorporação da receita previdenciária pela Receita Federal e da divida ativa pela Procuradoria Geral da Fazenda Nacional; A Receita não fiscaliza as empresas, não combate a sonegação, a evasão, a elisão, os lapsos legais, não cobra os devedores (por via administrativa ou judicial), e não recupera créditos. A PGFN arrecada menos de 1% da divida. Uma catástrofe! Todo mundo sabe, que o sistema tributário só é eficiente na arrecadação na fonte e desastrosa na arrecadação declaratória. Dai a existência de R$ 1,387 bilhões em créditos, em quase 10 milhões de processos e 3,5 milhões de devedores na PGFN. Além do que os recursos da Previdência foram utilizados como instrumentos de política fiscal, nos parcelamentos e reparcelamentos das dívidas, beneficiando os caloteiros.
4) A Previdência, além disso, vem sendo recorrentemente sendo saqueada pelo Judiciário, que absolve os caloteiros e os fraudadores. Na redução da decadência de dez para cinco anos sumiram bilhões dos devedores caloteiros. Antes chegaram a existir juizados especiais na Justiça Federal para cobrança dos débitos previdenciários. Com a Receita Federal, isto acabou. Tudo foi para a vala comum. Além do que se pratica, a céu aberto, a judicialização dos feitos previdenciários, transformando a exceção em regra para beneficiar supostos contribuintes e gerar despesas sem contribuições.
5) O Congresso Nacional, Senado e Câmara, sistematicamente tem aprovado a criação de benefícios previdenciários sem a necessária contrapartida da contribuição.
A universalização e a inclusão previdenciária passam pelo respeito ao fundamento contributivo da Previdência. Como está sendo praticada é assistencialismo que deve ser feito em nome da Assistência Social.
Vice-Presidente Executivo da Associação Nacional dos Servidores da Previdência e da Seguridade Social-ANASPS.