Após arrastões no Rio, grupos na internet articulam ações de vingança

Publicado em 22 de setembro de 2015

vingancaDepois do fim de semana de arrastões nas praias e ruas da Zona Sul do Rio, algumas pessoas tentam promover, nas redes sociais, a formação de grupos de “justiceiros” e prometem reações de vingança no próximo fim de semana. O secretário de Estado Segurança, José Mariano Beltrame, disse termer ações de linchamento na cidade.
Conforme mostrou o RJTV, grupos estão combinando uma reação para domingo que vem. Convocaram a levar tacos de beisebol, soco inglês, cassetete e armas de choque para o que chamam de “limpeza da zona sul”. Mas na própria página receberam críticas. Uma pessoa disse que “as pessoas querem combater bandidagem se tornando bandidos”.

População insegura
Os arrastões desse fim de semana deixaram uma sensação constante de insegurança na Zona Sul. “Estou horrorizado”, afirmou o analista de sistemas Rafael Borges, que foi agredido após perseguir um adolescente que o roubou na areia.
Lenise e a família de Manaus resolveram deixar a praia mais cedo nesta segunda-feira (21) depois de um aviso da polícia. “Passou uma dupla de policiais na areia alertando para tomar cuidado com relógio, celular, porque estava perigoso aqui”, contou a turista.
A Polícia Militar esteve em grande número na orla. A pé, em quadriciclos e helicóptero, mas não conseguiu conter os assaltos. As cenas de roubos se repetiram à exaustão na orla e em ruas de Copacabana, Ipanema, Arpoador, Botafogo e Humaitá.

PM cobra apoio na prevenção
De acordo com o coronel Cláudio Lima Freire, chefe do Estado-Maior Operacional da Polícia Militar do Rio de Janeiro, a corporação não vai conseguir coibir sozinha que estes arrastões se repitam na cidade. Ele destacou que os policiais estão cumprindo uma decisão da Justiça de que a PM só pode apreender menores em flagrante e que não cabe mais a ela dizer se uma criança ou adolescente está ou não em situação de vulnerabilidade.
“Não é a Polícia Militar que vai dar conta do recado sozinho nesta operação praia, os outros órgãos que estão elencados na decisão judicial eles têm que estar presentes. Polícia Militar, Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, Guarda Municipal, Secretaria Municipal de Ordem Pública e Polícia Civil. São os órgãos que foram elencados na sentença do juiz com cada grau de responsabilidade que cada um deveria fazer no evento praia”, destacou o coronel.

Determinação da Justiça
A decisão judicial a que se refere o chefe do Estado-Maior Operacional da PM aconteceu há dez dias, depois de uma ação movida pela Defensoria Pública. Na sentença, o juiz Pedro Henrique Alves deixou claro “que a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro não realiza apreensão de adolescentes, exceto na hipótese de flagrante”.
Antes da determinação, a PM estava realizando blitz nas quais os PMs retiravam de ônibus que seguiam para as praias jovens considerados suspeitos.
“Essa decisão só reforça o que está na legislação, dizendo que não pode haver apreensão de adolescente salvo em flagrante de ato infracional ou por ordem da autoridade judicial competente. Essa decisão não cria, de forma alguma, impedimento pela atuação policial. Ela reforça o que está na lei”, esclareceu a defensora pública Eufrásia Souza Das Virgens.

TJ ratifica necessidade do flagrante
O presidente do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, desembargador Luiz Fernando Ribeiro, também enfatizou que a decisão judicial apenas reforça o que está na lei e destacou que os policiais não têm como adivinhar quais jovens podem vir a cometer crimes.
“A decisão da Vara da Infância foi uma decisão absolutamente correta. Não se pode supor que alguém, um grupo de adolescentes, só porque se está num ônibus, estaria se dirigindo para cometer estes arrastões. Não pode haver esta adivinhação, esta suposição do arrastão”, disse o magistrado, que ressaltou “não é por um exercício de adivinhação que se pode privar os adolescentes do direito à liberdade”.

MP diz que identificar vulnerabilidade é ‘questão de bom senso’
Para o Ministério Público, o conceito de vulnerável é uma questão de “bom senso”. “O fato de você estar dentro de um ônibus indo para praia não sigifica que você está vulnerável, que você está em risco, em situação de vulnerabilidade. Então, é tudo uma questão de bom senso. O que a polícia pode e deve é fazer uma revista pessoal nas pessoas, no caso de encontrar arma ou qualquer coisa assim já encaminha [o suspeito] para as delegacias e havendo assim uma atitude suspeita dessas pessoas é ficar monitorando, é exercer o policiamento ostensivo”, ponderou o promotor de Justiça, coordenador de Infância e Juventude, Marcos Fagundes.

Secretário teme linchamentos
O secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, disse que os pais dos menores infratores precisam ser responsabilizados. Ele declarou que as polícias vão agir na prevenção aos arrastões e destacou ter grande preocupação quanto as ameaças de grupos que querem fazer justiça com as próprias mãos.
“Nós vamos agir porque eu temo que haja problema de linchamento se isto continuar deste jeito. Eu estou trabalhando com esta possibilidade. Que ao invés de nós termos um problema, nós estamos sujeitos a ter dois. O que nós queremos é tentar antecipar os fatos. Isto é que nos foi engessado de fazer. Só que agora, nós vamos mais uma vez trazer estas pessoas para o processo e vamos estabelecer estas atitudes com medo de que pessoas façam justiça com as próprias mãos”, declarou Beltrame, ressaltando que a polícia “foi tolhida em sua missão de prevenção.
G1

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