Advogado e Beltrame elogiam condenação de PMs do caso Amarildo

Publicado em 1 de fevereiro de 2016

sumiuNo dia seguinte à reportagem exclusiva do Fantástico sobre a sentença do Tribunal de Justiça do Rio que condenou o comandante da UPP Rocinha e outros sete policiais pela tortura, morte e desaparecimento do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, o advogado da família, João Tancredo, comemorou a decisão. Mais importante do que o tempo da condenação, segundo ele, é o fato de ela ter sido confirmada.

“O maior legado desse caso é que a gente perceba que o Estado reconheceu que a Polícia Militar foi responsável pelo desaparecimento e morte do Amarildo”, afirmou o advogado ao G1.

Em entrevista à Rádio CBN, o secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, afirmou que “a justiça foi feita”. “Hoje,a gente fica pensando quantos Amarildos não existiram, quantos casos não foram apurados”, disse Beltrame.

A juíza do caso Amarildo, Daniela Alvarez Prado, afirmou em sua sentença que o episódio que aconteceu em julho de 2013 foi marcado pela “covardia, a ilegalidade, o desvio de finalidade e abuso de poder exercidos pelos réus”.

Ainda em seu texto, a juíza comenta sobre o despreparo dos policiais “que estariam nas UPPs justamente para a pacificação”. Ela afirma que “tudo demonstra que Amarildo foi torturado até a morte”.

A defesa do major Edson Santos, comandante da UPP da Rocinha entre 2012 e a explosão do caso, afirmou que ainda não teve acesso à sentença e por isso não iria se manifestar por enquanto. “Caso se confirme, haverá apelação”, afirmou Saulo Salles, advogado do oficial.

Anos de prisão
Vinte e cinco PMs foram denunciados. Pelo menos oito estão condenados. Por ser um superior, que deveria dar exemplo, o major Edson Santos, que era comandante da UPP Rocinha na época, recebeu a maior pena: 13 anos e sete meses de prisão.

O tenente Luiz Felipe de Medeiros, então subcomandante de UPP, foi condenado a 10 anos e sete meses. De acordo com a sentença, ele orquestrou o crime junto com o major Edson.
O soldado Douglas Roberto Vital Machado pegou 11 anos e seis meses de prisão por ter atuado desde a captura de Amarildo até a morte dele.

Os soldados Marlon Campos Reis, Jorge Luiz Gonçalves Coelho, Jairo da Conceição Ribas, Wellington Tavares da Silva e Fábio Brasil da Rocha da Graça foram condenados a 10 anos e quatro meses de prisão. Todos serão expulsos da corporação.

De acordo com as investigações, quando Amarildo foi levado até a sede da UPP, policiais que não participavam da ação foram levados a entrar nos contêineres e proibidos de sair dele.

Um PM que estava lá contou em depoimento que Amarildo chegou a implorar. “Não, não. Isso não. Me mata, mas não faz isso comigo”, teria dito. Depois da tortura, o major Edson ordenou que os policiais que estavam nos contêineres fossem embora. “Vai todo mundo embora, não quero ninguém aqui.”

Para a juiza, é evidente que o major não queria testemunhas no local. Quanto menos policiais permanecessem na sede, maiores as chances de encobrir o ocorrido, ela diz.
Uma pergunta, no entanto, segue em aberto: o que foi feito com o corpo de Amarildo? Uma outra investigação segue em andamento e policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) são suspeitos de terem retirado o corpo dele da Rocinha dentro de uma viatura da corporação.

Relembre o caso
Amarildo sumiu após ser levado por policiais militares para ser interrogado na sede da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) durante a “Operação Paz Armada”, de combate ao tráfico na comunidade, entre os dias 13 e 14 de julho de 2013.

Na UPP, teria passado por uma averiguação. Após esse processo, segundo a versão dos PMs que estavam com Amarildo, eles ainda passaram por vários pontos da cidade do Rio antes de voltar à sede da Unidade de Polícia Pacificadora, onde as câmeras de segurança mostram as últimas imagens de Amarildo, que, segundo os policiais, teria deixado o local sozinho — fato não registrado pelas câmeras.

Após depoimentos, foram identificados quatro policiais militares que participaram ativamente da sessão de tortura a que Amarildo teria sido submetido ao lado do contêiner da UPP da Rocinha. Segundo informou o Ministério Público, testemunhas contaram à polícia sobre a participação desses PMs no crime. Após seis meses de buscas pelo corpo do pedreiro, a Justiça decretou a morte presumida de Amarildo.

De acordo com a promotora Carmem Elisa Bastos, do Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado (Gaeco), o tenente Luiz Medeiros, o sargento Reinaldo Gonçalves e os soldados Anderson Maia e Douglas Roberto Vital torturaram Amarildo depois que ele foi levado para uma “averiguação” na base da UPP. Ainda segundo eles, outros PMs são suspeitos de participar ativamente da ação.

Enquanto, segundo a promotora, o ajudante de pedreiro era torturado por quatro policiais, outros 12 ficaram do lado de fora, de vigia. Oito PMs que estavam dentro dos contêineres que servem de base à UPP foram considerados omissos porque não fizeram nada para impedir a violência.

Outros cinco policiais que decidiram colaborar com as investigações disseram que o major Edson, então comandante da UPP, estava num dos contêineres, que não tem isolamento acústico, e podia ouvir tudo.
G1

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