Bolsonaro menosprezou CoronaVac várias vezes e zombou da vacina, mas agora depende dela. “É do Brasil”, diz ele

Publicado em 18 de janeiro de 2021

O interesse urgente do Ministério da Saúde pelos estoques da vacina CoronaVac foi uma mudança radical de posicionamento em relação a tudo o que o presidente Jair Bolsonaro disse sobre ela nos últimos três meses.
Em várias ocasiões, o presidente Bolsonaro menosprezou a vacina CoronaVac. Em 20 de outubro do ano passado, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, anunciou o protocolo de intenções de compra de 46 milhões de doses da CoronaVac, em uma reunião por videoconferência com governadores.
Decisão que não durou 24 horas. No dia seguinte, em conversa com apoiadores, o presidente Jair Bolsonaro desautorizou o ministro e mandou cancelar o protocolo de intenções de compra da CoronaVac.
Ainda usou uma rede social para chamar a CoronaVac de vacina chinesa de João Doria. E escreveu que o povo brasileiro não seria cobaia de ninguém. E que não iria adquirir a vacina.
No mesmo dia, durante uma agenda no interior de São Paulo, foi direto: “Já mandei cancelar. O presidente sou eu. Não abro mão da minha autoridade”.
No dia seguinte, em uma transmissão ao vivo ao lado do presidente, o ministro Pazuello deixou claro que havia entendido a posição do presidente: “Senhores, é simples assim: um manda e o outro obedece.”
Quando a Anvisa suspendeu os testes da vacina por causa da morte de um voluntario, o presidente comemorou: “Mais uma que Jair Bolsonaro ganha”.
A morte por suicídio não teve relação com a vacina, e o Butantan retomou os testes. A vacina CoronaVac será produzida pelo Instituto Butantan em parceria com a empresa chinesa Sinovac. A CoronaVac e a vacina Oxford/AstraZeneca — que será produzida pela Fiocruz — e se aprovadas pela Anvisa, serão utilizadas pelo programa nacional de imunização, previsto para começar na quarta-feira.
O governador de São Paulo, João Doria, do PSDB, chegou a marcar uma data para o início da vacinação no estado, o próximo dia 25. Só depois de muita pressão dos governadores, o Ministério da Saúde cedeu e concordou em usar a CoronaVac.
Coube ao ministro Pazuello confirmar a inclusão da CoronaVac no Programa Nacional de Imunização, o PNI: “Toda a produção do Butantan, e aí quero ressaltar, toda a produção do Butantan, todas as vacinas que estão no Butantan, serão a partir deste momento do contrato, incorporadas ao Plano Nacional de Imunização. Serão distribuídas de forma equitativa e proporcional a todos os estados”.
Na última quarta-feira, em conversa com apoiadores no portão do Palácio da Alvorada, Bolsonaro ironizou a eficácia da CoronaVac, anunciada pelo Instituto Butantan: “Essa de 50% é uma boa?”.
No anúncio da taxa geral de eficácia da CoronaVac, o Butantan afirmou que a CoronaVac atingiu 50,38%, acima do limite mínimo determinado pela Organização Mundial da Saúde e pela Anvisa. Explicou que a vacina protegeu 100% – ou seja, todos os voluntários – de terem casos graves ou moderados de Covid. E ninguém morreu da doença. A vacina reduziu em 78% o risco de infecção leve, quando comparados aos que não tomaram a vacina. Além da proteção, os testes mostraram o alto grau de segurança. E no dia da divulgação dos resultados, 13 cientistas independentes referendaram a CoronaVac.

É DO BRASIL
Em sua primeira manifestação pública após a decisão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) de aprovar o uso emergencial de duas vacinas (CoronaVac e de Oxford) contra a Covid-19 no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que o imunizante “é do Brasil, não é de nenhum governador não.”
O recado do presidente é direcionado ao governador de São Paulo, João Dória, que deu início à vacinação no estado no domingo (17), minutos depois da aprovação do uso emergencial pela Anvisa, antes do previsto pelo Ministério da Saúde e da distribuição das doses para outros estados.
As cerca de seis milhões de doses disponíveis no Brasil para o início da vacinação contra a Covid-19 são da CoronaVac, vacina desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac. O Instituto Butantan, ligado ao governo paulista chefiado por Doria, um dos principais adversários políticos de Bolsonaro, fechou parceria com a Sinovac e vai produzir a CoronaVac no Brasil.
Antes da aprovação pela Anvisa, Bolsonaro questionou diversas vezes a eficácia da CoronaVac devido à sua origem chinesa. Em outubro, o presidente chegou a suspender um acordo entre o Ministério da Saúde e o Butantan para a compra de 46 milhões de doses da CoronaVac. Ele também havia dito que não compraria vacina da China.
Nesta segunda, em conversa com apoiadores, o presidente afirmou que “não tem que discutir mais” sobre a vacina já que o uso emergencial foi aprovado pela Anvisa. E disse que o governo federal vai comprar mais doses se elas estiverem disponíveis no mercado.
“Pessoal, uma notícia. Apesar da vacina, apesar não, né. A Anvisa aprovou. Não tem que discutir mais. Agora, havendo disponibilidade no mercado, a gente vai comprar e vai atrás de contratos que fizemos também que era para ter chegado a vacina aqui”, disse Bolsonaro a apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada, em Brasília.

Bolsonaro emendou:
“Então, tá liberada a aplicação no Brasil. E a vacina é do Brasil, não é de nenhum governador não”, completou ele.
O pedido de uso emergencial da vacina de Oxford foi apresentado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que é ligada ao Ministério da Saúde. Esse pedido se refere a 2 milhões de doses a serem importadas do laboratório Serum, da Índia, que produz a vacina desenvolvida pela universidade do Reino Unido e pelo laboratório AstraZeneca.
Essas doses, entretanto, ainda não estão no Brasil. Na semana passada, o governo federal chegou a anunciar que enviaria um avião à Índia para trazer as doses, mas cancelou o voo depois que fracassaram as negociações com o governo indiano, que se recusa a liberar o carregamento.
Ainda não há previsão de quando as doses da vacina de Oxford devem chegar ao Brasil.
G1

Banner Add

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Social media & sharing icons powered by UltimatelySocial