Cunha recebia 80% da propina paga em esquema na Caixa, diz delator

Publicado em 1 de julho de 2016

acunha2O ex-dirigente da Caixa Fábio Cleto, um dos delatores da Operação Lava Jato, afirmou em depoimento ao Ministério Público Federal (MPF) que o presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ficava com 80% da propina paga em suposto esquema para a liberação de recursos do Fundo de Investimentos do FGTS (FI-FGTS), administrado pela Caixa Econômica Federal.
A informação foi citada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, em documento enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) no qual pediu a prisão do doleiro Lúcio Funaro, alvo da Operação Sépsis, uma nova etapa da Operação Lava Jato. Preso na ação, ele é apontado por delatores da Lava Jato e pela Procuradoria-Geral da República como operador de propina no esquema ligado a Cunha.
Por meio de nota divulgada pela assessoria Cunha negou ter cometido irregularidades. “Desconheço a delação, desminto os fatos divulgados, não recebi qualquer vantagem indevida, desafio a provar e, se ele cometeu qualquer irregularidade, que responda por ela”, afirmou o presidente afastado da Câmara.
Na delação, Cleto afirmou que a propina paga representava 1% do valor dos contratos com recursos do Fundo de Investimentos do FGTS. Deste valor, segundo o ex-dirigente da Caixa, 80% era repassado a Cunha; 12% ficava com Lúcio Funaro; 4% ficava com ele próprio e os outros 4% eram repassados ao empresário Alexandre Margotto. Segundo o delator, Lúcio Funaro utilizava as empresas de Margotto para movimentar valores.
“Que na prática, então, do valor total da propina informada, a divisão era a seguinte: 80% para Eduardo Cunha, 12% para Lúcio Bolonha Funaro, 4% para o depoente [Fábio Cleto] e 4% para Alexandre Margotto; Que era Funaro o responsável por repassar a Margotto os valores que lhe eram devidos; […] Que sabe que Funaro se utilizava das contas e empresas de Margotto para movimentar valores”, diz termo da delação.

Indicação
No mês passado, Cunha afirmou que deu apoio à indicação de Cleto pela bancada do PMDB do Rio de Janeiro,. Em dezembro do ano passado, Cleto foi exonerado da Caixa por determinação da atualmente presidente afastada Dilma Rousseff.
Na delação, o ex-dirigente afirma que, logo que assumiu o posto de vice da Caixa, foi convidado a se encontrar com Cunha em um apartamento em Brasília. Nesta reunião, segundo a delação, o peemedebista disse ter “grande interesse” no FI-FGTS, e que caberia a Cleto encaminhar demandas de acordo com os interesses de Cunha.
“Que nesta primeira reunião, Eduardo Cunha disse que o grande interesse dele era no Fundo de Investimento FI-FGTS, onde empresas privadas tomam recursos para obras de infraestrutura; que nesta reunião, Eduardo Cunha disse que apresentaria demandas para o depoente e cabia ao depoente analisar e encaminhar de acordo com os interesses de Cunha”, diz o termo de delação de Fábio Cleto.
De acordo com investigadores, Fabio Cleto informava os nomes das empresas que pediam financiamento com recursos do FGTS a Lúcio Funaro, que procurava as empresas e pedia propina para agilizar a liberação do dinheiro. Segundo Cleto, Cunha também negociava propina diretamente com as empresas.
“Que depois de aprovadas as operações, Eduardo Cunha confirmava ao declarante [Cleto] se havia sido cobrada propina e qual valor. […] Que Funaro informou sobre o pagamento de propina logo após a posse do depoente na CEF, bem no início; Que Eduardo Cunha também confirmou o pagamento de propina para o depoente”, diz trecho do termo de delação de Fábio Cleto.
“Que as pessoas responsáveis por negociar a propina com as empresas era Lúcio Bolonha Funaro e Eduardo Cunha, […] que variava quem solicitava a propina a depender da proximidade com a empresa; Que quem tivesse mais proximidade com a empresa ficaria encarregado de solicitar a propina; Que, de qualquer forma, em todos os casos, Funaro e Cunha estavam acertados e alinhados em relação à solicitação de propina; [… ] Que nesta época, portanto, o declarante recebia orientações de corno proceder e agir dentro da CEF tanto de Eduardo Cunha quanto de Lúcio Bolonha Funaro”, relatam os investigadores em outro termo de delação.
G1

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