Ricardo Boechat: jornalista ganhou três prêmios Esso e atuou em alguns dos principais veículos e canais do Brasil

Publicado em 12 de fevereiro de 2019

O jornalista e apresentador Ricardo Boechat, que morreu nesta segunda-feira (11) aos 66 anos após a queda de um helicóptero em São Paulo, ganhou três vezes o Prêmio Esso, um dos mais prestigiosos do jornalismo brasileiro, e atuou em alguns dos principais veículos e canais do país. Desde 2006, apresentava o Jornal da Band. Era âncora da BandNews FM e colunista da revista “Istoé”.
Ao longo de uma carreira iniciada na década de 1970, escreveu em jornais como “Diário de Notícias”, onde começou, “O Globo”, “Jornal do Brasil”, “O Estado de S. Paulo” e “O Dia”.
Na década de 1990, fez parte da primeira equipe do “Bom Dia Brasil”, na TV Globo, com uma coluna diária marcada pelo humor ácido e pela irreverência. Na emissora, também esteve no “Jornal da Globo”. Foi ainda diretor de jornalismo da Band e teve passagem pelo SBT.
Boechat era o recordista de vitórias no Prêmio Comunique-se, com 17 troféus, e o único a ganhar em três categorias diferentes (Âncora de Rádio, Colunista de Notícia e Âncora de TV). Em pesquisa do site Jornalistas & Cia em 2014, que listou cem profissionais do setor, Boechat foi eleito o jornalista mais admirado.
De acordo com o Portal dos Jornalistas, as vitórias no Prêmio Esso foram:
• categoria Reportagem, em 1989, pela Agência Estado, com Aluizio Maranhão, Suely Caldas e Luiz Guilhermino;
• categoria Informação Política, em 1992, por sua coluna em “O Globo”, com Rodrigo França;
• categoria Informação Econômica, em 2001, novamente por sua coluna em “O Globo”, com Chico Otávio e Bernardo de la Peña.
Em 1998, Boechat lançou ainda o livro “Copacabana Palace – Um hotel e sua história” (DBA) – aos 17 anos de idade, havia sido assessor de imprensa do hotel.

Começo com Ibrahim Sued
Filho do diplomata, Dalton Boechat, que foi assessor da Petrobras, Ricardo Eugênio Boechat nasceu em 13 de julho de 1952, em Buenos Aires, na Argentina.
Em entrevista ao Memória Globo em 2000, contou que começou a trabalhar assim que deixou a escola, na virada de 1969 para 1970, após um período de militância em que fez parte do quadro de base do Partido Comunista em Niterói (RJ). Entrou no jornalismo quase por acaso.
“Eu não tinha determinado, para mim mesmo, que iria entrar em jornalismo nem nada disso. Eu até achava que a minha vocação natural era um pouco para essa área humana, mas não tinha clareza do que queria”, admitiu. O pai de uma amiga, que era diretor comercial do “Diário de Notícias”, foi quem o chamou para trabalhar no veículo.
“Se me perguntar fazendo o quê, eu, nada, olhando, juntando um papel, às vezes até limpando a mesa, não que alguém me pedisse isso, não. (…) Note que eu mal batia à máquina, não tinha noção de rigorosamente nada. Tinha morado a vida inteira em Niterói. O Rio de Janeiro, para mim, era o exterior.” Um de seus primeiros textos foi uma nota exclusiva sobre Pelé, que lhe garantiu mais espaço no jornal.
Depois, Boechat passou a escrever na coluna de Ibrahim Sued (1924-1995), no mesmo “Diário de Notícias”. Sobre o início deste trabalho com Sued – que considerava “talvez tenha o maior fenômeno da imprensa brasileira de todos os tempos, como personagem, como figura” – afirmou:
“Agora, imagina, eu no Partidão [comunista] com as minhas ideologias à flor da pele, minhas utopias todas, espírito revolucionário… Ele [Nilo Dante, editor chefe do ‘Diário de Notícias’] manda procurar aquele ícone de jornalismo de direita. (…) Cheguei lá, encontrei o Ibrahim, que era, na época, o auge do Ibrahim, no início dos anos 1970”.
Boechat também comentou a importância da coluna:
“Era uma coluna de grande repercussão; era a coluna. (…) Era uma coluna que se prevalecia desta situação de visibilidade, de notoriedade do seu titular. Era uma coluna feita por uma equipe pequena, eram dois repórteres trabalhando e ele, muito idiossincrática. A notícia era, para ele, o que ele achava”.

‘Garimpeiro’ da notícia
Ele considerou o período de 14 anos em que trabalhou com Sued como “uma coisa decisiva para minha formação como repórter”. “Não foi o Diário de Notícias, a militância, os jornaizinhos, mimeógrafos para o Partidão ou para o MDB de Niterói que me deram nenhuma base como repórter; o Ibrahim é que fez.”
Nome já consagrado do jornalismo, Boechat foi perguntado na entrevista se já era repórter naqueles tempos em que escrevia na coluna de Sued. “Sou até hoje”, respondeu.
A influência do titular do espaço o marcou:
“Eu pude ter uma escola na qual a doutrina era procurar informações, e por trás de mim o primeiro e maior dos pitbulls que eu já conheci, que era ele, rosnando no meu ouvido 24 horas por dia. [Eu] Dormia tendo pesadelo, acordava tendo pesadelo que a notícia estava ruim, a imagem dele rasgando o noticiário, dizendo que era ruim, era diária. Então aquilo me fez – a custa de muita esofagite, úlcera, insônia e outras mazelas – aprender o pouco que eu sei hoje de apurar notícia, de correr atrás de notícias, de apresentar essa notícia para o leitor”.
A colaboração acabou em 1983, após uma briga com Sued. Boechat entrou, então, na equipe de “O Globo”, para fazer parte da coluna do “Swann”, que passou a chefiar em 1985.
Sobre os temas de suas notas, descreveu: “Meu negócio é esse garimpo. O conteúdo de notícias, se pode gostar ou não gostar da coluna, gostar ou não gostar daquele tópico, mas em nenhum tópico você encontrará algo que não seja uma notícia. Pretensamente em primeira mão, pretensamente correta. Isto era experiência que eu trazia do Ibrahim, forjada à chicote”.
Em 1986 e 1988, esteve na sucursal carioca do jornal “O Estado de S. Paulo”, com uma interrupção de seis meses em 1987, quando assumiu a Secretaria de Comunicação do Estado, no Rio de Janeiro, a convite de Moreira Franco, então governador.
Também passou rapidamente pelo “Jornal do Brasil”.
Finalmente, voltou para “O Globo”, na mesma “Coluna do Swann”, onde permaneceu, com breves interrupções, até 1997. No mesmo ano, ganhou uma coluna que passou a assinar com o próprio nome.

Momentos marcantes
Quando chegou ao “Bom Dia Brasil”, na década de 1990, dividiu bancada com Renato Machado e Neubarth. Em 2006, começou a ancorar o “Jornal da Band”.
Questionado sobre os momentos mais marcantes da carreira, Boechat reafirmou ao Memória Globo:
“Claro que, remotamente, a minha ida para o Ibrahim em 1971, por aí. Foi o fato mais decisivo na minha vida porque pegou um garoto que não tinha… que estava ali num ‘Diário de Notícias’, um jornal vivendo os últimos anos de sua curta existência e que fatalmente ficaria por ali mesmo. Não demonstrava nenhum talento especial para nada dentro de uma redação e cai na mão de um mito, um monstro sagrado do jornalismo, do colunismo, e que com a sorte de ser esse mito, esse monstro sagrado um homem com uma profunda sensibilidade para informação, para a notícia”.
Ele também destacou sua passagem por “O Globo” – “para uma coluna que registrou, em seu cotidiano, as consequências da minha chegada, pela mudança em seu conteúdo de maneira muito visível, muito rápida, o que fez com que o mercado e o próprio ‘Globo’ identificasse em mim alguém capaz de fazer aquele tipo de trabalho ali”.
Sobre a função de âncora de rádio, ele comentou, em entrevista veiculada no canal “Museu da Pelada” em janeiro de 2016:
“A rádio é um espaço onde você pode falar, o timing dela é diferente de televisão, e obviamente muito mais popular que a mídia impressa, que o jornal, uma coisa que é o meio de comunicação mais ancestral do homem, a voz, a fala. Ali, as pessoas reagem intimamente. Você vai se tornando íntimo daquele cotidiano e eles também”.
Ricardo Boechat era casado com Veruska Seibel e tinha seis filhos.
O piloto de helicóptero Ronaldo Quattrucci também morreu no acidente desta segunda.
G1

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