‘Crime pode ter motivação religiosa’, diz promotor sobre o Caso Beatriz

Publicado em 3 de maio de 2016

O Ministério Público (MP) de Petrolina, no Sertão de Pernambuco, acredita que a morte de Beatriz Angélica Mota, de 7 anos, assassinada durante uma festa no colégio Nossa Senhora Auxiliadora, pode ter motivação religiosa. A declaração foi feita pelo promotor que acompanha o caso, Carlan Carlo da Silva. Além de afirmar que houve falhas da Polícia Civil nas primeiras horas da investigação do assassinato, ele fala que o crime pode ter sido motivado para atingir a instituição católica, onde ocorria a festa.
Em abril, a Polícia Civil realizou uma coletiva onde informou que pelo menos cinco pessoas, que eram funcionários do colégio, podem ter participado do crime. O delegado responsável pelo caso, Marceone Ferreira, disse que essas pessoas mentiram ou cairam em contradições várias vezes durante os depoimentos. Mas, até o momento ninguém foi preso. Segundo o delegado, ainda não há provas suficientes para pedir a prisão de possíveis envolvidos na morte.

Ainda de acordo com a polícia, 10 dias antes do crime três chaves do colégio sumiram. Elas teriam passado por dois assistentes disciplinares e um segurança. Ao final do dia, o fato foi registrado em um livro de ocorrência da escola. Para a polícia, as chaves podem ter sido utilizadas como rota de entrada e fuga dos suspeitos.

Motivação
Carlan diz que os elementos encontrados na cena do crime, o local onde ocorreu e forma como a criança foi morta, levam a acreditar que foi para atingir a instituição religiosa, onde ocorreu a solenidade, por se tratar de um colégio católico.
Na opinião do promotor, nenhuma linha de investigação pode ser descartada. Mas, considera uma linha como a mais plausível.
“O fato do crime ter sido durante uma festa que havia a participação de 2 a 3 mil pessoas, numa festa gigantesca, dentro de uma instituição escolar com fundo mais religioso, aponta para essa possibilidade, de um crime que vem atingir uma instituição religiosa. Não significa que vai ser confirmado. Só podemos ter a confirmação chegando na autoria e ai poderíamos chegar numa motivação efetiva”, ponderou.
Pela primeira vez um órgão envolvido nas investigações falou sobre a maneira como Beatriz foi morta. Para o Ministério Público, os detalhes podem reforçar a motivação do crime. “A forma de execução da criança, a idade, as lesões, tem alguns elementos de seita, de magia negra. Por isso que a investigação aponta que foi para atingir a religião. Mas, isso pode ter sido feito para despistar ou não o trabalho da polícia”, disse.

Crime premeditado
Pela forma como o assassinato ocorreu, o promotor trata o caso como crime premeditado. “É uma crença pessoal minha, que esse crime foi planejado e isso dificulta realmente a investigação. Fora as falhas que podem ter havido, ainda teve esse planejamento bastante prévio e frio do ou dos criminosos. Eu acho que hoje é um dos casos de maior repercussão, o crime foi de uma ousadia muito grande. O autor ou os autores quiseram atingir a sociedade de uma forma muito forte. Foi de uma frieza muito grande”, explica.
Dentro das conclusões do MP, ainda não há indícios que apontem Beatriz como o alvo do criminoso, o que descarta algumas hipóteses levantas inicialmente.
“Eu acho que não foi direcionado a uma pessoa especificamente. Mas a uma criança naquela mesma idade, que estivesse presente ali, fácil de ser atingida. As investigações não apontam para uma vingança contra aquela vítima. Mas, contra uma criança naquela idade e possivelmente, até por motivos religiosos, para impactar a sociedade, atingido uma instituição religiosa. A confirmação só podemos ter ao final da investigação”, declarou Carlan.

Falhas na investigação
Para o promotor, as falhas ocorreram logo nas primeiras horas após o homicídio, quando a escola não foi devidamente isolada pelos seguranças do colégio e pela polícia.
“Não faz parte da cultura brasileira a preservação do local do crime e quando falo da cultura brasileira, não é só da população, é também da polícia. Muitas provas podem ter sido comprometidas no início da investigação. Aquele momento do flagrante, da ocorrência do crime, é essencial para a solução do caso”, explica.

Carlan acredita que a falta de peritos especializados neste tipo de crime, na polícia de Petrolina, foi mais um erro. Hoje o caso esta sob responsabilidade do perito chefe do Grupo Especializado em Perícias de Homicídios do Departamento de Homicídios e Proteção a Pessoas (DHPP), Gilmário Lima, de Recife.

“A realização de provas científicas imediatas logo após a ocorrência e a presença de peritos com especialização nas áreas necessárias para a elucidação do crime demoraram a chegar. E, geralmente, quando vem à intervenção, a prova já está comprometida. Alguma falha nesse momento, por menor que seja, pode conduzir a um desfecho não favorável para a investigação”, pontua.
As ausências de segurança e de câmeras do circuito interno no colégio também chamaram a atenção do Ministério Público. O promotor explica que a existência de uma área muito grande sem a cobertura de câmeras em uma instituição escolar, é um problema. Ele lembra que o colégio já foi alvo de outras ações criminosas, como o incêndio que desativou a sala de material esportivo onde Beatriz foi encontrada.

Participação do Ministério Público
Apesar de ter comparecido à Delegacia de Polícia Civil, um dia após o crime, para colocar o MP à disposição, o órgão demorou a ser acionado pelas autoridades policiais.
“Houve atraso em chamar o MP para a investigação. Tivemos uma participação posterior, cerca de um ou dois meses depois, no primeiro pedido que precisava da intervenção da justiça. Fiz também vários pareceres sobre alguns pedidos, sugeri algumas diligências investigativas às autoridades policiais, sobre certos suspeitos que precisam investigar”, argumentou.

Elucidação
Pela complexidade e planejamento do crime, o Ministério Público reforça que o caso Beatriz não é um fato onde a polícia pode chegar facilmente a uma autoria. Carlan Carlo chega a questionar se o assassinato realmente será elucidado.
“Tenho sérias dúvidas se será solucionado. As provas que se esperavam que produziriam resultados, não houve. O sentimento que a sociedade tem que o crime vai ficar impune não é à toa, tem fundamento. Estamos com cinco meses, as provas até o momento não encontraram autor nenhum. O Ministério Público acha que será uma moeda jogada ao ar. Tem 50% de chance de ser solucionado ou não. A uma possibilidade de solução? Há. Mas, o caso é difícil e a nossa atuação não foi das melhores. A própria forma de execução do crime, traz dificuldade”, esclareceu.

Polícia Civil
Desde a última coletiva, realizada no dia 29 de março, onde a Polícia Civil disse que ao menos cinco pessoas que eram funcionários do colégio podem ter participado do crime, nenhuma novidade sobre o caso foi apresentada oficialmente. Porém, o delegado responsável, Marceone Ferreira, disse que os investigadores continuam empenhados e que avanços são alcançados diariamente.
Durante a coletiva, o perito Gilmário Lima foi questionado sobre a atuação da polícia nas primeiras horas após o crime, quando a área não foi devidamente isolada. Ele afirmou que não tinha como mensurar se realmente a barreira montada pela polícia foi eficaz. Mas, relatou que a realização do trabalho da perícia não teve prejuízos.

“A cena do crime que eu encontrei foi suficiente para que eu pudesse chegar as conclusões apresentadas. A informação que eu tenho é de que o local foi preservado. O local imediato, não a escola toda. Então, partindo disso, conseguimos ter um trabalho conclusivo”, relatou o perito.

Crime
Beatriz saiu de perto da mãe, Lúcia Mota, por volta das 22h08 do dia 10 de dezembro, noite em que ocorreu a festa de formatura do colégio, quando pediu para ir até o bebedouro, localizado na parte inferior da arquibancada e não retornou mais. O corpo da menina foi encontrado por volta das 22h50, com cerca de 42 facadas, em uma sala de material esportivo que estava desativada, devido a um incêndio que ocorreu em outubro de 2015.
G1

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