A caneta do presidente não pode desmoralizar a nação

Publicado em 2 de maio de 2020

Sérgio Moro era um dos principais ministros, que veio dar segurança às pilastras do governo. Não aguentou o tranco da cavalgadura e pediu para sair da forma honrosa como entrou.
Nem nos governos do PT se viu tamanha tentativa de interferência governamental na gestão de um ministro da Justiça para beneficiar interesses não republicanos.
Mas, afinal, quais os motivos plausíveis para fazer mudanças na Polícia Federal senão os de interesses não republicanos como os fatos denunciaram? E os fatos estão comprovados com a decisão do ministro do STF, Alexandre de Moraes, que determinou a suspensão da nomeação de Alexandre Ramagem como diretor-geral da Polícia Federal, por infringir princípios constitucionais.
Ora, não se discute que é da essência do cargo de presidente da República indicar e substituir os seus subordinados. Mas há de haver decência, respeito e justificativa racional para operar mudanças.
As pessoas não podem ser tratadas com descasos e só se servirem delas quando lhes convém. Não foi Moro que pediu para fazer parte do governo. Ademais, abrir mão de uma carreira jurídica sólida para ajudar o país com o seu conhecimento é ato de nobreza de poucos e que falta ao presidente Jair Bolsonaro, acostumado a viver, ele e família, das benesses públicas.
Não resta dúvida de que o presidente agiu de forma pérfida, maquiavélica, ao descumprir a palavra empenhada de carta branca ao ex-ministro de poder indicar os seus assessores. Ou o famigerado “fio de bigode” – da época em que a palavra dada servia como nota promissória, como compromisso – não tem mais nenhum valor?
A verdade é que o presidente Bolsonaro não gosta de ser ofuscado por nenhum subordinado. Quando o ex-ministro Henrique Mandetta começou a se sobressair nas pesquisas, a sua defenestração já estava preparada. E a contínua ascensão de Moro era uma pedra na vitrine política de Bolsonaro, que o incomodava.
Trata-se (Bolsonaro) de uma pessoa psicológica e emocionalmente afetada, que Freud explica muito bem. Bolsonaro queria comandar o ministério da Justiça e a Polícia Federal para impedir que os podres de seus filhos fossem investigados (fake news e rachadinha na Alerj), inclusive querendo interferir no STF: muito audacioso!
Bolsonaro deu um tiro em seu próprio pé ao se incompatibilizar com Moro, figura de grande projeção no cenário nacional e de percentual de aceitação muito superior ao presidente, o que significa dizer que as pretensões de Bolsonaro à reeleição foram para o brejo. E se o presidente achava que não tinha adversário à altura para derrotá-lo, deu com os burros n’água, pois se Moro for candidato ao Planalto, a sorte de Bolsonaro já está selada.

Júlio César Cardoso
Servidor federal aposentado
Balneário Camboriú-SC

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