Nenhum líder mundial, para além de Israel, condenou fala de Lula sobre massacre em Gaza
Publicado em 20 de fevereiro de 2024A corajosa declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que comparou o atual massacre em curso pelas forças militares de Israel na Faixa de Gaza ao genocídio perpetrado contra o povo judeu pelo regime nazista de Adolf Hitler, continua gerando intensos debates.
O pronunciamento ocorreu durante a Cúpula da União Africana, na Etiópia, no último domingo (18). Lula afirmou:
“O que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não tem precedentes na história. Na verdade, tem. Quando Hitler decidiu exterminar os judeus”.
A maioria das críticas à declaração do presidente brasileiro vem, naturalmente, do governo de Israel, incluindo o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, parte da mídia nacional e da oposição ao governo Lula no Congresso.
Netanyahu classificou a declaração de Lula como “vergonhosa”, afirmou que o presidente “ultrapassou uma linha vermelha” e repreendeu publicamente o embaixador brasileiro em Tel Aviv. Em resposta, Lula agiu com firmeza, chamando o embaixador brasileiro em Israel de volta ao Brasil “para consultas” e convocando o embaixador israelense “para esclarecimentos”.
Antes da escalada diplomática entre Brasil e Israel, Netanyahu e o presidente do país, Isaac Herzog, instaram líderes mundiais a rejeitar a comparação feita por Lula entre o genocídio em Gaza e o Holocausto. No entanto, esse apelo não obteve resposta até o momento.
Apesar das críticas da mídia brasileira, das entidades judaicas, da oposição no Congresso Nacional e do governo israelense, nenhum líder mundial de relevância, chefe de Estado ou presidente, para além de Israel, se pronunciou ou repudiou a fala de Lula.
Pelo contrário. As reações de líderes globais nesta segunda-feira (19) em relação às ações de Israel em Gaza parecem apoiar indiretamente a declaração do presidente brasileiro. O chefe de política externa da União Europeia, Josep Borrell, por exemplo, afirmou que 26 dos 27 países do bloco pedem “uma pausa humanitária imediata que leve a um cessar-fogo sustentável” em Gaza.
Países como Canadá, Nova Zelândia e Austrália assinaram uma declaração conjunta na quinta-feira passada (15), pedindo um cessar-fogo imediato na região e se posicionando firmemente contra a política militar de longa data liderada por Benjamin Netanyahu.
O comunicado destaca: “Aproximadamente 1,5 milhão de palestinos estão refugiados na região, incluindo muitos de nossos cidadãos e suas famílias. Uma operação militar ampla seria devastadora. Exortamos o governo israelense a não seguir por esse caminho. Simplesmente não há para onde os civis possam fugir”.
Um dia antes, Espanha e Irlanda solicitaram à Comissão Europeia uma investigação “urgente” sobre se Israel está respeitando os direitos humanos em Gaza, conforme anunciado pelo primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez.
]REPERCUSSÃO NA MÍDIA INTERNACIONAL
As declarações de Lula na última reunião da União Africana comparando o genocídio israelense contra os palestinos com o Holocausto definitivamente causaram desconforto entre os sionistas.
A repercussão da fala, contudo, foi gigantesca. Praticamente todos os jornais do planeta noticiaram o discurso do presidente e a reação de Benjamin Netanyahu ao caso.
New York Times, Washington Post, Reuters, AP, France Presse, CNN, El País, Euronews, Le Monde, Le Figaro, Spiegel, Bild e tantos outros jornais repercutiram a fala do presidente brasileiro na Europa e nos EUA.
Em Israel, Haaretz, Times of Israel e outros veículos também deram destaque negativo. O próprio Haaretz, de esquerda, preferiu dar destaque à dura resposta de Netanyahu – inimigo político do periódico – do que ao argumento de Lula.
Porém, no mundo africano, asiático e sul-americano, a fala de Lula ganhou repercussão favorável de boa parte do público. Nos EUA, parte do movimento progressista incomodada com a postura de Biden e até de Bernie Sanders com a questão, também elogiou Lula.
A fala teve repercussão em veículos como al-Jazeera, al-Arabiya, enormes do mundo árabe, no Dawn, um dos principais jornais digitais do Paquistão, e no iNews, um grande portal de notícias do maior país islâmico do mundo, a Indonésia.
Nas redes sociais, porém, é onde vemos o carinho da população com o presidente Lula. Enquanto é massacrado pelos israelenses e pelos sionistas brasileiros, Lula ganha o carinho de povos de todo o planeta. “Deus abençoe sua geração. Você é realmente um homem e um líder”, afirma comentário na al-Jazeera.
“Respeito enorme a este homem. Obrigado por defender a Humanidade. Viva o Brasil!. Se o mundo tiver um prêmio de humanidade, então o presidente Lula não terá concorrência porque ganhou esse prêmio”, em comentários vindos do Paquistão. “Um grande apreço por esse homem corajoso”, em postagens sobre o tema nos países africanos.
“No ano passado, Bernie Sanders me decepcionou porque não pediu um cessar-fogo em Gaza, mas Lula substituiu o bom velhinho esquerdista em meu coração”, tuitou uma conta estadunidense em espanhol.
Foto: Ricardo Stuckert
Revista Forum