Esperando com Maria e José

Publicado em 15 de janeiro de 2017

Neste tempo de alegre espera e esperança no Senhor que vem, diversos personagens nos tem ajudado: o profeta Isaías e o precursor João Batista; agora também pelas mãos de José e Maria, este jovem casal da Galiléia que a dois mil anos atrás confiaram no Senhor, aderiram à sua vontade e aceitaram entrar na trama de salvação, adentraremos na noite escura de Belém e do mistério da aparição de Deus na carne humana, sua encarnação. Comprovaremos que, hoje como ontem, muitos seguem sem acolher o Menino-Salvador, sem dar-lhe espaço para sua mensagem em suas vidas.
Nos últimos dias do Advento, do dia 17 a 23 de dezembro, a Igreja eleva suas mãos e seu coração em prece para apressar a vinda do Salvador. Esta última semana também chamada “semana santa do Natal”, tem muita semelhança com a Semana Santa que conclui a Quaresma e conduz à Páscoa. São dias nos quais a Liturgia nos convida a viver dispondo-nos, como os personagens do presépio, no papel de todos aqueles homens e mulheres que viveram muito perto do acontecimento transcendental daquele primeiro Natal, em Belém.
Em plena novena do Natal, este quarto e último Domingo do Advento é sempre o preâmbulo necessário para melhor entender liturgicamente o Nascimento do Senhor. Este Domingo é uma espécie de vigília litúrgica do Natal. Nele se anuncia a chegada iminente do Filho de Deus.
O profeta Isaías mais uma vez expõe um de seus oráculos (cf. Is 7,10-14)anunciando para o rei Acaz um grande sinal de Deus. O rei deseja aliar-se com o rei da Assíria para defender-se de seus vizinhos. Isaías se opõe a qualquer aliança que não seja a aliança do Senhor e propõe ao rei uma resposta de fé e de confiança total na providência divina. O rei devia confiar em Deus e não aliar-se com nenhum outro rei. Sem dúvida Acaz vê as coisas a partir do ponto de vista terreno, deseja aliar-se ao mais forte. Isaías o pressiona: “Pede um sinal ao Senhor teu Deus; no fundo do abismo ou no alto do céu” (v.11). Acaz teme abandonar-se nas mãos de Deus e se recusa dizendo: “Não peço, não quero tentar o Senhor” (v.12). Isaías, então aponta para um sinal: “Pois o Senhor, por sua conta, vos dará um sinal: Vede: a jovem está grávida e dará à luz um filho, e lhe dará o nome de Emanuel” (v.14). A “jovem” é, no contexto histórico, a esposa do rei. O menino é Ezequias, que assegurará a continuidade da dinastia.
A tradição judaica interpretou a jovem como a “virgem”; assim aparece na versão grega e assim passa à tradição cristã, que viu neste oráculo um
anúncio do nascimento de Cristo a uma virgem chamada Maria.
Esse é o grande sinal de esperança para o mundo. A profecia de Isaías se cumpre. “A virgem está grávida, dará à luz um filho que será chamado Emanuel.” (Mt 1,23) Deus cumpre suas promessas, com a colaboração de Maria e José, e com a ação do Espírito Santo.
Na leitura do Evangelho que hoje nos propõe a liturgia, São Mateus nos conta na passagem chamada “anunciação de São José” (cf. Mt 1,18-25) que como à Virgem, também um anjo chega a José da parte de Deus, durante um sonho, para anunciar-lhe o nascimento milagroso do Filho do Altíssimo, que será o Emanuel, Deus conosco. Desde esse momento são José passa a ser uma figura de primeira magnitude na história da salvação.
“A origem de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua mãe, estava prometida em casamento a José, e, antes de viverem juntos, ela ficou grávida pela ação do Espírito Santo. José, seu marido, era justo e, não querendo denunciá-la, resolveu abandonar Maria, em segredo.” (vv.18-19)
Mateus não suaviza a dramática situação e os efeitos de uma decisão de José em repudiar secretamente sua esposa. A situação é angustiosa e a solução complicada. Mas assim o evangelista caracteriza a personalidade de José atestando que ele era justo. Sendo José um “homem justo” não temos motivos com base neste texto, para pensar que ele duvidou da honestidade de Maria. O estado de Maria criava o problema unicamente para José. Parece-nos de todo normal que ele pelo mensageiro divino foi introduzido no mistério da maternidade de Maria.
A “dúvida de José” ante o fato milagroso não nasce sobre a culpa ou inocência de Maria, mas sobre o papel que ele pessoalmente tem que assumir ante esta ação de Deus e aqui podemos por o anúncio do anjo em sonho revelando-lhe sua missão: “José, filho de Davi, não tenhas medo de receber Maria como tua esposa, porque ela concebeu pela ação do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, e tu lhe darás o nome de Jesus, pois ele vai salvar o seu povo dos seus pecados”. (vv. 20-21)
O papel de são José é ser perante a lei o pai legal, dar o nome e educar o Menino que vai nascer. A imposição do nome é o rito através do qual José recebe Jesus como filho. Mateus insiste neste detalhe, porque na antiguidade um menino não passava a tomar parte da descendência paterna até que houvesse sido reconhecido por seu pai ou adotado. Jesus entra na descendência de Davi graças à atitude obediente de José.
Uma vez conhecido o papel que ele tinha que fazer neste matrimônio, com respeito ao filho, José sentiu-se livre da dúvida de qual era a sua missão nesse matrimônio e mediante a obediência da fé, assume a sua paternidade humana em relação a Jesus, confiando na luz do Espírito Santo e por certo foi descobrindo a cada dia o significado desta sua paternidade.
Nestes dias, no umbral da vinda iminente do Senhor, às vésperas do seu Natal nos voltamos para a figura silenciosa de são José. Também podemos esperar com José e como José. Aceitar e reconhecer a ação de Deus em nossas vidas é fazer como José. Esta é a melhor maneira de nos prepararmos para o Natal e acolher o Menino Jesus que continua nascendo no meio de nós.
José é modelo de fé e aceitação dos planos de Deus. Ele é modelo de absoluta confiança e plena disponibilidade para todo cristão. Seu trato íntimo e familiar com Deus na figura daquele Menino que ele o amava com ternura e profundidade; que crescia ante seus olhos e ao qual ensinava sua própria profissão de carpinteiro, que o servia com generosidade e protegia com todas as suas forças; seu próprio silêncio faz de São José modelo de cristão obediente à vontade de Deus. A sua incondicional e pronta adesão a vontade salvadora nos deveria iluminar.
José é esposo e companheiro, homem que sabe calar e aceitar, homem que se prepara e espera junto a Maria, o justo e pacífico. Que unidos a José e Maria nos aproximemos do Natal e eles nos indiquem caminhos para que a experiência do Natal seja para nós como foi para eles esta experiência do encontro dialogal de vontades, a de cada um de nós com a vontade salvadora de Deus.
Peçamos, pois nesta semana santa do Natal a São José e à Virgem Maria da Esperança que intercedam por nós para aceitar neste Natal a salvação que Deus quer realizar por seu Filho em cada um de nós.

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