Declaração de óbito da mãe de Luciano Hang foi fraudada, diz dossiê

Publicado em 23 de setembro de 2021

O dossiê elaborado por 15 médicos que afirmam ter trabalhado para a operadora de saúde Prevent Senior, material que foi entregue à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, aponta que a declaração de óbito da mãe do empresário Luciano Hang, Regina Hang, “foi fraudada”.
Hang é apoiador do presidente Jair Bolsonaro e incentivador do chamado ‘tratamento precoce’, composto por medicamentos sem eficácia comprovada ou contra-indicados para tratar a doença.
Segundo os médicos, a suposta fraude na declaração de óbito de Regina Hang é um dos “inúmeros casos que não foram devidamente noticiados”. O relato sobre a mãe do empresário consta do capítulo “Da suposta fraude nas declarações de óbito”, do dossiê de mais de 60 páginas entregue à CPI.
O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), afirmou nesta quarta-feira, 22, que Luciano Hang “tinha condições de levar a sua genitora para a lua, porque tem dinheiro para isso”. “Mas leva para a Prevent Senior. E lá, segundo as informações, no atestado de óbito não consta que ela veio a óbito por covid”, declarou Aziz.
Em vídeo publicado no Instagram, em 5 de fevereiro, Luciano Hang relatou que a mãe estava assintomática e com “quase 95% do pulmão tomado” quando foi levada ao hospital. Regina Hang foi internada no Hospital Sancta Maggiore, da rede Prevent Senior, no bairro do Morumbi, em São Paulo.
O dossiê aponta que ela foi internada em 31 de dezembro e morreu em 3 de fevereiro. No prontuário, segundo os médicos, havia informação sobre o início de sintomas, em 23 de dezembro, e adoção de tratamento precoce, com hidroxicloroquina, azitromicina e colchicina antes da entrada na Prevent Senior. Na internação, de acordo com informações dos médicos, ela teria recebido ivermectina e tratamentos experimentais.
Na legenda do vídeo, o empresário disse que “até ser diagnosticada com covid-19, eu nunca dei nenhum medicamento para prevenção a minha mãe”. Luciano Hang disse que a mãe era cardíaca, tinha diabetes, insuficiência renal, sobrepeso e tomava “20 comprimidos/dia”.
“Eu me questiono: será que se eu tivesse feito o tratamento preventivo, eu não teria salvado a minha mãe?”, afirmou no vídeo.
De acordo com o dossiê, que cita o vídeo publicado por Hang, a alegação do empresário “não condiz com as informações do prontuário”. Segundo os médicos, “o prontuário médico da sra. Regina Hang prova que ela utilizou o kit antes de ser internada e que repetiu o tratamento durante a internação, assim como registram que seu filho, sr Luciano Hang, tinha ciência dos fatos”.
“Como outros tantos casos de óbitos na rede Prevent Senior decorrentes da covid-19 que não foram devidamente informadas às autoridades, a declaração de óbito da sra. Regina Hang foi fraudada ao omitir o real motivo do falecimento”, diz o documento.
Procurada, a Prevent Senior reafirmou que não houve fraudes em declarações de óbitos. Diretor-executivo da empresa, Pedro Benedito Batista Junior presta depoimento à CPI nesta quarta-feira e negou que a operadora tenha cometido qualquer irregularidade.
Até a publicação desta matéria, a reportagem entrou em contato com o empresário Luciano Hang, mas sem sucesso.
Renan aponta comportamento “macabro” de Luciano Hang sobre a morte da mãe
O relator da CPI da Covid, Renan Calheiros (MDB-AL), abordou o caso de Regina Hang após a exibição do vídeo em que o empresário bolsonarista diz que a mãe poderia ter sobrevivido se tivesse feito tratamento com hidroxicloroquina.
Renan qualificou o comportamento do empresário como “macabro” e “repugnante”.
“Há uma farsa que será desmascarada aqui. Vamos provar que ele pediu: ‘Escondam que minha mãe foi tratada com cloroquina, para não desmerecer a eficácia’. Ele a levou para ser tratada no hospital com cloroquina, e a Prevent Senior ocultou isso”, afirmou em sessão da comissão desta quarta-feira.
O senador Otto Alencar (PSD-BA) chamou Hang de “filho desalmado”, por usar o falecimento da mãe para promover o ‘tratamento precoce’.
O depoente do dia, Pedro Benedito, diretor-executivo da Prevent Senior, reiterou que não comentaria casos de pacientes, alegando sigilo médico.
Foto: Mateus Saraiva / Futura Press

* Com informações da Agência Senado

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