‘Isso dói no coração’, diz comerciante de mercado de SP que vende miúdos para clientes com dinheiro contado

Publicado em 26 de outubro de 2021

A alta no preço dos alimentos está fazendo com que grande parte da população passe fome. Para driblar as adversidades, algumas pessoas substituíram a compra de carnes por miúdos, e mesmo assim enfrentam dificuldades financeiras para colocarem alimentos na mesa e contam os centavos para conseguirem levar algo para casa.
Ângela Piccoloto, dona da casa de frango do Mercado Municipal da Lapa, na Zona Oeste de São Paulo, lamenta a situação de pobreza da população que foi agravada pela crise econômica no país.
“Pessoas que chegam e pedem 10 reais e só, porque não tem mais dinheiro, tem muita gente assim. É péssimo. Muito ruim isso. Isso dói no coração. Quando eu posso, eu ajudo, mas não é sempre que dá. É uma fase muito difícil”, disse.
O balconista Lucas Batista dos Santos conta que quem comprava um quilo de mercadoria, agora compra apenas metade. E, muitas pessoas levam apenas um bife.
“Se eu pudesse ajudar, eu ajudaria muito, porque tem muita gente necessitada. A gente trabalha com miúdos, não sobra nada, a gente já tá trabalhando com as sobras dos animais, que é o miúdo,que é o mocotó, as vísceras”, disse.
E a situação é ainda pior pra quem não consegue nem juntar poucos reais para comprar alimentos. É o caso do seu Luís, que pega restos de alimentos que são jogados no lixo do Mercado Municipal, no Centro de São Paulo.
“Necessidade mesmo. Não tenho vergonha de falar, não. Tenho dois netos. Tenho a mulher que tá doente. Tô desempregado”, disse ao ser questionado sobre motivo de pegar restos de comida no lixo.
Ele mora em uma ocupação próxima do Mercadão e utiliza uma pá para revirar a lixeira e tentar encontrar os melhores pedaços de carnes e peixes.
“Prefere jogar fora do que dar. O mundo que a gente tá hoje em dia é assim mesmo, né? Eu tô aqui porque estou precisando, vou te falar. Se eu não venho aqui, eu vou na feira. E daí pra frente mesmo até a situação melhorar”, lamenta.
No Jardim Ibirapuera, na Zona Sul da capital, as mulheres compartilham um fogão a lenha comunitário para conseguirem cozinhar, pois não conseguem comprar mais um botijão de gás, cujo o preço já passa dos R$ 100.
Mas, em dia de chuva, a situação que já é precária na região consegue piorar.
“O dia de chuva hoje, por exemplo, a gente tá pensando: ‘Vamos ficar com fome o dia todo’ ou, a não ser quando parar a chuva pra gente tá cozinhando, a lenha tá toda molhada, não tem como acender uma lenha, a situação tá difícil, tá complicada”, disse a desempregada Maria Regina.
Imagem: Reprodução G1
G1

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