No encerramento da Semana da Indústria, Mário Sérgio Cortella fala sobre a capacidade humana de persistir, e inovar por meio da criatividade

Publicado em 21 de maio de 2021

Foram três noites de uma programação intensa que discutiu Economia, Comportamento e Inovação, com a participação de palestrantes renomados. E nesta quinta-feira, 20/05, a palestra do filósofo e educador, Mario Sérgio Cortella encerrou a Semana da Indústria, edição Online.
De forma descontraída, Cortella mostrou que apesar dos tempos difíceis que estamos vivendo, provocados pela Pandemia, devemos superar os desafios, e citou uma frase de Ariano Suassuna, que representa muito bem isso.
“Difíceis tempos temos vivido, mas não invencíveis, complexos, mas não intransponíveis, afinal de contas, se há algo que nós mulheres e homens na vida somos capazes de modos variados e em tempos variados, é ultrapassar aquilo que nos bloqueia, por intermédio da criatividade, da inovação, produzindo coisas que nos façam estar numa situação melhor do que aquela que hoje estamos. Claro, o momento é difícil, ele é tão difícil que venho lembrando com muita frequência de um estupendo paraibano, um homem genial que nos deixou em 2014, Ariano Suassuna, que entre as várias genialidades que ele colocou, ele lembrou algo que tem muito sentido no atual momento, e que exige da gente mais inteligência, capacidade, criatividade. Ele disse que ao redor do buraco, tudo é beira. E é claro que dizendo isso ao modo dele, isso fica mais expressivo. Mas o que ele quis dizer com isso foi mostrar que estamos numa circunstância difícil, mas que pode ser superada”.
Durante a palestra, ele lembrou o exemplo de dedicação do pai dele, que saiu do interior de São Paulo, em busca de vencer na vida, na região Norte do Paraná.
“Meu pai muito jovem, se tornou gerente de banco, com 20 e poucos anos, e claro isso era possível, sem que tivesse uma formação mais elaborada. E minha mãe já era professora, e ambos saíram do interior de São Paulo, assim que casaram e foram morar no Norte do Paraná, onde eu nasci. E meu pai jovem, gerente de banco, tinha que sair todos os dias para visitar os clientes. Não havia o mundo digital, a criatividade estava em ir até onde o cliente trabalhava, vivia. Na roça, na loja, no comércio, olha só e tinha que fazer isso de Jeep, não tinha como circular naquela região pelas estradas esburacadas ou sem calçamento, sem asfalto, se não fosse de jeep. E ele fazia isso num jeep de capota de lona, no calor, de terno, gravata, camisa branca, todos os dias meu pai passava horas e horas fazendo isso, e ele chegava em casa, por exemplo, no final da tarde 18h30, cansado, cheio de poeira, ainda suado do dia, com o colarinho da camisa marcado pela terra. E ao entrar em casa, eu me lembro disso até hoje, assim que entrava em casa, ao invés de reclamar, e xingar, a primeira coisa que ele dizia, olha como eu sou abençoado filho, hoje o jeep quebrou na estrada, e não estava chovendo. Outra vez disse, olha filho, hoje faltou gasolina e só faltavam 2 quilômetros para um posto de gasolina. E ele não fingia que os problemas não existiam, ele não dissimulava as dificuldades, ele não fazia o jogo do contente, em que ele brincava que as coisas não estavam acontecendo, apenas ele não era derrotado por essas coisas, ele entendia, e você entende e eu também, que é melhor sim, acender uma vela, do que amaldiçoar a escuridão. Acender uma vela do que amaldiçoar a escuridão não é negar que a escuridão existe. Nós vivemos agora tempos em que a escuridão está sim, a nossa volta em várias situações, portanto não é tão fácil”, afirmou Cortella.
O filósofo lembrou que apesar de estarmos passando por tempos difíceis, de perdas de pessoas, de convivência, temos que ser capazes de criar, inovar e inventar ser capazes de buscar trilhas e alternativas, e citou Guimarães Rosas. “Em Grandes Sertões Veredas, Guimarães Rosas, nos mostra que temos que buscar as veredas, porque a vida é grande sertão, mas tem veredas, ela tem trilhas alternativas e veredas, e nesse sentido nossa cabeça como colaboração, como capacidade de cooperação, ela tem que se juntar, para que a gente não ache que não há o que fazer”, disse.
No encerramento da palestra ele deixou uma reflexão. “Não é a tecnologia que torna uma cabeça moderna, é que uma cabeça moderna, não dispensa a tecnologia. E nem sempre inovar é criar o inédito, as vezes é, mas muitas vezes é dar vitalidade ao antigo”, completou Sérgio Cortella.
Todas as palestras da Semana da Indústria, edição Online, podem ser acompanhadas no canal do YouTube da FIEP, no endereço: https://www.youtube.com/watch?v=O2-WV-aZhyQ

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