Cunha se diz ‘inocente’ e afirma que foi ‘escolhido para ser investigado’
Publicado em 21 de agosto de 2015Após ter sido denunciado ao Supremo Tribunal Federal (STF) por suposta participação no esquema de corrupção da Petrobras, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) afirmou nesta quinta-feira (20), por meio de nota, que é “inocente” e que foi “escolhido” para ser alvo de investigação.
Janot apresentou nesta quinta denúncias contra Cunha e contra o senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL) por suposto envolvimento no esquema de corrupção na Petrobras investigado pela Operação Lava Jato. Nas denúncias, o procurador-geral pede a condenação dos dois sob a acusação de terem cometidos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro.
“Estou absolutamente sereno e refuto com veemência todas as ilações constantes da peça do procurador-geral. Sou inocente e com essa denúncia me sinto aliviado, já que agora o assunto passa para o Poder Judiciário”, diz a nota.
De acordo com a Procuradoria, Cunha e Collor receberam propina de contratos firmados entre a Petrobras e fornecedores da estatal. Ambos os parlamentares negam as acusações. Na denúncia contra Eduardo Cunha, a Procuradoria também pede que sejam devolvidos US$ 80 milhões – US$ 40 milhões como restituição de valores supostamente desviados e mais US$ 40 milhões por reparação de danos. A PGR estima essa quantia em R$ 277,36 milhões, pela cotação atual.
Na nota divulgada à imprensa, o presidente daCâmara voltou a atacar Janot e o Planalto ao dizer os dois se articularam para incriminá-lo no esquema investigado pela Operação Lava Jato. Para Cunha, a decisão da presidente Dilma Rousseff de reconduzir Janot ao cargo de comando do Ministério Público Federal por mais dois anos é uma “tentativa de calar e retaliar” sua atuação política.
O presidente da Câmara disse ainda achar “estranho” não ver denúncia contra integrantes do PT e do governo. “À evidência de que essa série de escândalos foi patrocinada pelo PT e seu governo não seria possível retirar do colo deles e tampouco colocar no colo de quem sempre contestou o PT, os inúmeros ilícitos praticados na Petrobras.”
Cunha não quis falar com a imprensa ao deixar a Câmara, às 20h40 desta quinta. “Eu já falei pela nota”, disse o presidente da Câmara repetidas vezes até alcançar o carro oficial.
Em nota, o ministro da Comunicação Social, Edinho Silva, afirmou que o governo não se manifestará sobre as declarações de Eduardo Cunha. “O governo não irá se pronunciar sobre o conteúdo da manifestação do presidente da Câmara dos Deputados. O governo da Presidenta Dilma acredita na isenção das instituições que apuram as denúncias”, diz o texto da nota.
O G1 procurou a assessoria do PT sobre as declarações de Cunha, mas não obteve resposta até a última atualização desta reportagem.
Cunha reforça ainda que continuará na presidência da Câmara. “Estou com a consciência tranquila e continuarei realizando o meu trabalho como presidente da Câmara dos Deputados com a mesma lisura e independência que sempre nortearam os meus atos, dentro do meu compromisso de campanha de ter uma Câmara independente. Esclareço, ainda, que o meu advogado responderá sobre fatos específicos referidos na denúncia.”
O presidente da Câmara encerra a nota dizendo confiar no STF. “Por fim, registro que confio plenamente na isenção e imparcialidade do Supremo Tribunal Federal para conter essa tentativa de injustiça.”
Íntegra da nota
Veja abaixo o texto da nota divulgada por Eduardo Cunha.
Nota à imprensa
Estou absolutamente sereno e refuto com veemência todas as ilações constantes da peça do Procurador-Geral da República. Sou inocente e com essa denúncia me sinto aliviado, já que agora o assunto para o Poder Judiciário.
Como eu já disse anteriormente, fui escolhido para ser investigado e, agora, ao que parece, estou também sendo escolhido para ser denunciado, e ainda, figurando como o primeiro da lista. Não participei e não participo de qualquer acordão e, certamente, com o desenrolar, assistiremos à comprovação da atuação do governo, que já propôs a recondução do procurador, na tentativa de calar e retaliar a minha atuação política.
Respeito o Ministério Público Federal, como a todas as instituições, mas não se pode confundir trabalho sério com trabalho de exceção, no meu caso, feito pelo Procurador-Geral. E, ainda, soa muito estranho uma denúncia divulgada às vésperas das manifestações vinculadas ao Partido dos Trabalhadores, que tem, dentro seus objetivos, o de me atacar.
Também é muito estranho não ter ainda nenhuma denúncia contra membro do PT ou do governo, detentor de foro privilegiado.
À evidência de que essa série de escândalos foi patrocinada pelo PT e seu governo, não seria possível retirar do colo deles e tampouco colocar no colo de quem sempre contestou o PT, os inúmeros ilícitos praticados na Petrobras.
Estou com a consciência tranquila e continuarei realizando o meu trabalho como presidente da Câmara dos Deputados com a mesma lisura e independência que sempre nortearam os meus atos, dentro do meu compromisso de campanha de ter uma Câmara independente. Esclareço, ainda, que o meu advogado responderá sobre fatos específicos referidos na denúncia.
Em 2013, por outro motivo, fui denunciado pelo Ministério Público Federal. A denúncia foi aceita pelo pleno do Supremo Tribunal Federal por maioria e, posteriormente, em 2014, fui absolvido por unanimidade. Isso corrobora o previsto na Constituição Federal, da necessidade do Princípio da Presunção da Inocência.
Por fim, registro ainda que confio plenamente na isenção e imparcialidade do Supremo Tribunal Federal para conter essa tentativa de injustiça.
Nota da bancada do PMDB na Câmara
Após a denúncia contra Cunha ser confirmada, a bancada do PMDB na Câmara divulgou nota para manifestar apoio ao presidente da Casa. De acordo com o texto, a bancada “apoia e acredita” em Cunha e se “solidariza” com o deputado.
Veja abaixo a nota da bancada do PMDB:
Nota à Imprensa
Enquanto não se esgotarem todas as etapas previstas no rito da lei, não há culpados, mas apenas acusados. O princípio da presunção de inocência é cláusula pétrea constitucional e juramos defender a Constituição Federal.
Já assistimos às etapas das investigações e, agora foi o momento da denúncia. O próximo passo, tão ou mais importante que os anteriores é o da ampla defesa.
A bancada do PMDB na Câmara dos Deputados apoia e acredita no presidente da Casa, Eduardo Cunha, e se solidariza com ele neste momento em que alguns se açodam a defender teses que ferem o princípio primordial do Estado Democrático de Direito.
G1