Sem direito de arena, árbitros serão convocados para discutir greve

Publicado em 8 de agosto de 2015

Um veto da presidente Dilma Rousseff a um dos itens da Medida Provisória 671, sancionada na quarta-feira e transformada na Lei 13.155, gerou insatisfação aos árbitros. No texto publicado na última quarta-feira no Diário Oficial da União, o parágrafo 1º do artigo 42, que dava direito aos juízes de um repasse de 0,5% dos valores de direito de arena, vindos de transmissão de TV, foi vetado. Em seminário promovido pela CBF para a arbitragem, o presidente da Associação dos Árbitros de Futebol (Anaf), Marco Antônio Martins, mostrou sua revolta com a decisão e disse que vai propor em reunião, possivelmente na tarde desta sexta-feira, a greve da categoria. Mas descartou a paralisação na 17ª rodada do Brasileirão. O árbitro Sandro Meira Ricci já se manifestou contrário ao movimento. Será analisada também a possibilidade de um protesto simbólico neste fim de semana.

– Vamos fazer uma assembleia na semana que vem em cada estado, e a minha proposição é essa (de greve). Não temos outra solução, acho que tem que tomar uma medida drástica. Claro que a greve é a última medida a se tomar, mas acho que é o caso. Lutamos muito por esse direito, e o Poder Executivo, acho que por pressão da bancada da bola, que defende o interesse dos clubes, vetou o artigo. Mas vamos ouvir a categoria, os árbitros – declarou Marco Antônio.
Segundo Marco, o repasse significaria cerca de R$ 9 milhões que poderiam ser distribuídos à classe por campeonato. O cálculo do presidente da Anaf é de que isso renderia por volta de R$ 10 mil por partida para que fosse dividido pelo trio de arbitragem e o quarto árbitro.

– Houve uma perda muito grande de uma batalha que a arbitragem vem tendo há mais de 15 anos para ser reconhecido esse direito de imagem e de arena. Esse item era de convencimento do Senado e da Câmara dos Deputados. Foi uma luta muito grande, e uma decisão monocrática do Poder Executivo retirou mais um direito dos trabalhadores. Não é investimento público, esse direito vem da iniciativa privada.

Atualmente, os árbitros que possuem o escudo Fifa ganham cerca de R$ 4 mil por partida. Um aspirante à Fifa leva por volta de R$ 3,2 mil, e os demais ganham R$ 3 mil, todos em valores brutos. Marco Antônio diz que deve se reunir informalmente com os juízes presentes ao seminário desta sexta-feira para discutir o assunto. Inicialmente, o presidente da Anaf vai propor uma ação judicial para que impeça a divulgação da imagem dos árbitros de futebol.

– Ação para que a gente impeça a veiculação da imagem dos árbitros nas partidas. Já que não querem que a gente receba esse direito que temos, então tudo bem, a imagem do árbitro não deve ser reproduzida. Essa é uma ação que deve ser por parte dos árbitros. O direito de imagem é pessoal. Mas vamos conversar com eles para ver qual direito vamos tomar – explicou Marco, que não soube explicar como a restrição à veiculação das imagens dos árbitros seria feita.

O presidente da Comissão Nacional de Arbitragem da CBF, Sérgio Corrêa, afirmou que uma greve só poderia ser feita após uma assembleia. Ele defendeu o diálogo com a Anaf, mas deu a entender que não haverá paralisação.

– A Anaf é uma entidade independente, tem seus mecanismos de análise. Talvez seja uma opinião pessoal dele (Marco Antônio Martins). Tudo que você faz nesse sentido, uma convocação, uma deflagração de greve, se convoca uma assembleia. Acho que ainda não deu tempo para discutir isso. Ainda não falei com ele. Temos um diálogo respeitoso, as entidades se respeitam. Nada será feito para trazer prejuízo ao torcedor, ao espetáculo, à competição. São pessoas responsáveis e não farão nada sem autorização de suas assembleias, algo que possa colocar em risco uma competição que está tendo números expressivos, uma evolução tremenda. Mas temos que respeitar a indignação – afirmou Sérgio Corrêa.

Um dos principais árbitros brasileiros na atualidade, Sandro Meira Ricci também não escondeu sua insatisfação com o veto da presidente Dilma, mas acha que a paralisação das atividades não seria a melhor medida.

– Eu soube só agora sobre isso (possibilidade de greve), ninguém havia me falado sobre isso. Obviamente que não ficamos felizes com o veto, porque tínhamos uma expectativa muito grande de ter um reconhecimento maior para a categoria através desse 0,5%, mas acho que em toda categoria a greve tem que ser o último recurso. Acho que nem o primeiro recurso foi gasto. Está muito cedo, muito mesmo, para começar a falar em greve. Temos outras alternativas a serem adotadas – opinou o árbitro, que foi o único brasileiro na última Copa do Mundo e é economista.

Segundo Ricci, a melhor medida seria a negociação política. Com os vetos, o processo normal é que o texto retorne ao Congresso para discussão dos itens retirados pela presidente. O árbitro espera que a Anaf e os árbitros tentem convencer deputados e senadores a incluírem o item novamente na lei e que o texto seja aprovado por Dilma Rousseff.

– Agora é trabalhar junto ao Congresso para resgatar a legislação que a gente queria e eliminar o veto presidencial. A gente deveria estar falando nisso. Esse é o primeiro passo, não a greve. É importante que nós e todos os outros estejamos concentrados em apoiar a Anaf nesse trabalho com o Congresso Nacional – declarou Sandro.

A principal referência para os árbitros no Congresso é o ex-juiz Evandro Rogério Roman, que é deputado federal pelo PSD-PR. Ele foi um dos responsáveis pela articulação política para a inclusão do item que dá aos árbitros 0,5% do direito de arena. Apesar da insatisfação, a possibilidade de paralisação do Campeonato Brasileiro nas próximas rodadas, ao menos por enquanto, está descartada.

– É uma atitude que tem que ser tomada em acordo com a CBF. Tenho certeza que a CBF tem interesse que nós tivéssemos esse direito. Não tem por que prejudicar o campeonato de quem é nosso parceiro – avalia Ricci.

O árbitro Marcelo de Lima Henrique também acha improvável que aconteça a greve.
– Acho muito difícil, porque a Anaf sempre esteve alinhada à CBF, com os árbitros, com os clubes, com o poder público e com o futebol para fazer o melhor. Com um calendário apertado como um nosso, você acaba com um ano se você paralisar por uma, duas rodadas o campeonato. Atrasa todas as competições. Falo por mim, não é pela Anaf. A impressão que tenho é que a Anaf sempre quer o consenso, e o consenso hoje é conversar – afirmou.
Por isso, Marco Antônio acredita que a greve, se acontecer, não será nas próximas rodadas.

– Ainda vamos ouvir os árbitros, os sindicatos de cada estado, não acho que as rodadas estejam ameaçadas. Mas, na minha opinião, a situação pede isso (greve) – declara Marco Antônio.
Globoesporte

 

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