Regime cubano autoriza manifestação popular pelos direitos dos animais

Publicado em 8 de abril de 2019

Mais de 400 defensores dos animais marcharam pacificamente mais de 1,5 quilômetro por Havana no domingo (7), gritando palavras de ordem e pedindo o fim da crueldade contra os animais em Cuba.
Curta, a marcha escreveu uma pequena mas significativa linha na história de Cuba. O governo socialista permitiu explicitamente uma marcha pública não associada a qualquer parte do abrangente Estado comunista, um movimento que os participantes e historiadores chamam de inusitado e talvez sem precedentes desde os primeiros anos da revolução cubana.
“Eu acho muito inteligente que eles aprovaram a manifestação, ou melhor, marcha”, disse o cantor Silvio Rodriguez, que critica a rigidez cultural oficial. “Isso faz a gente se sentir otimista. Agora temos que ver se a mesma coisa acontecerá com outras causas.”
Não há indícios de que Cuba esteja caminhando em direção à liberdade de manifestação irrestrita: o Estado ainda reprime o discurso político contrário com mobilizações policiais rápidas e massivas, ondas de prisões e detenções temporárias. Assim, uma marcha de grupos independentes da sociedade civil que buscavam a ação do governo foi um acontecimento notável em um país onde, por quase 60 anos, praticamente todos os aspectos da vida faziam parte de uma única cadeia de comando que terminava em um líder supremo da família Castro.
“É sem precedentes”, disse Alberto Gonzalez, organizador da marcha e editor da The Ark, uma revista on-line cubana de amantes de animais. “Isso vai marcar um antes e um depois.”
A marcha pelos direitos dos animais foi monitorada por pelo menos duas dúzias de agentes de segurança do Estado, que observavam os participantes de perto, mas não interferiam. Gonzalez disse que autoridades de segurança pediram que ele mantivesse a marcha longe de ruas principais para evitar trânsito,
Com algumas dezenas de participantes passeando com cachorros e até em carrinhos de bebê, a marcha de domingo terminou no túmulo de Jeannette Ryder, uma americana que lutou pelos direitos dos animais em Cuba no início do século XX.
Em um sinal de tensões remanescentes entre o plano oficial e o não-oficial em Cuba, muitos voluntários de grupo de animais apoiados pelo governo boicotaram a marcha de domingo e realizarão seu próprio evento na próxima semana.

Manifestações restritas
Desde logo após sua fundação, o governo comunista cubano só permitiu a existência do que chama de “sociedade civil legítima” – grupos supervisionados, patrocinados e administrados pelo Estado e pelo Partido Comunista. Esses grupos estão sempre presentes nas marchas e manifestações organizadas pelo Estado em feriados públicos.
No outro extremo do espectro estão grupos dissidentes, muitas vezes conectados a movimentos anti-Castro em Miami, que querem derrubar o governo socialista e reinstalar um sistema capitalista com laços estreitos com Washington. As tentativas de protestos de rua e outras formas de organização desses grupos são quase instantaneamente banidas pelas forças de segurança.
Desde que Raul Castro entregou a presidência ao tecnocrata Miguel Díaz-Canel, em abril de 2018, igrejas, grupos da sociedade civil e associações de amigos de mentalidade similar têm usado a crescente disponibilidade de Internet em Cuba para organizar várias causas e o governo tem cedido a esses grupos um pequeno grau de liberdade para operar.
Os artistas reagiram contra uma nova lei que regulava a expressão artística. As igrejas evangélicas incitaram o governo a rescindir uma proposta para legalizar o casamento gay. Milhares de pessoas se organizaram online para obter ajuda às vítimas de um tornado em Havana, em janeiro. O biólogo Ariel Ruiz Urquiola foi libertado da prisão depois de uma campanha online de vários cubanos contra sua sentença de um ano por “desrespeitar um guarda florestal” durante um movimento mais amplo contra a extração ilegal de madeira e outras violações ambientais no oeste de Cuba.
O ativismo pelos direitos dos animais se tornou um campo fértil para se organizar em Cuba, onde não há leis contra o abuso de animais. Praticamente todos os bairros têm um ou dois residentes dedicando horas a alimentar, tratar e esterilizar cães e gatos de rua, às vezes com a ajuda de animais. estrangeiros doando suprimentos e fundos.
O país tem apenas um grande grupo de resgate de animais oficialmente reconhecido, o Aniplant, e talvez uma dúzia de outras pequenas organizações não-estatais em Havana e outras grandes cidades. Nos últimos anos, os grupos coletaram milhares de assinaturas pedindo uma lei de proteção aos animais, sem sucesso até o momento.
Foto: AP/Ramon Espinosa
G1

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