Pandemia impactou 70% das indústrias

Publicado em 3 de setembro de 2020

A pandemia da covid-19 teve um impacto geral negativo sobre os negócios de 70% das empresas brasileiras, segundo pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Responsável pelo estudo, o diretor de Pesquisa da instituição, Eduardo Rios Neto (foto) explica, nesta entrevista, que “o maior percentual de empresas em que a pandemia teve efeito negativo estava no setor de serviços, seguido por indústria, construção e comércio”. Economista com doutorado em demografia pela Universidade de Berkeley, nos Estados Unidos, Rios Neto foi também professor na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) de 1980 a 2015. Confira a entrevista completa a seguir:

REVISTA INDÚSTRIA BRASILEIRA – A pesquisa Pulso Empresa: Impacto da Covid-19 nas Empresas foi criada recentemente. O que levou à criação do estudo?
EDUARDO RIOS NETO – No Brasil, o primeiro caso confirmado de covid-19 foi no final de fevereiro. A partir da segunda quinzena de março, diversas medidas de isolamento social foram adotadas, com restrição ao deslocamento de pessoas e fechamento temporário de estabelecimentos não essenciais, decididos por estados e municípios, visando preservar a população e o estresse sobre os serviços de saúde. Ainda no mês de março, os efeitos sobre as empresas começaram a ser percebidos pelos indicadores conjunturais do IBGE sobre a produção industrial, o volume de comércio e o volume de serviços. Ao longo de abril, dada a magnitude e multiplicidade de choques negativos observados na atividade econômica, notamos impactos em diversos setores, o que demandou um estudo específico.

REVISTA INDÚSTRIA BRASILEIRA – Que dados são coletados?
EDUARDO RIOS NETO – O IBGE desenvolveu uma gama de produtos para contribuir no entendimento dos impactos da pandemia na sociedade. Essa pesquisa, de natureza experimental, tem o objetivo de identificar e acompanhar a evolução de alguns dos principais efeitos da pandemia nas empresas, principalmente as de pequeno porte. Ela se baseia num questionário de resposta rápida, com perguntas qualitativas, dirigido a um conjunto de empresas de diferentes tamanhos, segundo o número de pessoas ocupadas, espalhadas no território e representativas dos setores de indústria, construção, comércio e serviços.

REVISTA INDÚSTRIA BRASILEIRA – A primeira edição da pesquisa mostrou que a pandemia do novo coronavírus teve um impacto negativo sobre os negócios. Que dados o senhor destacaria?
EDUARDO RIOS NETO – Nessa primeira edição, as empresas compararam a situação percebida na primeira quinzena de junho ao período anterior ao início da pandemia. Os resultados mostraram que, entre 2,7 milhões de empresas em funcionamento, 70% reportaram que a pandemia teve um impacto geral negativo sobre o negócio. Por outro lado, algumas afirmaram que a pandemia trouxe oportunidades, com um efeito positivo. Por segmento, o maior percentual de empresas em que a pandemia teve efeito negativo estava no setor de serviços, seguido por indústria, construção e comércio.

REVISTA INDÚSTRIA BRASILEIRA – E como ficou a produção?
EDUARDO RIOS NETO – Em relação à produção, 63% das companhias tiveram dificuldade de fabricar produtos ou atender clientes, 29,9% relataram não ter havido alteração significativa e 6,9% informaram que tiveram facilidade, mas a maior parte das empresas teve dificuldades para realizar pagamentos de rotina. Nossa estimativa, com base na pesquisa, é que cerca de 1,2 milhão de empresas em funcionamento adiaram o pagamento de impostos desde o início de março, sendo que mais da metade considerou ter recebido apoio do governo na adoção dessa medida.

REVISTA INDÚSTRIA BRASILEIRA – Em relação à indústria, quais são os dados pesquisados?
EDUARDO RIOS NETO – Foram investigadas empresas de diferentes segmentos industriais e tamanhos, localizadas de forma espalhada no território. Os resultados estimados foram apresentados de forma agregada e mostraram que os impactos negativos foram percebidos por cerca de 73% das empresas industriais, até o final da primeira quinzena de junho. Entre os problemas apontados estão percepção de redução nas vendas, maior dificuldade na capacidade de fabricar produtos e dificuldades em acessar fornecedores de insumos e matérias-primas em decorrência da pandemia. Isso fez com que seis em cada dez empresas industriais reportassem, também, dificuldades para honrar pagamentos de rotina.

REVISTA INDÚSTRIA BRASILEIRA – Como ficaram as vendas industriais?
EDUARDO RIOS NETO – Na primeira rodada, referente à primeira quinzena de junho, em comparação ao período pré-pandemia, 65,3% das empresas industriais apontaram que a covid-19 causou queda nas vendas, ou seja, é um indicador de incidência de empresas com diminuição de vendas e não de redução na escala das mesmas.

REVISTA INDÚSTRIA BRASILEIRA – As empresas tiveram dificuldade de acesso a crédito mais barato?
EDUARDO RIOS NETO – Foi identificada dificuldade de acesso a uma modalidade específica, que foi o crédito emergencial para pagamento da folha salarial, mas o custo do crédito para as empresas, principalmente para pequenos e médios empresários, não é um problema que surgiu com a pandemia.
A Indústria contra o coronavírus: vamos juntos superar essa crise
Acompanhe todas as notícias sobre as ações da indústria no combate ao coronavírus na página especial da Agência CNI de Notícias.

Banner Add

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Social media & sharing icons powered by UltimatelySocial