Batismo e missão de Jesus e nossa

Publicado em 24 de janeiro de 2016

A Sagrada Liturgia nos põe hoje, por assim dizer, ante a apresentação oficial de Jesus ao público, para dar inicio ao seu tradicionalmente chamado “ministério público”.
O salto que a liturgia dá neste domingo com a festa do Batismo do Senhor é muito grande, ainda que digamos que não se fechou o breve ciclo do Natal, deixamos o Jesus-menino e passamos ao Jesus-adulto. Regressamos pela mão da Liturgia, ao Tempo Comum, o tempo da vida pública de Jesus.
Não é fácil para ninguém esta mudança de criança a adulto. Supõe o Menino deixar de lado as seguranças e lançar-se à aventura da confiança no Pai e da missão encomendada. Isto é o que ocorreu a Jesus quando recebeu o batismo das mãos de João. A cena é o relato evangélico que rompe o silêncio de quase trinta anos de Nazaré. Silêncio que se faz eloquente palavra profética, cheia de vida.
Pouco se nos narra os evangelhos dos momentos anteriores ao Batismo do Senhor, mas o certo é que, o Batismo de Jesus, marcou um antes e um depois, foi uma etapa decisiva na manifestação de Jesus Cristo ao mundo como Deus: uma espécie de segunda Epifania. O que se diz frequentemente é que o batismo é uma “teofania”, a manifestação da divindade de Jesus e ao mesmo tempo a manifestação da verdadeira humanidade do Filho de Deus.
Os anos de silêncio e de vida oculta em Nazaré transformaram Jesus em um homem entre outros homens. Ele apresenta-se como uma pessoa qualquer, confundido na multidão, nada o distingue daqueles que têm necessidade de se purificar, entra na fila dos pecadores que acorrem para receber o batismo de purificação, oferecido pela última expressão do profetismo antigo. João Batista também como o povo da “espera messiânica” está na expectativa d’Aquele que deve vir e que já está presente.
O batismo conclui uma etapa da vida de Jesus e inaugura a nova fase. Ele inicia a sua vida pública, o Pai o apresenta ao mundo, como o esperado Messias que fala e age com autoridade em seu nome, mas, sobretudo Ele é o ícone perfeito do Pai, veio revelar-nos o seu rosto. O amor misericordioso de Deus vai tornar-se visível no rosto de Jesus.
O Batismo de Jesus é a sua primeira manifestação como Deus. A sua primeira “teofania” se dá às margens do rio Jordão. A tradição evangélica dá grande relevância ao fato de que Jesus tenha sido batizado por João.Todos os evangelhos se referem a este episódio, isto reflete uma preocupação típica das primeiras comunidades cristãs de como explicar o motivo do batismo de Jesus.
Por que Jesus pediu para ser batizado? O gesto de Jesus tem um sentido muito profundo: Ele quer compartilhar plenamente as esperanças e expectativas da humanidade. O Senhor mergulhou profundamente em nossa humanidade, e nos deu a vida pegando em troca a nossa morte. Ele nos ama e quer unir-se a nós. Dado que não podemos subir até Ele, Ele desceu do céu. Não é a humanidade que vai a Ele, mas Ele que vai até ela, seguindo a lógica da encarnação. A ideia central da Epifania é que Deus primeiro veio ao encontro do homem, mas o homem deve ir ao encontro de Deus através da fé.
A cena do Batismo é uma variação desse mistério: Ele se fez homem, solidário conosco em tudo, para nos tornarmos Deus, solidários em tudo com Ele. Ele, sem pecado, tomou sobre os seus ombros o peso da culpa de toda a humanidade, tomou sobre si todo o pecado do mundo; Ele quis, desde o início da sua vida pública, colocar-se ao lado dos pecadores, se fez um deles, aceitou a condição deles. Através da imersão de Cristo nas águas do Jordão, Ele levou o pecado pelo Jordão abaixo. E se reabre os céus depois de estarem fechados tanto tempo por causa do pecado.
A narração do Batismo de Jesus segundo São Lucas (cf. Lc 3,15-16.21-22), reveste-se de traços característicos desse evangelista: “Quando todo o povo estava sendo batizado, Jesus também recebeu o batismo. E, enquanto rezava o céu se abriu e o Espírito Santo desceu sobre Jesus em forma visível, como pomba. E do céu veio uma voz: ‘Tu és o meu Filho, eu hoje te gerei!’”
Enquanto é batizado Jesus reza, a oração de Jesus é sinal da comunhão perfeita entre o Filho e o Pai, Ele não está sozinho.
O céu se abriu, sinal de algo mais profundo. Pela Paixão de nosso Senhor Jesus Cristo foram abertas para a humanidade as portas do céu, que permaneciam fechadas desde a expulsão de Adão e Eva do Paraíso terrestre por causa do pecado.
O Espírito rasga os céus, a voz do Pai faz-se ouvir declarando seu amor de predileção que em Jesus abraça a humanidade inteira. Depois de um longo período de silêncio, Deus falou de novo à humanidade e o fez proclamando Jesus como seu Filho amado. Com a chegada de Jesus se restabeleceu a comunicação entre Deus e a humanidade. Deus manifestou ao mundo sua última vontade e o Espírito Santo encontrou em Jesus um lugar para se aninhar.
No batismo de Jesus se realizou surpreendentemente aquilo que João havia profetizado: “Eu batizo com água, mas vem aquele que é mais forte do que eu… Ele vos batizará com o Espírito Santo e com o fogo”. O que batizaria com o Espírito Santo foi agraciado com a descida do Espírito. Jesus foi constituído profeta ao mesmo tempo em que se revelava sua filiação divina e sua missão de serviço solidário aos pecadores.
Na festa do Batismo do Senhor, façamos o esforço de recordar e atualizar o significado de nosso Batismo. Já que, certamente, não temos muitas imagens dele em nossa memória, porque a maioria de nós, nos batizamos ainda muito pequenos. O que podemos fazer é recordar-nos o que significa estar batizados. E o fazemos fixando-nos no que significou o Batismo para Jesus.
Com este sacramento nos tornamos realmente filhos e filhas de Deus. Desde então, o fim da nossa existência consiste em nos tornarmos aquilo que somos pela graça de Deus, verdadeiros filhos e filhas de Deus. Gerados pelo Batismo para a vida nova, também começamos nosso caminho de crescimento na fé que nos levará a invocar conscientemente Deus como “Abbá” – Pai, a dirigir-nos a Ele com gratidão e a viver a alegria dessa filiação.
Somos conscientes da graça recebida, de nossa consagração como sacerdotes, profetas e reis? Nossa missão é ser fieis à graça recebida, não trair o amor de Deus-Pai. Nossa missão é aspirar a santidade, a sermos misericordiosos como o Pai (cf. Lc 6,36). Somos um povo de sacerdotes, lutando por um mundo onde reine a justiça, nossa missão profética, é servir aos mais necessitados com os dons recebidos, como ungidos, como reis-pastores.
Renovemos hoje nosso compromisso batismal e coloquemos no centro de nossa vida aquilo que é essencial: a presença de Deus e do irmão.

Padre José Assis Pereira

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