Menino de 12 anos é resgatado com vida de escombros de prédios que desabaram na Muzema
Publicado em 13 de abril de 2019Os bombeiros conseguiram resgatar no final da noite desta sexta-feira (12), o menino de 12 anos que estava sob os escombros de um dos prédios que desabaram na Muzema, Zona Oeste do Rio. Segundo a corporação, o resgate de Hilton Guilherme Sodré de Souza foi por volta das 23 horas. Com fratura em uma das pernas e ferimentos no rosto, mas consciente, o garoto deixou o local de ambulância e foi levado para o Hospital Miguel Couto, na Gávea.
Os pais de Hilton, Hilton Berto Rodrigues Souza e Maria de Nazaré Sá Sodré são considerados desaparecidos.
Ao menos sete pessoas morreram e dez ficaram feridas (veja a lista mais abaixo) no desabamento de dois prédios na Muzema na manhã desta sexta. Bombeiros vasculham os escombros para tentar localizar outras vítimas. De acordo com a Defesa Civil, há 13 desaparecidos.
Os imóveis tinham cinco andares. A Prefeitura do Rio informou que as construções são irregulares e chegaram a ser interditadas duas vezes- em novembro de 2018 e em fevereiro deste ano.
Resumo
• Dois prédios desabaram em área perto de mata em Muzema, comunidade na Zona Oeste do Rio; as causas ainda são investigadas
• 7 mortos: dois homens, uma criança e quatro corpos não identificados
• 10 feridos, entre eles o menino de 12 anos Hilton Guilherme Sodré de Souza resgatado no final da noite
• 13 desaparecidos, segundo o coronel Geises, subcomandante-geral da Defesa Civil
• A Prefeitura do Rio informou que os prédios são construções são irregulares e chegaram a ser interditados duas vezes nos últimos meses
• Três imóveis na área oferecem riscos e serão demolidos, segundo a prefeitura
• A comunidade da Muzema é controlada por milicianos
• A região foi muito afetada pelo temporal do início desta semana
Resgates emocionantes
Das oito pessoas resgatadas com vida, ao menos duas foram levadas de helicóptero ao hospital. Como a região é de difícil acesso, os bombeiros tiveram de fazer uma operação especial para tirar as vítimas sem pousar em nenhum lugar (assista no vídeo abaixo).
O helicóptero ficou pouco mais de um minuto acima de um prédio, mas sem encostar na laje, que não suportaria o peso. Rapidamente, o ferido foi colocado dentro da aeronave.
As vítimas foram levadas aos hospitais municipais Lourenço Couto e Miguel Couto e para o hospital particular Unimed-Rio. Entre os resgatados dos escombros, está uma família que se mudou há uma semana para o local: um casal e uma filha de 10 anos.
Mortos:
• Cláudio Rodrigues, de 40 anos – pastor, ele era vice-presidente de associação de moradores e morreu no Hospital Unimed. Sua mulher, Adilma, e a filha, Clara, estão internadas.
• Pedro Lucas, de 7 anos
• Raimundo Nonato do Nascimento, de 41 anos, – era motorista de aplicativo e pai de pai de Pedro Lucas
• Quatro corpos retirados dos escombros no início da noite
Feridos:
• Luciano Paulo dos Santos, de 38 anos – com escoriações múltiplas, foi levado ao Hospital Lourenço Jorge e já teve alta
• Adilma Rodrigues, de 35 anos – com trauma no abdômen, passou por cirurgia nesta sexta no Hospital Lourenço Jorge e deve ser submetida a uma segunda cirurgia neste sábado (13).
• Evaldo Vieira Silva, de 46 anos – socorrido de helicóptero, foi levado ao Hospital Miguel Couto com duas costelas fraturadas e coágulo no pulmão; também quebrou um dente e tem escoriações generalizadas.
• Clara Rodrigues, de 10 anos – foi levada ao Hospital Unimed-Rio e, segundo parentes, teve alta.
• Raimundo Nonato Ferreira Gomes, de 41 anos – com escoriações na cabeça e no queixo, foi levado ao hospital Lourenço Jorge e já teve alta.
• Carolina Ferreira Andrade – foi socorrida de helicóptero e levada ao Hospital Miguel Couto.
• Paloma Paes Leme Barroso, com idade ainda não confirmada.
• Rafael Paes Leme do Nascimento, de 4 anos, filho de Paloma.
• Hilton Guilherme Sodré de Souza, de 12 anos – encontrado com vida no início da noite.
• Uma menina de 4 anos que morava no terceiro andar de um dos prédios saiu do local apenas com ferimentos leves. Os pais e os irmãos dela continuam desaparecidos.
“Tentamos acalmar, ela chegou aqui tremendo, em estado de choque, muito abalada. Ela só falou que alguma coisa desceu e ela escorregou na terra”, disse uma vizinha que acolheu a criança.
Situação dos prédios
O desabamento aconteceu por volta das 7h desta sexta. Não chovia no momento, mas a região sofreu com os temporais desta semana. As avenidas de acesso ainda estão alagadas.
A área onde ocorreu o acidente foi isolada, e os bombeiros disseram que outros prédios da região podem ir abaixo. No início da manhã, havia um forte cheiro de gás nas imediações.
Segundo o repórter Genilson Araújo, há cerca de 60 prédios em construção na região, que é dominada por milícias.
Reportagem do RJ2 mostrou que criminosos atuam na construção e venda de imóveis irregulares.
A Prefeitura do Rio mandou interditar, por duas vezes, os dois edifícios – em novembro de 2018, pela Secretaria Municipal de Urbanismo, e em fevereiro deste ano, pela Defesa Civil Municipal. Mesmo assim, segundo fontes da TV Globo, apartamentos continuaram a ser vendidos.
Moradores dos prédios que desabaram disseram que eles foram inaugurados há seis meses.
Inicialmente, o prefeito Marcelo Crivella informou que uma liminar judicial impediu a demolição dos imóveis. “Essas edificações estavam em loteamento irregular. A Prefeitura do Rio já havia comunicado ao Ministério público e tentado interditar, mas infelizmente, uma liminar judicial impediu a demolição desses prédios e as obras continuaram”, postou Crivella em uma rede social.
Mais tarde, em nota, a prefeitura disse que a demolição afetaria outros quatro imóveis no condomínio, mas não os dois que desabaram. “Os dois prédios que caíram estão na 3ª fase”, informa o comunicado, citando a fase de “interdição”.
O prefeito Marcelo Crivella, que foi para o local do acidente, afirmou: “Estamos aqui com a nossa equipe trabalhando para tentar resgatar as pessoas dos escombros. Fica para todos nós uma lição: quando a Prefeitura alertar sobre esses riscos, vamos dar ouvidos para que isso não aconteça nunca mais”.
Relatos de moradores e vizinhos
Uma mulher, que se identificou como Érica, contou que tentava encontrar a mãe nos escombros. O padrasto conseguiu sair prédio.
“Meu padrasto está vindo pra cá, mas a minha mãe está gritando ali. Os moradores que estão ajudando foram até ali e ouviram uma senhora gritar exatamente no quarto dela”, disse a moradora.
De acordo com ela, os moradores estavam preocupados com as consequências da chuva e o andamento das construções.
“Eles construindo sem fim, sem parar. Uma construção atrás da outra, uma loucura. Era retroescavadeira, explosões constantes. Só querem construir e vender”, afirmou ela.
Edvaldo, morador do primeiro andar do prédio, disse que teve que correr para conseguir escapar. Ele tem escoriações na perna.
“Eu estava no quarto, aí corri para a sala. Quando eu cheguei lá, desmoronou tudo em cima de mim. Foi muito rápido. Passou um pó branco, muita poeira”, destacou Edvaldo.
Outro morador, chamado Ronaldo, contou que as construções são novas. “De repente foi um estrondo, foi tudo de uma vez. Do nada começou a desmoronar”, explicou.
Chuvas
A Muzema foi uma das áreas mais atingidas pelo temporal que caiu no Rio. A cidade está em estágio de crise desde segunda-feira (8). O desabamento aconteceu em uma das áreas mais elevadas da comunidade, perto da mata.
Na manhã de quinta-feira (11), a principal avenida de ligação do bairro, que também dá acesso ao Rio das Pedras, continuava alagada e interditada.
G1