Onda de violência no Equador esvazia ruas e deixa 13 mortos

Publicado em 11 de janeiro de 2024

A onda de violência que aterroriza o Equador esvaziou ruas e deixou 13 mortos até agora. Em cinco prisões do país, mais de 130 pessoas são mantidas reféns.
Na capital, Quito, quase ninguém no metrô; quem pode não saiu de casa. Um homem contou que só viu lojas fechadas.
Em Guayaquil, também ruas vazias e comércio fechado. Praticamente só se viam policiais de manhã cedo nesta quarta-feira (10). Um estudante disse que é um reflexo do medo das pessoas.
A situação ainda é muito tensa. Facções do narcotráfico mantém mais de 130 agentes e funcionários de penitenciárias reféns. Nesta terça (9), a situação no país saiu do controle. Rebeliões em presídios, carros e ônibus queimados, bombas nas ruas… Os traficantes chegaram a invadir uma emissora de TV com armamento pesado, fazendo reféns sob a mira de armas e ameaças de explosão.
O fotógrafo Ivan Nevarez estava em um carro estacionado em frente à emissora quando foi surpreendido. Ele achou que era mais um assalto até ser rendido por integrantes de uma das facções.
“Eles estavam com armas pesadas. Me bateram, me amarraram. Eu dizia que estava cooperando e só o que ele falava é que eu ia morrer”, conta.
A jornalista Alina Manrique da TC também ficou sob a mira dos criminosos e contou, em entrevista à GloboNews, que se escondeu em um dos banheiros da redação depois de ouvir tiros.
“Me agarraram pelo cabelo, arrancaram uma correntinha que eu tinha, me bateram e me levaram até o estúdio, onde tinha mais pessoas como reféns. O que eles mais falavam é que iam nos utilizar para que a polícia não entrasse. Então falavam: ‘Digam para que não atirem, digam para que não atirem’. Quando já sabia que a polícia já estava ali e que eu era o escudo humano, com um fuzil na minha cabeça, achei que ia morrer”, lembra ela.
O governo divulgou nesta quarta-feira (10) um cartaz de “procura-se” por José Adolfo Macías Villamar, conhecido como Fito, um dos traficantes mais perigosos do país. Ele é chefe da facção “Los Choneros”, uma organização de tráfico de drogas com conexões internacionais, e fugiu da prisão durante um motim no domingo (7).
Foi depois disso que a violência aumentou ainda mais nas ruas e nas penitenciárias, onde a situação já era tensa. Como resposta, o presidente Daniel Noboa decretou, na segunda-feira (8), estado de exceção por 60 dias e incluiu um toque de recolher durante a noite.
Na terça, com a violência fora de controle, Noboa declarou um estado de conflito armado interno e listou 22 facções como organizações terroristas. A decisão deu aos militares amplo poder de combate aos narcotraficantes.
O chefe do comando conjunto das Forças Armadas, almirante Jaime Vela, afirmou que os bandidos queriam assustar a população e que agora são alvo dos militares.
Nesta quarta, durante uma reunião com representantes diplomáticos, inclusive do Brasil, o presidente Daniel Noboa afirmou que o Equador está praticamente em um estado de guerra. Ele disse:
“Não são grupos de crime organizado, são terroristas financiados pelo tráfico de drogas, de pessoas, de órgãos e de armas”.
Em uma entrevista a uma rádio, Noboa também avisou que juízes que ajudarem os criminosos vão ser tratados como cúmplices ou integrantes de organizações terroristas.
O presidente equatoriano anunciou que vai começar a deportar cerca de 1,5 mil estrangeiros que estão detidos no país, especialmente colombianos, para reduzir a população carcerária, e prometeu apresentar um projeto de lei com medidas na área de segurança pública.
Nos Estados Unidos, o conselheiro de segurança nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, disse que o governo americano condena veementemente os recentes ataques de grupos armados no Equador e está empenhado em reforçar a parceria em apoio à segurança e para garantir que os criminosos sejam levados à Justiça.
O chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, afirmou que a violência no Equador é um ataque direto à democracia e que o bloco apoia as instituições equatorianas.
O Mercosul divulgou uma nota condenando veementemente os atos de violência perpetrados por grupos relacionados ao crime organizado transnacional que afetam a segurança interna da república do Equador, e expressando solidariedade ao povo e ao governo do Equador, assim como seu respaldo irrestrito à institucionalidade democrática desse país no marco do respeito aos direitos humanos.
Em nota, países que fazem parte do Consenso de Brasília manifestaram o mais enérgico repúdio à violência cometida e transmitiram o explícito e inequívoco respaldo e solidariedade ao povo e às autoridades do Equador.
Os países do Consenso, do qual o Equador faz parte, afirmaram ainda que vão unir esforços para combater de maneira coordenada o flagelo que afeta toda a região, dentro dos princípios do direito internacional e das leis internas de cada país sul-americano.
O Peru declarou situação de emergência em toda a região de fronteira com o Equador para que o Exército possa ajudar no policiamento da região.

Foto: Reuters/Karen Toro
G1

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