Movimento social Polo Obrero convoca paralisação geral para o dia 20 contra Milei, na Argentina. Presidente tem uma semana no cargo

Publicado em 17 de dezembro de 2023

Javier Milei completa neste domingo (17) uma semana como presidente da Argentina com medidas polêmicas ou que arranham a imagem construída durante a campanha presidencial.
A corrida presidencial do ultraliberal Milei contou com um discurso radical antipolítica, contra “castas” que ocupavam e eram beneficiadas por seguidos governos, e um mote: “Viva a liberdade, caralho”.
O primeiro contraste se deu ainda no dia da posse, em 10 de dezembro: Milei derrubou decreto de 2018 que impedia parentes de membros eleitos de atuar na administração público. Então, indicou Karina Milei como secretária-geral do governo; ela é irmã do presidente.
Como secretária-geral, Karina ajudará o presidente em políticas públicas, preparação de comunicados, participação em tarefas cerimoniais e protocolares, além de gestão das relações com o público, segundo a imprensa argentina.
O segundo episódio ocorreu na quinta, quando a ministra da Segurança Nacional, Patricia Bullrich, terceira colocada nas eleições presidenciais, anunciou regra que ameaça prender em flagrante manifestantes que bloquearem ruas da Argentina durante protestos –o que colide com o “Viva a liberdade” de Milei.
“É hora de acabar com esta metodologia [de protestos] que tudo o que faz é gerar a desordem total e absoluta e o descumprimento da lei, além de não proteger quem tem que levar a vida normal e pacificamente”, afirmou Bullrich.
O texto estabelece ainda, entre outros pontos, que os responsáveis pelos protestos banquem os custos decorrentes da força policial, a criação de uma lista com as entidades que mais realizam bloqueios e o veto à participação de menores de idade nesses atos.

Argentina: qual a estratégia de Milei na economia?
Segundo um levantamento da consultoria Diagnosis Político divulgado pelo jornal “Clarín”, só em novembro de 2023 ocorreram 568 piquetes em todo o país. O recorde foi registrado em agosto deste ano: 882 interdições.
“Consideramos ilegal [o anúncio de Bullrich]. Na Argentina há um direito à manifestação que está amparado na Constituição. Se a ministra quer suspender as garantias constitucionais que existem só há um caminho: mandar [um pedido] ao Congresso para que se declare um estado de Sítio”, disse Gabriel Solano, dirigente do movimento social Polo Obrero.
O Polo Obrero marcou para dia 20, aliás, o que deve ser o primeiro teste efetivo da lei: uma paralisação em todo o país para protestar contra as medidas econômicas de Milei. Em entrevista a uma rádio argentina neste sábado (16), Patricia Bullrich disse que a lei será cumprida.
Durante a campanha eleitoral, Javier Milei repetiu o slogan “el que corta no cobra” (“quem corta, não recebe”, em português), para dizer que aqueles que bloquearem as ruas não receberão benefícios sociais –Bullrich voltou neste sábado a ameaçar esse corte. O bordão contraria o lema “viva la libertad, carajo” (“viva a liberdade, caralho”), também usado pelo político antes de ser eleito.

‘Plano Motosserra’
Na terça (12), o ministro da Economia da Argentina, Luis Caputo, anunciou o plano de ajustes, a medida mais esperada do novo governo. O pacote inclui termos como a desvalorização do peso, a redução de subsídio e o cancelamento de licitações.
O ajuste foi chamado na imprensa de “Plano Motosserra”, em referência à motosserra que Milei exibiu na campanha para presidente e que simbolizava o que o, à época candidato, queria fazer com os gastos públicos — cortá-los brutalmente. Ainda não se falou em dolarização da economia, uma das promessas de campanha de Milei.
“Estamos na pior fase da nossa história”, disse o ministro, que disse que a Argentina gasta bem mais do que arrecada —o déficit fiscal. “Se seguir como estamos vamos ter hiperinflação.” A ideia, diz, é “neutralizar a crise”.
Todas as medidas entrarão em vigor com a virada do ano.
Um dia após o plano ser anunciado, a petrolífera Shell aumentou os preços dos combustíveis em cerca de 37%, e a estatal argentina YPF aplicou um aumento, em uma média, de 25%, gerando uma corrida a postos de gasolina diante de um temor de mais subidas.

Entre as medidas estão:
• Desvalorização do peso: US$ 1 passará a valer 800 pesos; hoje cada dólar vale 365 pesos. Isso inclui um aumento provisório do imposto de importações (chamado de “Pais”, que incide sobre a compra de dólares) e dos impostos retidos na fonte sobre as exportações não agropecuárias.
• Licitações: suspender novos editais de obras públicas e cancelar licitações que ainda não começaram.
• Reduzir subsídio à energia e aos transportes: na prática, as contas de luz e gás aumentarão, assim como as tarifas de trens e ônibus em toda a região metropolitana de Buenos Aires.
• Reduzir ao mínimo transferências às províncias.
• Suspensão de publicidade do governo por um ano.
• Cargos públicos: não renovar contratos de trabalho com menos de um ano.
• Corte na estrutura do governo: reduzir 106 para 54 o número de secretarias, e os ministérios de 18 para nove.
• Social: priorizar projetos sociais que não exigem intermediários e fortalecer programas como o que paga um auxílio a mães com filhos.
• Substituir o sistema de importações para um que não exigirá informações de licença prévia.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) elogiou as medidas e as tratou como “audaciosas”. “Essas ações iniciais audaciosas têm como objetivo melhorar significativamente as finanças públicas de maneira a proteger os mais vulneráveis na sociedade e fortalecer o regime de câmbio”, informou o órgão em nota.

G1

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