Caso Marielle: delegado Rivaldo confirma ida a dentista que atendia milicianos na região comandada pelos Irmãos Brazão

Publicado em 25 de junho de 2024

O delegado Rivaldo Barbosa, preso pelo assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes, confirmou em depoimento à Polícia Federal que frequentava um dentista que atendia milicianos de Rio das Pedras, no Rio de Janeiro.
A informação foi revelada pelo comentarista Octávio Guedes no Estúdio i. À PF, Rivaldo afirmou ter ido ao profissional por indicação da delegada Patrícia Aguiar, madrasta de Kaio Brazão, enteado de Domingos Brazão.
Patrícia Aguiar é namorada de Anselmo Paiva, pai de Kaio Kroff Paiva. A mãe de Kaio, Alice, é casada com Domingos Brazão.
De acordo com relatório da Polícia Federal, o dentista de Rio das Pedras atendia também os milicianos Adriano da Nóbrega, Maurição e Marcus Vinícius, conhecido como Fininho. O último é apontado pelo delator Ronnie Lessa como um dos responsáveis por ter fornecido a arma do crime.
Segundo ao depoimento, ao qual o blog teve acesso, Rivaldo diz ter sido apresentado ao dentista por Patrícia durante um almoço. Ele afirma ter sido atendido pelo profissional para fazer tratamento de limpeza e obturação, na Estrada de Jacarepaguá, no máximo quatro vezes. Ele negou ter se encontrado com Adriano da Nóbrega no local.
Em uma publicação em rede social, a delegada Patrícia Aguiar disse ter indicado um profissional em 2015, para um atendimento emergencial. “Diante da necessidade de um tratamento emergencial, indiquei a ele que procurasse minha amiga de infância (a quem conheço desde os 7 anos de idade) que é uma dentista de minha confiança, respeitada, competente, e que possui consultório em Rio das Pedras”, escreveu. O dentista, ouvido pela PF, relatou que viu Rivaldo no período de um ano, sendo a última consulta em 2017.
Ela afirma ainda que não via problema indicar um profissional naquela região, “ainda mais sendo minha amiga”.
Patrícia declarou ainda que na época não conhecia Anselmo Paiva, a quem só teria sido apresentada no final de julho e nega ter contato com os Brazão. “Só fui apresentada [a Kaio] mais de um ano depois, no final de 2016, e cujos filhos conheci já adultos (portanto, não sendo madrasta de ninguém)”, alegou.
Ao ser questionado porque optou por ir a um dentista em Rio das Pedras para fazer uma limpeza, Rivaldo disse que “precisava ser um dentista indicado”. A região é uma área de milícia, dominada pelos irmãos Brazão.
“[Sobre] a relação de Rivaldo com os Brazão, foram encontrados pontos de contato entre ambos e intermediários. Foi corroborada a história da ida de Rivaldo a Rio das Pedras com a justificativa de ir ao dentista cuja carta de clientes abrange todos os milicianos da área”, assinala a PF em um relatório.
Para a corporação, o fato de “um delegado de tal estirpe” frequentar Rio das Pedras sem ser incomodado “já chama a atenção”. “O período no qual Rivaldo se consultou no local, bem como o breve espaço de tempo sendo atendido pelo profissional denota a verossimilhança dos encontros programados com milicianos no consultório.”
A partir dessas declarações de Rivaldo, a Polícia Federal ouviu, também, o dentista João Marcos Ururahy, que confirmou quatro idas de Rivaldo ao consultório ao longo de 2017. A constatação, para a PF, é “no mínimo suspeita” da relação entre o delegado e a família Brazão.
“Sendo assim, mediante a frequência em tal ambiente em período compatível com a ideação dos atos homicidas, conforme explicitado por Ronnie Lessa em sede de colaboração, se mostra no mínimo suspeito, ante a interação dos milicianos responsáveis pela área com a Família Brazão, notadamente aquele de alcunha Fininho”, assevera.

O elo
A delegada Patrícia de Paiva Aguiar, madrasta de Kaio Brazão que apresentou o dentista a Rivaldo, integrou a Delegacia de Homicídios e foi sua adjunta quando ele chefiava a unidade. Em relatório, a PF indica ter identificado atuação de Patrícia sentido de divulgar notícias falsas sobre as investigações para auxiliar os investigados. Segundo a corporação, Patrícia municiou influencers com informações inverídicas.

Reuniões de planejamento nas ruas
Chiquinho e Domingos Brazão, suspeitos de serem mandantes do assassinato da vereadora e do motorista, teriam se encontrado a cerca de 800 metros de distância da casa do conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, Domingos Brazão. A informação foi divulgada em março pelo blog do Octavio Guedes.
Já na ocasião, a Polícia Federal trabalhava para investigar a hipótese de que Rivaldo tivesse marcado encontros com Adriano da Nóbrega na ante-sala do dentista.

Nota publicada pela Patrícia Aguiar
Tendo em vista matéria amplamente divulgada na imprensa associando meu nome às investigações relacionadas ao delegado Rivaldo Barvosa, venho esclarecer que, em 2015, quando era lotada na Delegacia de Homicídios da Capital, durante uma reunião de trabalho, o então Diretor da DH e meu querido amigo Rivaldo Barbosa relatou-me que estava com forte dor de dente e que seu dentista estava afastado do trabalho, devido a uma grave doença.
Diante da necessidade de um tratamento emergencial, indiquei a ele que procurasse minha amiga de infância (a quem conheço desde os 7 anos de idade) que é uma dentista de minha confiança, respeitada, competente, e que possui consultório em Rio das Pedras. Importante destacar que não possuo qualquer tipo de preconceito com a localidade referida, portanto, não via problema indicar um profissional naquela região, ainda mais sendo minha amiga.
Até porque, naquela época, era comum moradores dos bairros do entorno frequentarem o comércio local e viaturas policiais circularem tranquilamente pelo local. Importante esclarecer ainda que, na época, eu não conhecia meu atual namorado, Anselmo Paiva (não sou casada como divulgado), a quem só fui apresentada mais de um ano depois, no final de 2016, e cujos filhos conheci já adultos (portanto, não sendo madrasta de ninguém) e aos quais vejo quando em contato deles com o pai biológico. Não tenho e nunca tive convívio com os irmãos Brazão. Não tenho acesso a qualquer informação ou investigação da DH desde o início de 2016, quando saí da referida delegacia, e, também, nunca divulguei fatos inverídicos acerca de qualquer investigação, por nenhum meio de comunicação ou pessoalmente.
Todas as informações que conheço sobre o caso obtive através de reportagens publicadas na imprensa e leitura do livro publicado sobre a investigação. Por fim, informo que, apesar do meu nome ter sido amplamente divulgado, não fui procurada por nenhum veículo de comunicação para comentar o caso e me ponho à disposição da Polícia Federal para esclarecer todos os fatos na certeza de que a verdade prevalecerá.

Foto: Fábio Motta/Estadão Conteúdo
G1

Banner Add

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Wordpress Social Share Plugin powered by Ultimatelysocial