Exposição com fotos de quilombos é aberta em JP

Publicado em 16 de dezembro de 2019

O Centro Estadual de Arte (Cearte) está promovendo a exposição “Kipupa –Caiana: de malungo pra malungo” aberta até o dia 31 de janeiro em horário comercial de terça à sexta, e programação especial nas noites de quinta, sexta, sábado e domingo.
Nas fotos, os professores Allan Luna e Helder Oliveira revelam a força e história de dois quilombos, um em Pernambuco e outro na Paraíba. A exposição, que faz parte das festividades da Semana de Arte do Cearte, está montada na Usina Energisa, tem curadoria de Thayroni Arruda e é realizada pela Galeria das Quinze Portas.
Allan Luna e Helder Oliveira registram nas fotos as facetas de dois emblemáticos grupos de população negra, respectivamente, Pernambuco – Quilombo do Catucá, na Zona da Mata
Norte, entre Recife e Goiana; e Paraíba – Quilombo de Caiana dos Crioulos, em Alagoa Grande. Em relação ao título da exposição os fotógrafos explicam: “Malungo é traduzido como “companheiro”, “amigo”, “camarada” e identifica as pessoas que vieram para estas terras no mesmo navio negreiro. Kipupa é união, associação de pessoas em torno de um objetivo.
KIPUPA – CAIANA: de malungo pra malungo é uma ponte entre dois agrupamentos de resistência negra, de dois estados do Nordeste, e entre os vários malungos dessas duas localidades”.
“A narrativa visual, que costura as imagens do Kipupa e de Caiana, nos faz refletir sobre a alegria, a autoestima e a força da identidade e ancestralidade da cultura negra, em um constante lutar e resistir. A música, a dança, as relações que se constroem, são aqui registradas por ambos os artistas e em ambos os lugares de memória. Uma verdadeira dança de um povo, cheia de equilíbrio, força, delicadeza e musicalidade, sobre a qual se sustenta um enorme senso de comunidade e pertencimento”, frisa o curador da exposição Thayroni Arruda.

Pernambuco – Quilombo do Catucá
O Kipupa, um grande encontro espiritual, em nível nacional, de juremeiros e juremeiras, acontece anualmente no município de Abreu e Lima – PE e já se encontra na sua XIV edição. A celebração acontece nas antigas matas onde existiu e resistiu o Quilombo do Catucá (Zona da Mata Norte, entre Recife e Goiana), durante a primeira metade do século XIX.
Possivelmente, aproveitando as ebulições como a Revolução de 1817 e a Confederação do Equador, em 1824, os negros escravizados fugiam do Recife e região, e formaram comunidades na grande Mata do Catucá.
Neste quilombo viveu seu líder, mais conhecido como João Batista, assassinado em 1835, após ser amplamente perseguido pelo Estado – inclusive, com o governo provincial oferecendo uma recompensa de 100.000 réis pela sua captura. Visto como um marginal perigoso pela coroa, foi excluído das páginas da historiografia oficial. Hoje, entende-se que João Batista foi dos grandes personagens da História pernambucana neste período de conturbação política.

Paraíba – Quilombo Caiana dos Criolos
Neste trabalho, podem ser vistas imagens capturadas na mais importante Comunidade Quilombola da Paraíba, Caiana dos Crioulos, com área de mais de seiscentos e quarenta e seis hectares, situada nas serras da zona rural da cidade de Alagoa Grande.
O quilombo chegou a alcançar cerca de dois mil habitantes, descendentes diretos de cidadãos africanos escravizados, que se instalaram por lá entre os séculos XVII e XIX. A suposição é que tenham vindo de Mamanguape, após uma rebelião ocorrida em um navio negreiro que aportou em Baía da Traição nesse período.
Sobre seu surgimento, também há versões diversas: alguns afirmam que escravizados fugitivos de engenhos na cidade de Areia o compuseram; há ainda relações que remontam à dinâmica populacional de Palmares. Na ocasião do ensaio fotográfico, estava sendo festejado o dia 20 de novembro de 2006, momento em que a consciência negra é celebrada com muita música, dança, mística e calor.
Entre os inúmeros mestres da cultura popular oriundos deste celeiro, destacam-se: Firmo Santino, Zé Teó, João Teó, Vital, José Alves da Cruz “Zuza” (banda cabaçal); Dona Edith, Cida de Caiana (coco de roda e ciranda); Maria Narcisa da Silva, Dona Edith (parteiras).

Foto: Hélder Oliveira/Divulgação
Portalcorreio

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