Após saber que bebê enterrado há 14 anos não era filho morto, mulher tenta descobrir onde está o menino

Publicado em 7 de março de 2018

cancioQuatro anos depois de levantar evidências de que teve o bebê trocado na Santa Casa de Franca (SP), a sapateira Ana Paula Câncio, de 31 anos, ainda tenta na Justiça descobrir o paradeiro do filho, dado como morto dias após o parto há 14 anos.
O caso é alvo de um processo que tramita na 5ª Vara Cível do município desde 2010 e resultou na realização de dois exames de DNA que confirmaram a alegação da mãe, mas o caso segue sem decisão definitiva.
Segundo a mãe, o hospital tenta arquivar o processo e pediu um novo teste de compatibilidade genética.
Apesar do tempo e da indefinição, ela não esconde as esperanças de um dia voltar a ver o filho. A expectativa dela é que o menino, chamado Jhonathan Câncio da Silva, tenha sido criado por uma família da cidade e hoje seja um adolescente saudável.
“Ele tem 14 anos. Pra pegar de volta vai ser difícil, mas eu tenho que saber, não posso esquecer o caso.”
Em nota, a direção da Santa Casa não deu informações, sob a justificativa de que o caso corre em segredo de Justiça.

Filho trocado
Ana Paula Câncio deu à luz um menino prematuro com sete meses em 11 de outubro de 2004. Oito dias depois de o bebê ser encaminhado para reabilitação, a Santa Casa informou que o recém-nascido havia morrido. A certidão de óbito de 19 de outubro de 2004 registrou falência múltipla dos órgãos, septicemia, pneumotórax e prematuridade.
Ela garante que, uma hora e meia depois de ver a criança, e deixar o hospital para voltar para casa, recebeu a notícia de que seu filho havia morrido.
“Eles me ligaram às sete e meia da noite pra me avisar que ele tinha falecido. Eu tinha acabado de sair de lá. Às seis da tarde ele estava bem. Foi um baque pra mim, porque o médico falou que ele estava bem”, diz.
A avó da criança, que foi reconhecer o corpo no Instituto Médico Legal (IML) no lugar da mãe, desconfiou da aparência do bebê. Sua insistência fez com que a família ajuizasse uma ação civil por investigação de maternidade em 2010.
“Eles têm que procurar a criança, saber onde está, se ele está bem, se está sendo bem cuidado, porque eles erraram, eles têm que consertar.”
O processo resultou na exumação do corpo que seria de Jhonathan e na realização de um exame de DNA, dois anos depois, a pedido da Justiça. Os testes com material genético realizados pelo Laboratório de Investigação de Paternidade da Unesp de Araraquara confirmaram que Ana Paula não é mãe do bebê que morreu.
“As amostras analisadas não compartilham os mesmos polimorfismos do mtDNA [código genético contido na estrutura celular conhecida como mitocôndria] e não pertencem ao mesmo haplogrupo [conjunto que concentra formas alternativas dos mesmos genes]. Estas evidências científicas sugerem exclusão de maternidade”, comunicou o centro de estudos.
Ana Paula afirma que a Santa Casa alegou problemas no primeiro teste, supostamente prejudicado pela mistura de outro cadáver, e solicitou um novo. O exame foi realizado em 2016 e apresentou o mesmo resultado do anterior, de acordo com ela.
Um terceiro teste foi solicitado pelo hospital, de acordo com Ana Paula, mas ainda não foi realizado.
“Os dois que fizeram foram negativos. Agora, a Santa Casa está pedindo um terceiro e alegou que o material era muito velho e não está dando para fazer.”
A sapateira afirma que, no decorrer dos anos, a Santa Casa nunca a ajudou a esclarecer o caso. “A gente vai lá, não falam nada. Falam que está em segredo de justiça.”
Ela garante, por outro lado, que chegou a ouvir de uma enfermeira que levantou a suspeita de que as crianças tinham sido trocadas em outubro de 2004. “Nessa data não tinha nenhuma mãe que perdeu bebê. A única mãe que perdeu bebê nessa data foi do Jardim Tropical.”
G1

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