Delator relata que fez ‘delivery’ de até R$ 200 mil por vez a políticos do PP

Publicado em 19 de julho de 2015

dinheiroO braço direito do doleiro Alberto Youssef, Rafael Ângulo, afirmou em acordo de delação premiada firmado na Operação Lava Jato que cada “delivery” de propina a políticos ligados ao Partido Progressista (PP) chegou a até R$ 200 mil.
O acordo de delação de Rafael Ângulo foi homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e ainda está sob sigilo. Os depoimentos do delator ajudaram a Polícia Federal (PF) a cumprir, na última terça-feira (14), 53 mandados de busca e apreensão na casa de políticos. Ângulo citou na delação nomes de diversos políticos com foro privilegiado, entre eles o senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL), para quem relatou ter entregue em mãos R$ 60 mil.
Aos investigadores, o entregador de Youssef contou que, no começo de 2008, passou a participar de almoços com políticos em razão do papel que iria exercer: o repasse da propina.
Segundo ele, a partir de então, começou a ver políticos no escritório do doleiro. Entre eles, estariam os ex-deputados do PP Pedro Corrêa (PE), Mário Negromonte (atual conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios da Bahia) e João Pizzolatti (SC), além do deputado federal Nelson Meurer (PP-PR). Os políticos negam envolvimento no esquema de corrupção (veja detalhes abaixo).
Conforme a investigação da Lava Jato, o dinheiro repassado a esses políticos foi desviado de contratos da Petrobras– o PP mantinha o comando de uma diretoria na estatal e dividia parte do dinheiro desviado entre parlamentares da legenda, segundo investigadores.

Dinheiro em meiões
Ângulo relatou na delação que carregava o dinheiro dos subornos preso ao corpo, geralmente em meiões de futebol, e que realizava entregas principalmente em apartamentos funcionais em Brasília, em endereços indicados pelos políticos nos estados e até em ambientes públicos, como estacionamentos e aeroportos.
A pedido de Youssef, enquanto trabalhava no escritório do doleiro, Ângulo separava o dinheiro em envelopes ou sacolas – valores de R$ 10 mil a R$ 300 mil. A quantidade que cada um pegava dependia da frequência, segundo o delator, que informou que quem ia mais frequentemente ao escritório pegava valores fracionados.
O entregador relatou que, a partir de 2009, passou a fazer viagens para entrega de dinheiro e que levou quantias em envelopes para Pedro Corrêa, Mário Negromonte, João Pizzolatti e Nelson Meurer. Os “deliveries” de propina, disse ele, oscilavam entre R$ 50 mil a R$ 200 mil.
Segundo Ângulo, às vezes a entrega era para funcionários dos políticos, em restaurantes, flats, hotéis, casas, e em ambientes públicos, como aeroportos e estacionamentos de supermercados. Em Brasília, disse ele, houve diversas entregas em apartamentos funcionais de deputados.
Rafael Ângulo também contou que muitas vezes não entregava a terceiros, mas tinha certeza quem era o destinatário porque outra de suas funções era “lançar” em tabela de controle o pagamento da propina.
Quando viajava para outro estado, também escondia o dinheiro ao corpo, e nunca carregava consigo o nome da pessoa destinatária, para evitar incriminar alguém caso fosse pego com o dinheiro. Ele, no entanto, destacou que nunca chegou a ser parado. O delator disse que, ao anotar os nomes, usava a abreviação “band”, já que Alberto Youssef se referia aos políticos como “bandido”: “Anota para tal bandido”.
Rafael Ângulo citou entregas na casa de Pizzolatti, no apartamento funcional de quando era deputado, e também afirmou ter levado dinheiro às mãos de Negromonte duas vezes, em valores superiores a R$ 100 mil em cada oportunidade. Lembrou ainda que, em uma das vezes, chegou a receber do então conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios da Bahia uma “caixinha” de R$ 500.
Segundo as apurações em andamento sobre a Lava Jato, Pizzolatti e Negromonte comandavam a distribuição de propina entre os demais políticos do PP.

O que dizem os políticos:

João Pizzollatti
O advogado Michel Saliba, que defende o ex-deputado João Pizzolatti, disse que o cliente nega veementemente qualquer entrega de dinheiro em espécie por parte de Rafael Ângulo ou de qualquer pessoa que represente esquema de corrupção.

Saliba disse que o cliente tinha conhecimento de caixa-dois de campanha realizado pelo então tesoureiro do PP José Janene nas eleições de 2010, e que, após a morte de Janene, Youssef efetuou pagamentos de pendências de campanha. Segundo a defesa, Pizzolatti admite que pode, sim, ter recebido depósito de dinheiro por conta de valores referentes à campanha eleitoral.

Nelson Meurer
O criminalista Michel Saliba, que também defende o deputado Nelson Meurer no processo da Lava Jato, disse que o cliente dele nega ter recebido dinheiro por parte de Rafael Ângulo ou de qualquer outra pessoa.
Pedro Corrêa
Saliba, que também defende o ex-deputado Pedro Corrêa, afirmou que o cliente recebeu dinheiro de Youssef porque tinha negócios com José Janene na área de agropecuária. Segundo ele, com a morte de Janene, Alberto Youssef assumiu o negócio. Por conta disso, Youssef repassava valores a Pedro Corrêa. “Pedro Corrêa afirma e vai provar que os valores são fruto dos negócios que ele tinha com José Janene e que ficaram sob comando de Alberto Youssef.”

Mário Negromonte
O advogado Carlos Fauaze, que defende Mário Negromonte na Lava Jato, disse que o cliente dele nega “peremptoriamente” qualquer envolvimento em esquema de corrupção.
Ainda segundo o criminalista Carlos Fauze, somente após ele concluir a análise dos depoimentos do braço direito de Youssef, é que ele irá comentar as acusações de Rafael Ângulo.
G1

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