Brasil registra queda de 26% no comércio de serviços em 2020
Publicado em 22 de maio de 2021O Brasil registrou em 2020 uma queda em sua corrente de comércio de serviços, acima da média registrada pelos países do G20 e pelo mundo. Levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI), com base em dados da Organização Mundial do Comércio (OMC), mostra que, no ano passado, a corrente de comércio de serviços brasileiras caiu 26% na comparação com 2019. O valor passou de US$ 95 bilhões para US$ 75 bilhões.
As exportações brasileiras de serviços totalizaram US$ 28 bilhões em 2020 (-17%), enquanto as importações, US$ 47 bilhões (-31%).
As economias do G20 comercializaram US$ 8,8 trilhões em serviços em 2020, uma queda de 18% ante o valor de US$ 10,8 trilhões registrado em 2019. Em todo o mundo, o comércio de serviços totalizou US$ 9,6 trilhões, o que representa um recuo de 19,9% em relação a 2019, atingindo os menores patamares desde 2013.
A corrente de comércio entre os países é dividida entre a de bens e a de serviços. No caso de serviços, ela inclui itens como aluguel de equipamentos, seguros, serviços de propriedade intelectual, de telecomunicação, financeiros, culturais e de arquitetura e engenharia, entre outros.
Com a pandemia de Covid-19, a ampliação dessa corrente de comércio, historicamente deficitária para o Brasil, se tornou um desafio ainda maior.
O resultado do comércio brasileiro de serviços, além representar uma queda mais acentuada que a registrada pelo G20 e pelo mundo, é também o pior da década. O menor valor até agora nos últimos 10 anos havia sido o de 2016, de US$ 94 bilhões.
Os números mostram ainda que a queda no comércio brasileiro de serviços foi mais acentuada que no de bens, que foi de 8,2% em 2020, na comparação com 2019.
O gerente de Políticas de Integração Internacional da CNI, Fabrizio Sardelli Panzini, explica que, em função da pandemia de Covid-19, o comércio de serviços foi mais afetado que o de bens no mundo inteiro. Serviços como transportes, manutenção de equipamentos e outros associados ao setor de turismo foram atingidos mais diretamente por causa da restrição da circulação de pessoas em todo o mundo.
“As exportações de serviços do Brasil são muito dependentes da economia dos Estados Unidos e da União Europeia. Como esses países também enfrentaram restrições e queda em sua atividade econômica, nosso comércio de serviços caiu em decorrência disso também”, afirma o gerente.
Brasil responde por 0,6% da exportação mundial de serviços
Diante de uma retração no comércio mundial de serviços, mesmo com esse resultado, o Brasil ganhou 0,1 ponto percentual de participação nas exportações mundiais de serviços, chegando a 0,6% do total. O país também ganhou quatro posições no ranking mundial de exportação de serviços, alcançando a 32ª colocação.
Os Estados Unidos, que são o maior exportador e importador mundial de serviços, registraram uma queda de 22% na corrente de comércio de serviços em 2020 na comparação com 2019. O valor passou de US$ 1,417 trilhão para US$ 1,103 trilhão. Com isso, o país perdeu 0,3 ponto percentual em participação nas exportações mundiais de serviços, de 13,9% para 13,6%.
A China, por sua vez, comercializou US$ 656 bilhões em serviços em 2020, uma redução de 16% na comparação com o ano anterior, quando o valor foi de US$ 780 bilhões. Mesmo assim, o país asiático ganhou 1,1 ponto percentual na participação das exportações mundiais de serviços, chegando a 5,7%.
CNI defende agenda de competitividade do comércio exterior
Panzini afirma que a ampliação da participação do Brasil no comércio global de serviços depende fundamentalmente de aspectos tributários e de decisão do Poder Executivo.
De um lado, o modelo brasileiro de Acordos para Evitar Dupla Tributação tributam de forma mais acentuada o comércio de serviços, sobretudo nas importações e nos afasta do modelo de tratado da OCDE. Por outro lado, o Brasil é o país com maior número de tributos sobre o comércio de serviços no mundo e possui uma das maiores cargas tributárias na importação de serviços.
“Mecanismos que desonerem a compra de serviços do exterior ajudariam na agregação de valor da indústria”, diz o gerente.
O resultado das exportações brasileiras depende também da retomada do crescimento de seus principais parceiros comerciais, como Estados Unidos e os países da América Latina e da Europa.
“Precisamos voltar a atenção para as reformas estruturais que garantam a competitividade da economia brasileira e para uma agenda mais completa de política comercial”, afirma Panzini.