Testemunhas reforçam suspeita de que empresa de amigo de Temer foi usada para repassar propina

Publicado em 28 de julho de 2018

As suspeitas da Polícia Federal de que a empresa do coronel João Batista Lima, amigo do presidente Michel Temer (MDB), foi usada para repassar propina foram reforçadas por depoimentos de testemunhas que aconteceram na quarta-feira (18) e na quinta-feira (19), na Superintendência da Polícia Federal e na PF do Aeroporto de Congonhas. Temer nega.
As testemunhas foram ouvidas pelo delegado Cleyber Malta Lopes, responsável pelo inquérito dos portos, que apura se empresas do setor portuário pagaram propina em troca de um decreto presidencial.
O contador Gabriel de Carvalho Jacintho relatou que criava empresas de “prateleira” para depois serem vendidas a empresários brasileiros. Segundo Jacintho, em 1995 ele abriu a Eliland do Brasil atendendo a um pedido de um escritório. Depois, entregou a documentação dessa empresa para o dono da Argeplan, Carlos Alberto Costa, diretamente na sede da empresa.
Desde o início das investigações a Argeplan nega qualquer envolvimento com a Eliland, mas em maio, em depoimento à Polícia Federal, o contador da Argeplan Almir Martins Ferreira disse que lembrava de um contrato entre a Eliland e a Rodrimar, e que os pagamentos ocorreram até em 2010.
Segundo a PF, a Rodrimar é uma das empresas suspeitas de pagar propina em troca de um decreto assinado pelo presidente Michel Temer. Ele nega.
Os investigadores suspeitam que a Eliland do Brasil seja uma empresa laranja – usada na verdade pela Argeplan para negociar propinas no setor portuário. O coronel João Baptista Lima Filho – amigo do presidente Michel Temer- virou sócio da empresa em 2011, mas a PF acredita que ele participava da Argeplan antes disso.
Em uma planilha de 1998 – que fazia parte de um outro inquérito que já foi arquivado e que foi anexada ao dos portos, aparecem três siglas: MT, MA e L em um dos contratos de limpeza com a transportadora Júlio Simões.
A PF acredita que sejam os nomes: Michel Temer, Marcelo de Azeredo- ex-presidente da Codesp- e o coronel Lima. Isso mostra para a PF a atuação do mesmo grupo investigado agora.
Os investigadores já sabem que a Júlio Simões é dona da JP Tecnolimp, responsável por um contrato de limpeza de R$ 60 milhões com a estatal que administra o porto de Santos, que durou de 1998 a 2013.
Na tabela, há uma informação de um faturamento de R$ 300 mil por mês e uma divisão de percentual entre as três siglas.
O dono da Júlio Simões, Fernando Simões confirmou que a empresa de limpeza foi criada pra atuar no Porto de Santos e que o pai dele foi procurado por Carlos Alberto Costa – para montar uma sociedade entre a JP Tecnolimp e a Argeplan, mas que o negócio nunca foi realizado.
No depoimento, a PF apresentou minutas de contratos para compra de ações e prestação de serviços entre a Eliland do Brasil e a empresa de limpeza da Família Simões.
Fernando disse que esses documentos não foram formalizados, mas que pode ter conversado com Carlos Alberto Costa, sobre um potencial plano de negócio entre a JP Tecnolimp e Argeplan.
A Polícia Federal também ouviu outras quatro testemunhas. O Jornal Nacional teve acesso aos depoimentos. Um deles é de Ronaldo Torres, diretor financeiro do grupo Pérola. Torres disse que quem controlava a área jurídica da Pérola era a Rodrimar e não sabe de pagamentos pela Pérola à Eliland e que se lembra de serviços prestados por Flávio Calazans no valor de R$ 375 mil à Pérola.
A PF também ouviu Calazans. Ele confirmou o que disse em delação premiada: que o escritório de advocacia dele, em SP, era usado para lavagem de dinheiro e que recebeu R$ 375 mil da pérola, sem ter prestado nenhum serviço.

O que dizem os citados
O grupo Júlio Simões declarou que conquistou o contrato do Porto de Santos em licitação pública e que refuta qualquer vinculação de pagamento indevido pelo contrato ou para a Argeplan.
Em nota, a Argeplan, João Batista Lima Filho e Carlos Alberto Costa declararam que não praticaram qualquer ato ilícito. A defesa de Marcelo de Azeredo não quis se manifestar. A assessoria do Palácio do Planalto declarou que não comenta o que chamou de “ficção”.
G1

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