Marido diz que cozinheira não concordou em depor no sítio de Atibaia e que filho ‘adoeceu’; MPF nega coação

Publicado em 28 de junho de 2018

O eletricista Lietides Pereira Vieira disse em depoimento ao juiz Sérgio Moro, no dia 20 de junho, que a mulher dele, a cozinheira Rosilene da Luz Ferreira, não concordou em ir para o sítio em Atibaia (SP) para depor.
Ele também argumentou que o filho, de oito anos, que foi levado junto, adoeceu e precisou de tratamento psicológico porque ficou muito tenso.
Lietides foi ouvido na condição de testemunha de Fernando Bittar no processo que apura a propriedade do sítio. Nesta ação, a força-tarefa da Lava Jato acusa Lula de receber propina proveniente de seis contratos firmados entre a Petrobras e a Odebrecht e a OAS. Os valores foram repassados ao ex-presidente em reformas realizadas no sítio, segundo os procuradores.
Lula nega as acusações e diz não ser o dono do imóvel. Além do ex-presidente e de Fernando Bittar, outras 11 pessoas são rés no processo.
Após ser questionado pelos advogados de Fernando Bittar se Rosilene concordou em depor no sítio, Lietides respondeu: “Não é bem que ela concordou, né. Eles levaram ela. A senhora vai ter que ir lá para depor para fazer alguns esclarecimentos”.
O depoimento de Rosilene foi colhido no dia 4 de março de 2016, mesmo dia em que foi deflagrada a 24ª fase da Lava Jato e que o ex-presidente Lula foi alvo de um mandado de condução coercitiva.
Lietides foi ouvido na condição de testemunha de Fernando Bittar no processo que apura a propriedade do sítio. O eletricista disse ainda, segundo o MPF, que houve coação por parte das autoridades ao levar a esposa dele da casa dela para depor no sítio.
“Meu filho faz tratamento psicológico com a pediatra e psicológica até hoje, porque ele ficou muito tenso. Ele ficou muito com medinho, meu filho adoeceu. Meu filho ficou uns oito dias em que ele dormia comigo atracado no meu pescoço, com medo”, relatou o eletricista.
Lietides Vieira e a mulher trabalharam no sítio, ela era cozinheira. O marido disse ainda que a mulher prestou depoimento por cerca de uma hora até ser conduzida novamente para casa. “Ela me contou que eles falaram: ‘a senhora vai ter que ir lá depor, prestar alguns esclarecimentos”.
Procuradores dizem que não houve coação ou condução coercitiva
Após o depoimento do marido, o juiz federal determinou que o Ministério Público Federal (MPF) se manifestasse. O parecer foi publicado no sistema da Justiça Federal do Paraná na noite desta terça-feira (26).
“Conclusivamente, ao contrário do que afirmado por Lietides Pereira Vieira, não houve nenhuma coação ou condução coercitiva da testemunha Rosilene da Luz Ferreira, e de seu filho, tendo o procedimento se pautado pelas normas legais, conforme acima narrado”, disseram os procuradores.
O MPF afirmou que Rosilene se dispôs a ir ao sitío de Santa Bárbara para falar com a força-tarefa. Isso porque, conforme o MPF, o equipamento para a gravação do áudio do depoimento estava com pouca bateria, inviabilizando a tomada do depoimento na casa de Rosilene.
Conforme os procuradores, então foi proposto que o depoimento fosse tomado à tarde na própria residência da testemunha. Segundo eles, a cozinheira ponderou que nesse horário trabalharia em outro local e que, para ela própria, seria melhor que o depoimento fosse realizado ainda pela parte da manhã.
“Como a equipe comandada pelo Delegado Mauat e encarregada da tomada dos depoimentos somente encerraria os trabalhos no sítio após o meio dia, a testemunha se dispôs a comparecer na base operacional da PF no sítio Santa Barbara para formalizar e prestar depoimento ainda pela manhã, desde que pudesse se deslocar na viatura da Polícia Federal até o local onde seria colhido o depoimento e nela ser trazida de volta a sua residência a tempo de não se atrasar para o trabalho”, diz trecho da manifestação dos procuradores entregue à Justiça.
Quanto à presença do filho de Rosilene no sítio, os procuradores disseram que foi uma decisão dela mesma, sem nenhuma ingerência do Ministério Público ou dos policiais de apoio. “Ele – o menor – poderia ter permanecido junto com o esposo ou companheiro, por decisão exclusiva de seus genitores”, disse o MPF.

O depoimento do marido de Rosilene
Após ser questionado pela defesa do empresário Fernando Bittar durante o depoimento, o eletricista Lietides disse que no dia em que foi deflagrada a 24ª fase da Operação Lava Jato, policiais e procuradores foram até sua casa, por volta das 6h, e levaram a esposa para prestar depoimento no sítio em Atibaia (SP) sem apresentar mandado.
Ele disse que, primeiro, pediram o documento dela e assinaram um papel. Na sequência, o eletricista contou que tinha consulta médica marcada e que ficou sabendo que a esposa e o filho tinham sido levados por telefone quando ela ligou.
“Meu filho faz tratamento psicológico com a pediatra e psicológica até hoje, porque ele ficou muito tenso. Ele ficou muito com medinho, meu filho adoeceu. Meu filho ficou uns oito dias em que ele dormia comigo atracado no meu pescoço, com medo”, relatou.
Lietides é irmão de Élcio Vieira, caseiro do sítio atribuído a Lula, e conhecido como Maradona. Ele diz ter prestado serviços no sítio e que a mulher, esporadicamente, fazia limpeza no local.
De acordo com o eletricista, depois de ser questionado pela defesa do ex-presidente, a mulher teve que responder, entre outras perguntas, sobre Lula. “Eles perguntaram para ela se ela já tinha visto o ex-presidente Lula no sítio”, contou.
Vieira afirmou ainda que a esposa que trabalhava para Bittar também causou problemas à saúde dela. “A gente vem de família simples e humilde. E a gente não tem esse tipo de parâmetro, de presenciar uma cena assim, doutor. Então isso foi um abalo gigantesco para ela e para o meu filho”, disse.
Depois de pedir esclarecimentos sobre pagamentos pelos serviços prestados no sítio, Moro questionou o eletricista sobre o episódio da mulher e do filho. O juiz quis entender o motivo do fato nunca tinha sido mencionado e como a defesa de Bittar sabia.
O advogado interferiu e explicou que soube por meio do irmão do eletricista. Moro disse que o fato seria apurado. “Me causa um pouco de surpresa que esse assunto venha à tona de surpresa durante uma audiência e nunca tenha sido trazida ao juízo anteriormente”, afirmou o juiz.
G1

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