Refugiada da Gâmbia no Brasil é aprovada em 13 universidades no exterior
Publicado em 27 de setembro de 2021![](https://rededenoticias.com/wp-content/uploads/2021/09/Maimuna.jpg)
Mariama Bah, que nasceu na Gâmbia, no oeste da África, há 34 anos, tinha 13 quando se casou. Em 2014, ela conseguiu se refugiar no Rio. Em 2016, trouxe a filha adolescente, Maimuna Jawo, para o Brasil. Evitou, assim, que a filha passasse pela mesma experiência de enfrentar o matrimônio na adolescência e abandonar a escola.
No mundo, existem 650 milhões de meninas e mulheres que se casaram antes de completar 18 anos, segundo o Fundo da Nações Unidas para a Infância (Unicef). A entidade aponta as consequências (todas nocivas) mais usuais do matrimônio infantil:
• evasão escolar (essas mulheres tornam-se menos propensas a permanecer na escola);
• gravidez precoce;
• isolamento da família;
• e violência doméstica.
Mesmo sem falar português, Mariama trabalhou como cabeleireira, deu aulas de inglês, atuou em TV e teatro e criou uma marca de roupas que divulga a cultura africana.
“Quero mostrar o lado bonito, colorido, alegre e rico da África”, afirmou em entrevista ao g1. E a educação interrompida lá atrás em razão do casamento precoce acabou virando uma causa compartilhada por mãe e (agora) pela filha. Juntas, conquistaram uma bolsa de estudos para Maimuna na escola bilíngue Ladies of Mercy (OLM), na zona sul do Rio.
“A adaptação foi difícil. Eu não falava português e o colégio era bem longe de onde eu morava. Acordava todos os dias entre 4h e 4:30 da manhã para estar na escola às 7h. Não foi uma experiência fácil, mas eu vejo que valeu muito a pena”, contou a jovem.
Agora, aos 18 anos, Maimuna foi aprovada em 13 universidades dos Estados Unidos e do Canadá. Dentre as opções, escolheu o curso de biotecnologia na Universidade de Alberta.
“Sou de uma família de agricultores. Embora haja terras férteis na Gâmbia, muitos alimentos são importados, como frutas e legumes. Acredito que esta situação contribui para a persistência da fome e desnutrição no meu país. Com a biotecnologia, quero aprender a aumentar a produtividade dos alimentos, ajudar diminuir ou mudar a vidas de muitas pessoas”, conta.
De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), a Gâmbia produz apenas 50% dos alimentos que consome, o que faz com que o país seja dependente de importações. As mulheres são reconhecidas como as principais produtoras dos alimentos básicos, mas as disparidades de gênero na educação e no acesso à terra e ao crédito dificultam a competição no setor agrícola.
Luta pela educação
Em uma corrida contra o tempo, Mariama e Maimuna estão atrás de bolsas de estudos, ajuda financeira, patrocínios e tentam aumentar as vendas dos artigos de moda que produzem para juntar dinheiro. A intenção é conseguir uma quantia para, pelo menos, cobrir os custos do primeiro ano de estudos no Canadá — um pouco mais de R$ 160 mil.
“Minha mãe é tudo nessa história. Ela fez tudo por mim, é o ponto chave”, comentou a estudante.
Há 16 anos, Mariama tenta completar, com muita dificuldade, os estudos. Está com o curso de relações internacionais trancado, mas garante que irá finalizar. “Foi por isso que eu saí do meu país, para estudar. Este sempre foi o meu sonho”, afirmou. Depois que a filha estiver na universidade, ela pretende seguir uma carreira política e acadêmica, de luta pela educação, pelos direitos dos imigrantes e refugiados e contra o racismo. “Me sinto uma das pessoas mais ricas por ser mãe dela”, disse.
Foto: Arquivo pessoal
G1