Estátua de Marielle vai ser inaugurada no Centro do Rio no próximo dia 27

Publicado em 17 de julho de 2022

Desde a criação do Instituto Marielle Franco, um dos primeiros sonhos da família da vereadora vai ser finalmente realizado: uma estátua dela, no Centro do Rio. Em tamanho real, a obra de 1,75 metro em bronze vai ser inaugurada no dia em que a parlamentar, assassinada em 2018, completaria 43 anos: 27 de julho.
Para Anielle Franco, fundadora do instituto e irmã de Marielle, conquistar esse momento significa falar sobre memória, justiça e reparação.
“Após esses dois anos em que vimos estátuas de colonizadores, escravocratas e torturadores sendo derrubadas, é muito simbólico ter uma estátua da Mari erguida, em especial no ‘Julho das Pretas’ e no dia do seu aniversário”, descreve. “Isso é muito importante para gerarmos referências sobre quem realmente construiu e move esse país, em especial para as novas gerações e para uma população negra e periférica que precisa ter reconhecimento e ser reverenciada”.
Criada pelo artista plástico Edgar Duvivier, a obra vai ser instalada na Praça Mário Lago, conhecida como o Buraco do Lume, no Centro. Esse era o local onde, todas as sextas-feiras, Marielle ia prestar contas para a população sobre o trabalho enquanto vereadora e presidenta da Comissão da Mulher da Câmara Municipal do Rio.
Para arrecadar fundos para desenvolver a obra, o instituto fez uma vaquinha virtual, e o artista plástico produziu e vendeu pequenas esculturas da vereadora. Foram cerca de 650 doações que arrecadaram quase R$ 40 mil.
Ao artista, os familiares contaram sobre a emoção de ver a estátua. Mônica Benício, vereadora do PSOL e viúva de Marielle, enfatizou a semelhança física em que, ao mesmo tempo que a escultura traz a imponência que tinha a parlamentar, tem a alegria marcante dela, sempre com um “sorrisão largo”.
Tanto a mãe de Marielle, Marinete da Silva, quanto o pai, Antônio Francisco da Silva Neto, falaram sobre perpetuar a imagem da filha.
“A gente se emociona porque o trabalho está perfeito. Eu tenho plena certeza de que as pessoas, quando a virem, também vão ficar muito emocionadas”, destaca o pai.
Só que, para a família, a figura de Marielle também simboliza a luta dos que querem transmitir o legado dela. Anielle descreveu a valorização das vidas negras.
“Eu sempre bato nessa tecla de que eu sonho com o dia que a gente vai poder falar da história de mulheres negras enquanto elas estiverem vivas, e eu espero que a Mari não só represente isso, mas também deixe esse sentimento nas pessoas que, quando passarem pela estátua, sintam a força dela”, afirma a irmã ao artista plástico.
“A gente hoje luta pela preservação da memória, luta para que nada mais parecido aconteça, mas que muitas Marielles floresçam”, define Mônica.

‘Uma forma de eternizar as ideias da pessoa’
Para Edgar Duvivier, fazer uma escultura vai além de replicar a forma de uma pessoa. O artista plástico conta que vale do apreço que tem por esses indivíduos. Ele já esculpiu figuras de personalidades como os escritores Clarice Lispector e Nelson Rodrigues e o ex-presidente uruguaio José Mujica, que vai ainda ser inaugurada no Rio Grande do Sul.
“A escultura é uma forma de você eternizar as ideias da pessoa, porque, como disse o Mujica: ‘As pessoas vão embora, as ideias ficam’. Mas, para as ideias daquelas pessoas ficarem e serem lembradas, se tiver alguma coisa que lembra a pessoa que teve a ideia, é mais fácil”, define.
E com a estátua de Marielle não foi diferente. Ao dizer que a vereadora representava todas as pessoas que votaram nela, o artista plástico definiu a obra como “necessária”.
Todo o processo levou em torno de três meses. Apesar de estar pronta há um tempo, Edgar enfatizou que precisaram esperar pela autorização da prefeitura, para decidir o local, aprovar a placa e marcar a data de inauguração.

Passo a passo
Edgar contou com os familiares da parlamentar para ajudar a decidir qual pose seria escolhida. Com o punho para cima, ele usou várias fotos de Marielle para compor o projeto da estátua.
O artista então fez uma maquete e mostrou para a família. Depois de aprovada, chegou a hora de ampliá-la para o tamanho real da vereadora e fazê-la de argila, em torno de uma armação de metal. Essa etapa também é vista e aprovada pelos familiares.
Após o modelo em argila, é feita a forma em gesso, dividida em partes (cabeça, tronco, braços e pernas), e é levada à fundição.
A partir dessa forma, é feito o contorno da estátua com cera. Oca por dentro, a estrutura é preenchida e coberta com uma espécie de cimento, chamada de material refratário, para ir ao forno.
O calor derrete toda a cera. É nesse espaço em que entra o bronze – incandescente derretido.
Depois de dez dias, a estrutura de cimento é quebrada, revelando a estátua de bronze. Após tudo isso, ainda falta soldar as partes do corpo para uni-las, fazer o polimento e deixar a cor da forma desejada.

Evento de inauguração
A inauguração da estátua de Marielle será no próprio local onde ela será instalada. Além de ser a data em que a vereadora faria aniversário, o evento vai ser dois dias depois do Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha.
Estarão presentes estudantes de cursinhos pré-vestibulares comunitários.

Programação
17h: “A memória é a semente para novos futuros: legado, justiça e reparação”
• Aula pública com intelectuais negras
19h: Batalha de poetisas sobre a defesa da memória de Marielle
Serviço:
Data: 27 de julho (quarta-feira)
Horário: 17h
Endereço: Praça Mário Lago, Terminal Menezes Cortes, Centro, Rio de Janeiro

* Estagiária sob supervisão de João Ricardo Gonçalves
Foto: Arquivo pessoal/Edgar Duvivier
G1

Banner Add

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Social media & sharing icons powered by UltimatelySocial