Novo vice da CBF sobre corrupção no futebol brasileiro: “Eu nunca vi”
Publicado em 17 de dezembro de 2015Eleito vice-presidente na tarde desta quarta-feira, o coronel Antonio Carlos Nunes, de 77 anos, concedeu entrevista à noite na sede da CBF. Afirmou que nunca viu corrupção no futebol brasileiro e, questionado sobre quais propostas pretende apresentar para modernizar a entidade, se limitou a dizer “vamos ver”. Ele rasgou elogios ao reforço do Vasco, Yago Pikachu, e ao técnico do Paysandu, Dado Cavalcanti, que disse ser o melhor treinador do Brasil.
Indagado se, caso assumisse a presidência, Dunga continuaria como treinador, Nunes ressaltou que técnico vive de resultados, com exceção de João Galvão, do Águia de Marabá. Sobre as críticas à eleição e os votos contrários, declarou:
– Unanimidade é burra.
Confira a entrevista coletiva do Coronel Nunes:
Como surgiu o seu nome para a vice-presidência da CBF?
Antonio Carlos Nunes: – Quando começamos a conversar foi através do Rubens Lopes (Ferj) e do Reinaldo Bastos (FPF), porque o estatuto não diz de onde é, o que é. Tem de preencher. A vacância era do José Maria Marin, que era da região.
O que o senhor pretende propor? O que tem de mudar e o que está certo?
– Acabei de ser eleito e empossado para o cargo de vice-presidente. Vamos ver o que virá pela frente, é transição, é fim de ano. A gente aprende muita coisa no futebol para depois, com a mudança, você poder evoluir.
A partir de amanhã o senhor já fica aqui na CBF?
– Não, pelo seguinte, fui eleito, mas o presidente Marco Polo está com uma licença provisória e o estatuto permite que ele escolha o vice, está o Marcus Vicente. Pode ser que depois faça um revezamento.
O que acha de entrar nessa gestão com o presidente indiciado pela Justiça americana e investigado pelo Comitê de Ética da Fifa?
– Olha, o que eu venho acompanhando no futebol brasileiro é aquilo que a cada ano se realiza… Os campeonatos, jogo de seleção… Às vezes não é só o dedo do presidente e do vice que vai resolver isso aí. É o time mesmo dentro de campo.
A gestão é boa, portanto?
– Eu estou vendo aí que nada foi paralisado na CBF.
O senhor se sente preparado para assumir a presidência?
– Seria leviano dizer que não. Quem está na chuva é para se molhar, não é?
O senhor acredita na inocência do Marco Polo del Nero? Deseja que ele volte?
– Vou responder como bacharel em Direito que sou. Em processo, bacharel em Direito só costuma se manifestar depois de ver os autos.
E o senhor viu os autos?
– Não. Não sou o advogado da questão. O processo não veio para a minha mão até pela conjuntura como a Justiça conduz os autos.
Existe corrupção no futebol brasileiro?
– Acredito que não, eu nunca vi, e olha que milito no futebol há muito tempo. Não tenho conhecimento.
O que acha das pessoas que foram contra a assembleia e qualificaram como manobra?
– Quem é contra é muito bom. Unanimidade é burra. Quem é contra é bom porque está exercendo o pleno Direito na livre democracia.
Quem foi o melhor presidente da CBF: Del Nero, Marin ou Ricardo Teixeira?
– Aí eu tenho de pegar os dados para avaliar.
Qual a nota o senhor daria para a gestão do Del Nero?
– Deixa terminar o mandato para avaliar. Atualmente não dá, está em curso.
Acha que ele vai terminar o mandato?
– Aí não sei dizer.
Tem vontade de visitar seu amigo José Maria Marin (que está em prisão domiciliar nos Estados Unidos)?
– Se tiver oportunidade, visito. Visito pessoas amigas em qualquer lugar.
O senhor é a favor de reformulação do estatuto da CBF?
– Recentemente atualizei o lá da minha federação. Tem de atualizar muita coisa, dentro da lei do Profut.
O que exatamente tem de atualizar?
– A lei determina, publicação de contas, de extrato, de balanço… Coisas que já são feitas, alguns não fazem.
Postura em relação aos vices Delfim Peixoto e Gustavo Feijó?
– Nunca esperei chegar numa eleição dessa com unanimidade. Já sabia quem votaria contra. O Delfim defendeu a posição dele, a gente se dá bem, amigo de muitos anos aí. Mesma coisa o Feijó. Terminou, nos abraçamos, cumprimentamos e toca o barco para frente.
Qual seu maior desejo para o futebol brasileiro hoje?
Aquele negócio, colocar (a seleção) para jogar mesmo e trazer o título que a gente vem atrás, vem atrás…
Pikachu é seleção? Vai dar certo no Rio?
– Vai dar certo, eu fui um dos que recomendaram ao Jorginho (técnico do Vasco). Nunca vi um lateral-direito entrar na área da direita para a esquerda e fazer gol com a canhota, é diferente.
Mas o senhor o indicou para o Jorginho?
– Eu me dou bem com o Jorginho. Tinha uma notícia em Belém, telefonei e disse que tinha uma notícia. Ele disse: “Olha, estamos com foco no jogo com o Coritiba”. Depois disso… O presidente do Paysandu estava até aqui, confirmando que ele vai para o Vasco.
Quem é o melhor técnico do Brasil hoje?
– Para mim, é o Dado Cavalcanti, do Paysandu, recuperou o time e quase levou o time para o G4 (da Série B). Mas vacilou em casa.
E da Série A?
– O Jorginho. Pegar time bom lá em cima é fácil, o Jorginho pegou o Vasco e fez uma grande campanha.
Dunga continuaria sob o seu comando?
– Como torcedor, a gente tem de dizer assim. O Dunga já trabalhou comigo e sempre gostei do trabalho dele. Mas o treinador, isso aprendi no Paysandu, vive de resultado. Às vezes me doía no coração ter de dispensar o treinador. Isso é do futebol brasileiro. É difícil. Só tem um treinador aqui no Brasil, o João Galvão, do Águia de Marabá. Esse está com mais ou menos 250 partidas. Já dei uma placa para ele quando completou 150 partidas dirigindo o Águia de Marabá. Esse é o que demora mais tempo que eu conheço. Mas ele é bom para o Águia de Marabá.
O senhor se incomoda de ser chamado de coronel?
– Não. Só não quero que o tesoureiro não bote lá coronel, aí o meu dinheiro vai lá para baixo.
Globoesporte