Profissões tecnológicas invadem o campo

Publicado em 2 de agosto de 2021

O estudo Profissões Emergentes na Era Digital: Oportunidades e desafios na qualificação profissional para uma recuperação verde mostra que, nos próximos dez anos, oito novas profissões devem ganhar destaque na Agricultura: Técnico em Agricultura Digital, Técnico em Agronegócio Digital, Engenheiro Agrônomo Digital, Operador de drones, Agricultor urbano, Engenheiro de Automação agrícola, Cientista de dados agrícola e Designer de máquinas agrícolas.
Realizada pela Agência Alemã de Cooperação Internacional (GIZ – Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit GmbH), em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e o Núcleo de Engenharia Organizacional (NEO) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a pesquisa mostra que, no pós-pandemia, a agricultura será ainda mais impactada pela digitalização, exercendo um papel essencial para uma recuperação verde – modelo de desenvolvimento que concilia fatores sociais, ambientais e econômicos.
Existe, porém, o desafio de formação de mão de obra. Nos próximos dois anos, essas oito carreiras devem gerar 178,8 mil oportunidades, mas só estarão disponíveis 32,5 mil profissionais para preenchê-las, o que representa um gap de 82%. Em médio e longo prazo (10 anos), essa lacuna deve cair para 55% – o que ainda é um percentual alto.
Isso ocorre porque tecnologias que invadiram o campo, como drones, pilotos automáticos, telemetria de máquinas, pulverização por drones, sensores multiespectrais e radares meteorológicos, serão incorporadas pelo grande, médio e pequeno agricultor, resultando em uma transformação nos empregos e no perfil do trabalhador do setor.
O relatório destaca que o setor de Agricultura, cujo PIB cresceu mesmo com a pandemia, emprega cerca de 10 milhões de pessoas somente na agricultura familiar, que corresponde a 77% dos estabelecimentos agrícolas. Em uma década, serão 18,8 milhões de postos de trabalho, sendo 360 mil para as profissões emergentes.
Cursos atualizados e formação multidisciplinar estão entre as recomendações
Além das mudanças nos empregos existentes, as novas tecnologias têm o potencial de gerar novas vagas, reduzir a desigualdade social e os recursos utilizados, e aumentar a eficiência e a competitividade do país. “Consideramos o cenário brasileiro atual e o impacto da transformação digital para mostrar a importância de determinadas profissões na definição de uma estratégia nacional de desenvolvimento econômico sustentável”, explica o assessor Técnico da GIZ Martin Studte.
As estimativas de quantos profissionais serão necessários e as lacunas entre a demanda e a oferta – ou egressos de cursos – mostram como o setor educacional brasileiro pode reagir e desempenhar um papel fundamental na recuperação verde.
“O SENAI, que acompanha as transformações do mercado de trabalho por meio de observatórios técnicos setoriais, avalia que o estudo é mais um norte para o país assumir uma posição dianteira, em comparação com outros países que também precisam atualizar sua mão de obra. Essas tendências devem ser consideradas pelas instituições de ensino profissional na formação inicial e na requalificação dos trabalhadores”, ressalta o diretor geral do SENAI, Rafael Lucchesi.
O gerente de Educação do SENAI/MT, Carlos Braguini, lembra que o ensino híbrido ou totalmente on-line é uma estratégia para requalificar os profissionais que já estão no campo. “A disponibilidade de conexão de internet nas unidades agrícolas avançou consideravelmente nos últimos anos. Precisamos formar um profissional multidisciplinar. Por exemplo, os manutentores agrícolas necessitam dominar elétrica, eletrônica, hidráulica e mecânica e ter capacidade analítica avançada. Os profissionais de agricultura digital necessitam dominar eletroeletrônica, mecatrônica, robótica, big data e data science”.
O diretor do NEO, Alejandro G. Frank, completa a lista de recomendações: investir na formação de professores, na atualização constante dos currículos e na criação de novos cursos; incentivar a interdisciplinaridade; e desenvolver políticas de inclusão digital a médio prazo.
“Para longo prazo, é importante criar um plano de atualização dos cursos no Brasil, aproximar o estudante do ensino médio da formação técnica e aumentar a oferta de cursos e de capacitação de professores em áreas menos favorecidas do país”, observa Alejandro Frank. Lucchesi lembra que a oferta do curso técnico no ensino médio está prevista no modelo do Novo Ensino Médio.

Outras conclusões
As tecnologias são utilizadas no setor em três estágios:
1. Pré-produção, para pesquisa e compra de insumos e na previsão do clima;
2. Produção, focadas na agricultura de precisão que otimiza recursos e barateia custos produtivos;
3. Pós-produção, para venda dos produtos (maior contato com consumidor final) e rastreabilidade da produção.

Elas possibilitam o aumento do rendimento do solo e maiores colheitas, além da profissionalização dos agricultores familiares. Porém, segundo os especialistas apontam, existe um distanciamento entre a formação acadêmica e a necessidade no campo de forma geral, devido à velocidade de evolução das tecnologias digitais. Se antes quem não desejava estudar ficava trabalhando no campo, hoje isso se inverteu: somente quem estuda, consegue ficar.
De acordo com as entrevistas realizadas com a Embrapa e a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), há uma estimativa de que pelo menos 60% das grandes fazendas possuam um técnico em agricultura digital até 2030. Assim, será necessária a formação de pelo menos 112 mil profissionais neste ramo para suprir a demanda – mas a previsão é de que o país tenha apenas 40,2 mil, um gap de 64%.
E, apesar da tradição e da qualidade dos cursos para formação de técnicos em agronegócio e engenheiros agrônomos, ambas as profissões exigem especialização para que eles consigam atuar com as tecnologias.

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