LEIA: Relato de um parto. Um relato de como eu pari. Por Yôhanny Barboza

Publicado em 4 de agosto de 2019

Era noite do dia 25 de julho de 2019, início do que seria a jornada mais louca da minha vida. Estava em casa, ao lado do meu sempre presente e amado companheiro, Fuinho. Tão logo me veio uma sensação estranha, falei com ele e disse que estava sentindo algo, ao mesmo tempo em que pego o telefone e falo com a minha Doula (aquele anjo) e imaginei de cara que estivesse entrando em um trabalho de parto, mas ai ela me orientou a tomar um banho quente (o primeiro de muitos) pois se a sensação passasse, não seria o trabalho de parto.
E foi assim que tudo começou. A sensação não passou e deu lugar as minhas companheiras de horas, as contrações, por volta das 04h da manhã a Doula chega em minha residência para o meu auxílio, conforme o tempo foi passando e tudo acontecendo, entendi que o meu corpo já deveria estar na fase latente do Trabalho de Parto. Após algumas horas as dores passaram a ficar mais fortes e foram deixando meu psicológico e emocional em um leve conflito, no entanto, como aquilo me consumia de uma forma que não tinha imaginado antes decidi ir até a maternidade, lá por volta das 10h30min fui atendida a primeira vez, e a médica me confirmou que estava em fase latente, com uma certa dinâmica mas após o exame de toque (o primeiro de muuuuuitos que ainda viriam) eu ainda estava com uma dilatação muito inicial, fui orientada a voltar pra casa, me tranquilizar e continuar com que já tinha aprendido e tanto treinado durante os meses que tinham se passado.
Voltei pra casa com meu Fuinho, minha Doula e minha filha em meu ventre, lá me encontrei com outro anjo (obrigado Deus por ter me enviado tantos) a minha fisioterapeuta pélvica Lays Anorina (que mulher minhas amigas) lá ela me ajudou com acupuntura, mais massagens relaxantes revezando com a Doula e também com sua palavra e voz tão tranquilas e encorajantes que me energizavam de uma forma sem igual, mesmo com todas as dores eu só pensava em uma coisa “Quero ver minha filha Deus, pq tantas e tantas dores, isso era justo?!” Lá na frente, depois de todas as horas e dores, essas perguntas sem duvidas seriam respondidas. Por volta das 23h00 do dia 25 ainda, não aguentei, mais uma vez pedi para retornar até a maternidade, queria saber como estava a minha filha, ouvir seu coração, seus batimentos, a dinâmica das contrações me doía, as dores que as hemorroidas me causavam eram brutais, mas ficar sem saber como estava a minha pequena, me consumia, e quanto mais o tempo passava, eu pensava se estava fazendo ela sofrer de alguma forma. Quando chegamos, na sala de uma outra médica, ela também me diz que estava com uma ótima dinâmica, contrações “lindas, bem formadas” mas ainda com pouca dilatação.. Nossa, aquilo foi como um banho de água fria, saber que eu não estava evoluindo me doía mais até que o toque, invasivo, frio, e que me fazia sangrar, fui orientada mais uma vez a retornar pra casa e tentar relaxar ao máximo, assim eu fiz, voltei, me banhei, rebolei, agachei, chorei e emudeci, tomei a decisão de que viveria isso de uma vez por todas, e que iria encontrar a minha filha, foi então que as 04h da manhã, do dia 26 de julho, me envolvi no meu casulo, me cerquei do mundo, não avisei a mais ninguém e voltei ao Instituto de Saúde Elpídio de Almeida, o ISEA, queria me internar.
Após a minha internação em um hospital público, mesmo com toda a situação que eu apresentava, sabia que não seria fácil, era realmente uma saga tudo aquilo que estava vivenciando, tanto que para conseguir ser colocada em um leito foram quase 04 (quatro) horas esperando em uma cadeira, nada confortável para quem estava tendo 03 contrações a cada 10 minutos, tudo incomodava, tudo me pressionava, tudo doía, mas até aquele momento talvez nada quanto a minha crise de hemorroida. Deitada em um leito, já por volta de 08h30 da manhã do dia 26, faço contato com a médica que me acompanhou durante todo o meu pré-natal, ela não me abandonaria nesse momento, mais um anjo, daqueles que eu falei antes que Deus vai colocando na vida da gente, expliquei pra ela como eu estava, e logo começou a funcionar uma rede de contatos com as quais eu nunca imaginei na vida, pessoas que se doaram, que ajudaram, que deram o seu melhor mesmo para ajudar essa mulher aqui, sem nem mesmo nunca ter me visto, foi mágico, seria esse o verdadeiro poder feminino? Eu estaria próxima de descobrir. Tão logo foi possível me administraram medicamentos para tentar diminuir ao máximo a crise em que me encontrava, e não sei se eram eles ou todo o aparato humano que me envolvia, mas aquilo estava me fazendo melhorar sim, estava mais aliviada, estava de energias renovadas para encarar o caminho mais uma vez.
O cansaço já me consumia, eu nem sabia mais em que horas do dia eu estava, só lembrava de ter que respirar fundo enquanto estava tendo contrações, apertar numa mão a mão do Fuinho e na outra a mão da Doula, cochilava o quanto dava entre um intervalo e outro, quando não tinha contração, era a dor, tudo isso somado aos banhos quentes e as tentativas frustradas de sentar na bola russa que estavam à disposição na Sala de Parto 02. Durante a tarde, em um momento que estava mais acordada, após mais um exame de toque devastador de meu psicológico conversei com a minha médica e com meu companheiro, estudávamos a possibilidade de fazer aquilo ser mais rápido, encurtado e gelado em uma clinica fora dali, seria um sonho, acabar com todo aquele sofrimento e ver logo a minha filha, tê-la em meus braços, os contatos foram iniciados e a equipe foi se formando, no entanto o ultimo não obtivemos êxito, duas, três, quatro tentativas em fazer contato, mas a minha médica não conseguiu, seria esse então o destino me levando ao caminho daquela resposta “…pq tantas e tantas dores, isso era justo?!…” estava pra descobrir.
Minha médica sempre me encorajou a ter o parto normal, então mantemos um foco no plano A e seguimos com ele, aguardamos pelas horas da madrugada, horas e horas, de sono que não vinha de dores que não passavam, até que por volta de 01h da manhã do dia 27, um exame de toque me avisava, me respondia, estava eu com 7 de dilatação, meu ânimo revigorado, força e tudo mais, agora eu respirava com mais vontade, com mais vigor, o caminho até minha filha se aproximava, as horas foram passando e então as 05 da manhã mais um toque, e então, o baque, foi como ser acordada de um sonho e me sentir caindo pular da cama, o exame dizia que eu estava na verdade com 4 de dilatação… meu Deus, como podia isso, pq tudo isso aconteceu? Pq? Pq? Não queria mais estar ali, não sabia o que fazer… de tudo isso, olhei para os quatro cantos em que me encontrava, tentava entender o cenário em que estava inserida, nesse rolê mais aleatório da vida, já tinha visto duas mulheres entrarem grávidas e saírem mães do leito ao meu lado, pq isso não podia acontecer comigo logo?
Até agora não entendo o motivo de todas essas horas, mas sei que por volta das 07h da manhã do dia 27 de julho de 2019, uma nova equipe e um novo plantão se iniciava, e parecia que a teia do poder feminino estava firme mais uma vez, recebi vários abraços, vários sorrisos e palavras de conforto, de ânimo, de encorajamento, que nas primeiras horas do plantão uma médica me examinou e fez um novo toque “Você está de 7 para 8, vá andar um pouco”, aquilo me levantou da cama mexeu comigo, será que estavam brincando comigo, queriam me ver abalada? Não foi o que conseguiram, me pus a andar, caminhar, a enfrentar o caminho, as dores, nesse instante a minha primeira Doula já estava exausta e foi substituída, vocês sabem dessa parte, a nova chegou com todo o gás, e continuamos, firmes, com lágrimas, com dores, com convicção, seria hoje, exatamente no dia que estava previsto, no dia que completava as 40 semanas de gestação da minha princesa, após encontros maravilhosos e da assistência de pessoas que nunca tinha visto, fui encaminhada as 09 horas da manhã para mais um médico me avaliar e ouvir os batimentos da minha pequena, e como o coração dela batia forte, rápido e sadio, era incrível e lindo ao mesmo tempo, nesse penúltimo toque, a dilatação mostrava estar em 9, me senti ainda mais energizada, revigorada, sentia que a hora se aproximava, dentro de mim respostas iam se formando, menos eu raciocinava mas sabia para onde eu tinha que seguir.
Foi então que vi a terceira mulher grávida entrar e deitar no leito ao meu lado na sala 02, pensei “Meu Deus, será que ela sairá primeiro que eu também?” mas não podia me deixar envolver por isso, mas isso merece um parêntese especial, essa menina que chegou no leito ao meu lado se enquadrava em todos os critérios para poder ter o bebê na Central de Parto Natural (CPN) ali mesmo no ISEA, local que era o meu sonho, mas que devido ao meu hipotireoidismo, eu não cumpri os requisito – pois é além das hemorroidas eu também tenho hipotireoidismo e tireoidite de Hashimoto – e devido a isso parte da equipe da CPN foi até o seu encontro e fez o convite para que ela fosse parir lá com elas, na CPN, só que ela não aceitou (Como assim Jesus? Como uma pessoa não quer ir pra CPN? Não sei, mas talvez nesse momento a resposta da minha pergunta do motivo de tantas e tantas dores estaria para ser respondido) foi então que a equipe de enfermeiras de plantão veio me preparar para mais um exame de toque e para olhar a minha dinâmica de contrações, quando chegaram nada mais foi preciso, ouvi quando uma delas disse “Amiga, se concentra, você tá na fase expulsiva. Faz força só quando tiver a vontade de fazer a força!” eram os puxos, como eu rezei, orei e pedi para que aquele momento chegasse!
A partir dai tudo foi muito rápido, passava pouco mais de 10:40 da manhã do dia 27, uma das enfermeiras viu o rebozo da Doula que estava na cama e pegou, passou por trás do seu corpo e me estendeu para que eu segurasse enquanto o Fuinho e a enfermeira da CPN que havia subido para o leito 02 me ajudavam a respirar, só que eu sou muito pequena para aquela cama tão grande, e eu acabava escorregando quando fazia a força, foi então que o Fuinho subiu na cama e ficou por trás de mim, me coloquei entre suas pernas perto do colo, encostou meu corpo no seu peito e guiava a minha respiração com a dele para que eu não me afobasse, seguramos juntos o rebozo, tenho certeza que nesse momento éramos os três que faziam força, pai, mãe e filha, mais alguns minutos de força e eu me sentia cada vez mais feliz e feliz, me vinha uma alegria que eu não sabia controlar, eu sorria enquanto fazia força, não sentia mais nenhuma dor, nesse momento parece que tudo se concentrava em mim, até a minha médica, chegou, pra fazer uma visita, e lá me encontrou no pleno momento em que minha filha nascia, lembro de ter feito mais uma força, fiz bem forte, e ouvi não um choro, mas uma frase que disse “Mamãe, pegue sua filha!” e então fui eu, fui euzinha que peguei minha filha com essas duas mãos, segurei seu corpo recém-nascido e coloquei no meu colo, foi o melhor momento da minha vida! Não sei nem ao menos explicar os sentimentos que me rodeavam, mas sei que anjos sim, todos aqueles que por mim passaram e ali estavam, emocionados, chorando, sim, uma comoção sem fim pairou naquele leito nesse instante, um parto lindo, natural e humanizado guiado por anjos com muita luta e garra!
Senti umas gotas em minha testa, quando olhei era o papai chorando, ele não se conteve, dava pra perceber pelo choro de alegria e pelas mãos que tremiam enquanto ele segurava a tesoura, fazia o juramento do cordão para nossa filha e cortava o seu cordão umbilical, foi tudo, tudo lindo, após 56 horas de luta e de Trabalho de Parto, pari minha filha às 11h da manhã do dia 27 de julho de 2019.
Bem vinda ao mundo, Ágatha Lis, minha filha!

Por Yôhanny Barboza

OBS: Pra quem não sabe Yôhanny Barboza é filha do saudoso jornalista Barboza Júnior, que morreu vítima de uma acidente de trânsito na esquina da antiga Casa de Saúde Dr. Francisco Brasileiro, em Campina Grande – PB

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