Um pouco de alegria
Publicado em 10 de janeiro de 2016Em nosso caminho para o Natal chegamos a este terceiro domingo do Advento, o “domingo da alegria”. Sabemos que, o nascimento de Cristo, marcou um antes e um depois na história da humanidade é, portanto, uma injeção de otimismo, esperança: estamos contentes porque, o Senhor, continua nascendo na manjedoura da humanidade; ainda que, alguns, se empenhem em ignorá-lo em lhe serem indiferentes.
“Alegrai-vos sempre no Senhor, eu repito, alegrai-vos… O Senhor está próximo!” (Cf. Fl 4,4-7) Esse canto a alegria que o Apóstolo Paulo dirigia aos fieis de Filipos se repete hoje na liturgia, por isso que este domingo se tem chamado tradicionalmente de domingo da alegria. A razão principal que o apóstolo dá para a alegria é que “o Senhor está próximo”, referindo-se à segunda vinda do Senhor. Nós referimos esta frase, em primeiro lugar, à primeira vinda, o nascimento de Jesus em Belém. Mas, Deus está vindo sempre à nossa vida, o que importa é que nós queiramos acolhê-lo em nosso coração. Neste sentido, toda nossa vida é um “advento” continuado, e sempre devemos viver com a esperança de estar já e para sempre com o Senhor.
A alegria cristã se sustenta e se projeta na esperança. Mas, sobretudo, a alegria evangélica “enche o coração e a vida inteira dos que se encontram com Jesus” e se realiza e se desfruta na vida presente, nos diz o Papa Francisco na Exortação “Evangelho da Alegria” (EG 1). Sempre é tempo para estar alegres!
A alegria do Advento não é uma alegria de gargalhadas ou sorriso superficial, mas sim uma alegria espiritual, principalmente interior, que se deve refletir diariamente em nosso comportamento exterior. A alegria é um sintoma da conversão, da proximidade de Deus. Ninguém que tenha conhecido o Senhor pode estar triste. Já ouvimos a famosa frase: “um santo triste é um triste santo”. E é assim. Se a tristeza perdura em nossos corações é porque não o Senhor não está conosco e em nós. Não temos aceitado sua chegada. É verdade que a vida nos pode trazer fatos dolorosos e complicados que dispõem o ânimo à tristeza, à melancolia, mas acima deles, está a
alegria que Deus comunica aos que o amam.
A alegria, ainda que não creiamos é essa semente que se esconde em alguma dobra da nossa alma. Essa que um Deus plantou no escondido, e que nos empurra a fazer a aventura interior de buscá-la. Com um pouco de silêncio e solidão, de sinceridade e desprendimento, de simplicidade, bondade e inocência, daremos com ela. E nos levará a compartilhá-la com outros, porque é de per si expansiva. E quando a tivermos a reconheceremos em cada rosto, em cada busca ou em cada tropeço. Em todo o humano: talvez a alegria seja “o mais divino do humano”.
As palavras do Apóstolo Paulo são maravilhosamente claras: “E a paz de Deus, que supera todo entendimento, guardará os vossos corações e pensamento em Cristo Jesus”. O Papa Francisco prega esta alegria pacifica em todos os lugares que visita; o faz com gestos alegres e com palavras cheias de fé. Quer demonstrar ao mundo que ele é mensageiro da paz de Deus, da alegria do evangelho. Nós, todos os cristãos, devemos fazer sempre o mesmo, e de uma maneira especial neste tempo do Advento.
Nestes dias que antecedem o Natal somos testemunhas do barulho nas grandes cidades e centros comerciais, a pressa de muitos por adquirir o último presente ou o melhor manjar, no preço mais econômico para as festas que se aproximam. Quantos ficam felizes com esse barulho! Mas, não basta um sorriso ensaiado para uma foto, ou o sorriso improvisado ou diplomático, para dizer que estamos alegres… Estamos alegres? Podemos ser alegres de verdade, sem parecer hipócritas? Não há centro comercial, nem cena de propaganda de TV que nos garanta a alegria para a qual está feito nosso coração.
O Senhor vem! Então, um pouco de alegria, por favor! Neste nosso mundo, campo minado por todos os lados; na sociedade donde brota a desconfiança na classe política, na família que tem deixado, na sua grande maioria de ser transmissora da fé, ou mesmo na Igreja, quando não é forte frente à critica ou a incompreensão. Um pouco de alegria cai bem.
A alegria não tem sido um ingrediente frequente em nossa época. Talvez, em tempo de crise a tristeza é o ingrediente mais presente. Muita gente vive sem graça. Os sentimentos parecem cada vez mais amortecidos em nossa sociedade e em troca deles só há “desejos”: de riqueza, de ter mais coisas, de até possuir sexualmente mais que amar.
Em Jesus, nós que cremos, descobrimos a fonte da alegria verdadeira, sempre nova e surpreendente. Encontrar-se com Ele deve ser garantia de que temos o suficiente. “O Senhor, teu Deus, está no meio de ti… ele exultará de alegria por ti, movido por amor; exultará por ti, entre louvores, como nos dias de festa” (Cf. Sf 3,14-18a): necessitamos de mais alguma coisa? Que estes dias que nos aproximam do Natal nos ajudem a acender a luz da alegria, e assim iluminar este mundo.
“Que devemos fazer?”, perguntam ao Batista as elites da Judeia (Cf. Lc 3,10-18). É a mesma pergunta que nós nos fazemos com frequência. Mostrando assim, desejo sincero de entrarmos neste caminho de salvação. Manifestar nosso desejo de Deus é acolher com sinceridade o projeto de salvação e colocar-nos em atitude de espera para estar na mesma sintonia do plano de Deus. João Batista aponta para a prática da justiça, do direito e da solidariedade. O profeta convida a perder para ganhar, a fazer um desprendimento para alcançar: não enganeis, não exijais, não vos aproveiteis… Para acumular alegria “da boa” sempre devemos estar soltando, desamarrando ataduras, liberando espaço. E o profeta faz uma promessa: “Virá aquele que é mais forte que eu”, virá quem os fará sentir a felicidade mais plena…
Tendo começado hoje, com a abertura da porta santa nas catedrais e dioceses do mundo inteiro o Ano da Misericórdia. Não é só este gesto um motivo de grande alegria, o grande ato, de Deus por nós, o maior expoente de sua misericórdia foi o de se nos dar totalmente, em Jesus Cristo. Como vamos responder a tal prova de amor? Talvez com um pouco de alegria? Comecemos pois… a sorrir. Deus o merece.
Certamente que para algumas pessoas o “jubileu” e a “indulgência plenária” não lhes dirão nada; nem lhes move nem comove a viver o ano jubilar com um espírito ou atitude especial. Essas palavras teem para estas pessoas um sabor envelhecido, lhes soa a tempos eclesiais superados. Parece-lhes que são escombros de uma igreja velha.
Não obstante, o surpreendente Papa Francisco, sem deixar-se amedrontar pelo “que dirão”, convocou “a quantos leiam sua carta” “Misericordiae vultus” (o rosto da misericórdia) a viver o jubileu e a obter a indulgência plenária: “Como desejo que os anos por vir estejam impregnados de misericórdia para poder ir ao encontro de cada pessoa levando a bondade e a ternura de Deus! A todos, crentes e afastados, possa chegar os bálsamos da misericórdia como sinal do Reino de Deus que está já presente no meio de nós”.
Apesar da indiferença de alguns para com o Jubileu da misericórdia, para nós cristãos católicos, estes Anos santos são um tempo de graça. Um tempo para deixar-se querer pelo amor entranhado de Deus.
Padre José Assis Pereira