Seis meses após jovem ser achado morto, família ainda tenta enterrar corpo em Cravinhos, SP

Publicado em 3 de julho de 2017

Quase seis meses após o corpo de Itaberli Lozano ser encontrado carbonizado em um canavial em Cravinhos (SP), a família ainda não sabe quando conseguirá enterrá-lo. Isso porque, apesar de a Polícia Civil garantir que os restos mortais são do jovem, o exame de DNA foi inconclusivo e o laudo do segundo teste realizado não tem prazo para ser divulgado.
“Enquanto isso, a gente tem que esperar. A gente sabe que o corpo é dele mesmo, mas, sem esse papel, a gente fica sem saber o que fazer. O mais difícil é ficar esperando todo esse tempo para enterrar”, diz o tio do adolescente, o técnico em segurança do trabalho Dario Rosa.
Segundo as investigações, Itaberli foi morto pela mãe dentro de casa e com a ajuda de outros três jovens. Em seguida, ela e o marido, padrasto da vítima queimaram o corpo em uma plantação às margens da Rodovia José Fregonesi. Todos os suspeitos estão presos.
Desde que os restos mortais foram encontrados em janeiro, permanecem no Instituto Médico Legal (IML) de Ribeirão Preto (SP). O primeiro exame de DNA, feito com material da mãe, foi inconclusivo. Para a polícia, o estado avançado de decomposição prejudicou o exame.
Um novo teste foi realizado há duas semanas, dessa vez com material recolhido do avô paterno. O tio do adolescente conta que o Ministério Público pediu à Justiça que o corpo não seja enterrado como indigente, enquanto as investigações não forem concluídas.
“Estamos só esperando a liberação para prestar as últimas homenagens. O rapaz do IML de Ribeirão falou que já pediu prioridade, porque foi um caso de repercussão, mas, até agora, a equipe de São Paulo não deu retorno”, afirma Rosa.

Audiências
O caso segue sob sigilo de Justiça. Para o Ministério Público, a mãe do jovem, Tatiana Lozano Pereira, de 32 anos, deve ser julgada por homicídio qualificado, ocultação de cadáver e homofobia: em postagem dois dias antes de ser morto, Itaberli diz ter sido agredido pela mãe por ser gay.
“Na legislação atual não existe lei específica de homofobia. O que existe são as motivações que qualificam o crime, ou seja, o tornam mais grave. Um deles é a torpeza e, nesse caso, a homofobia é um motivo torpe, repugnante”, diz o promotor Wanderley Trindade Junior.
Nesta quinta-feira (29), testemunhas de acusação – incluindo familiares de Itaberli – foram ouvidos pela Justiça no Fórum de Cravinhos. Para Trindade Junior, as provas colhidas até o momento são suficientes para levar a mãe, o padrasto e os jovens a júri popular.
“Os depoimentos foram divergentes. No entanto, a autoria e a materialidade ficaram demonstradas. Faltam depor as testemunhas de defesa e os réus”, afirma o promotor. Uma nova audiência foi marcada para 2 de agosto.

O crime
O corpo de Itaberli foi encontrado carbonizado em 7 de janeiro, dez dias após ter sido morto. Entretanto, a família só registrou um boletim de ocorrência relatando o desaparecimento do adolescente em 9 de janeiro.
Dois dias depois, a mãe e o padrasto, o tratorista Alex Canteli Pereira, de 30 anos, foram presos e confessaram o crime. Inicialmente, Tatiana disse que esfaqueou o filho na madrugada de 29 de dezembro. Com a ajuda do marido, ela queimou o corpo no canavial.
Em um segundo depoimento, a mãe voltou atrás e contou que havia aliciado dois jovens – Victor Roberto da Silva, de 19 anos, e Miller Barissa, de 18, para darem um “corretivo” no filho, mas sem a intenção de matá-lo.
Um dos jovens confessou ter espancado Itaberli, enquanto o outro disse que apenas conversou com a vítima. Segundo a Polícia Civil, no entanto, ambos espancaram e enforcaram Itaberli, antes de a mãe esfaquear o próprio filho.
A dupla foi presa no dia 13 de janeiro. Uma estudante de 16 anos que confessou ter presenciado o momento em que Tatiana matou o filho também foi apreendida, no dia 27 de janeiro. Para a promotoria, a menor participou diretamente na morte de Itaberli.
O Ministério Público considera que o crime foi motivado por homofobia. Para a Promotoria, a mãe não aceitava o fato de o filho ser homossexual. Já a Polícia Civil sustenta a tese de conflito familiar, alegando histórico de agressões entre ambos.
Os cinco respondem por homicídio qualificado. Tatiana e o marido ainda são acusados de ocultação de cadáver.
G1

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