Cinco de 11 câmeras da Prefeitura no trajeto que Marielle fez antes da morte estão desligadas

Publicado em 21 de março de 2018

trajetoQuase metade das câmeras de segurança da Prefeitura do Rio localizadas no percurso de cerca de três quilômetros feito pelo motorista Anderson Gomes e pela vereadora Marielle Franco (PSOL), antes de serem mortos no Centro do Rio, estavam desligadas no momento do crime. O carro dos criminosos que perseguiram o veículo onde parlamentar estava passou por 11 câmeras, mas apenas seis estavam funcionando, conforme o G1 apurou. A informação foi confirmada pela Prefeitura. Os equipamentos permanecem inoperantes.
A primeira das onze, ainda na Rua do Senado, e a última, na Rua João Paulo I, não constam no sistema do Centro de Operações da Prefeitura, somente no da Companhia de Engenharia de Tráfego do Rio (CET-Rio). Não há informações do funcionamento delas. Outra, no Largo do Estácio, consta como defeituosa, mas funciona e revelou que a perseguição foi feita por dois carros.
“A câmera de trânsito do Largo do Estácio é de baixa definição mas foi suficiente para descobrirmos que tinham dois carros seguindo. Consegue ver a cor, a marca. É uma informação para a investigação”, diz o secretário da Casa Civil, Paulo Messina.
Segundo ele, porém, as câmeras de trânsito têm resolução limitada e finalidade exclusiva de acompanhar o tráfego. Messina diz que as imagens dos equipamentos inoperantes pouco contribuiriam para a polícia e que a Prefeitura tem planos para anexar ao Centro de Operações (COR) um órgão ligado à segurança pública, com videomonitoramento.
“A missão do COR é somente de operações e monitoramento de crises, como temporais. Nunca teve viés de segurança. Essa, aliás, é uma das coisas que queremos fazer com uma licitação, para criar um anexo ao lado do COR. Não para desviar o foco do Centro de Operações, mas para acrescentar a segurança”.
Imagem poderia revelar número de suspeitos, diz investigador
Uma pessoa ligada à investigação disse ao G1 que as imagens dos equipamentos desligados, dificilmente, identificariam os autores do crime. No entanto, se câmeras estivessem funcionando com alta resolução poderiam fornecer informações importantes como, por exemplo, se havia mais pessoas dentro dos dois carros ou até mesmo se um outro veículo se juntou aos outros no trajeto.
A Casa Civil afirma que há 700 câmeras na cidade, sendo 200 delas doadas pelo Governo Federal para a Olimpíada e que não tiveram a manutenção renovada. Essas teriam sido utilizadas para monitorar as delegações olímpicas durante os Jogos. Todas as cinco câmeras que estavam desligadas no percurso feito por Marielle e Anderson estariam entre as fornecidas pela União.
Interligadas ao sistema do Centro de Operações, as câmeras doadas não foram incorporadas no leque de equipamentos administrados pela CET-Rio depois do evento.
“O que deveria ter sido feito: aditamento da CET-Rio e incorporado (as câmeras doadas pelo Governo Federal) para lá (Centro de Operações). Não tendo sido feito em 2016 (na gestão anterior), o nosso deveria ter feito em 2017. Agora, pedi em 2018”, diz Messina.
Ele garante que o pedido foi feito um mês antes do crime, durante o temporal do dia 14 de fevereiro que provocou transtornos na cidade. Na ocasião, afirma, a Prefeitura teria percebido que várias das câmeras não transmitiam as imagens.
“O que precisamos [para segurança] é câmera de videomonitoramento, mais do que as de trânsito”, conclui Messina.

Plano de expansão
A Prefeitura afirma ter encomendado ao Iplan-Rio (relacionado à tecnologia de informação), no mês passado, um Plano de Expansão do Parque de Câmeras. Em fase final de modelagem, deve ser lançado na primeira quinzena de abril.
Com novas câmeras e remanejamento das já existentes para pontos mais estratégicos, a Prefeitura pretende melhorar o acompanhamento do trânsito. Além disso, diz a Casa Civil, o plano deve abordar a temática da segurança pública, com equipamentos de longo alcance.

Protestos continuam
As mortes de Marielle e Anderson completam uma semana nesta quarta-feira. Na terça, os protestos em homenagem à vereadora e ao motorista e com cobrança do esclarecimento do crime continuaram. Até momento, ninguém foi preso.
No Rio, os manifestantes se reuniram na Candelária a partir das 17h30 e depois seguiram para um ato ecumênico na Cinelândia, também no Centro.
Anielle Silva, irmã de Marielle, discursou durante a manifestação e disse estar muito indignada com toda a situação. “Estou com sangue nos olhos para buscar justiça pela minha irmã. Não vou descansar enquanto isso não for resolvido. Sou professora, não tenho experiência nenhuma na política, mas sempre lutei pelos direitos dos humanos, assim como minha irmã”, disse, no carro de som.
A mulher de Anderson, Ághata Reis, também participou do ato.
“O meu marido também representa cada trabalhador, cada pai de família que foi morto neste Estado, cada um de nós que ainda vamos tentar voltar para casa hoje e não sabemos se vamos conseguir.”
Na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, na PUC-Rio, onde Marielle estudou, foi realizada uma missa de sétimo dia, com a participação de professores e alunos.
Em São Paulo, manifestantes se reuniram no vão livre do Masp, na Avenida Paulista. Também houve atos em Porto Alegre, Salvador e Belo Horizonte. No Estados Unidos, o jornal Washington Post publicou que Marielle se tornou um símbolo global contra a opressão racial, e a atriz Viola Davis homenageou a parlamentar por meio de sua conta no Twitter.
A polícia segue tomando depoimentos. Na terça, foram as vezes de pessoas próximas à parlamentar. A assessora que estava com Marielle e a viúva da vereadora foram ouvidas.
G1

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