PF diz que fez 2 fases da Lava Jato no mesmo dia para ‘otimizar recursos’

Publicado em 18 de agosto de 2017
O delegado da Polícia Federal (PF) Igor Romário de Paula afirmou que foram feitas duas novas fases da Lava Jato nesta sexta-feira (18) para “otimizar recursos, que não estão sobrando”. Segundo ele, as duas etapas – 43ª e 44ª – poderiam ter ocorrido em dias diferentes, mas a PF optou por usar os mesmos agentes.
“Quando falo em otimização dos recursos, não é porque eles faltaram. Não houve ordem para limitar recursos ou faltou recurso, e a gente foi obrigado a fazer [tudo] ao mesmo tempo. Nós estamos trabalhando numa perspectiva de que os recursos para o ministério da Justiça, assim como para todos os ministérios, estão escassos… Usando um jargão antigo, [é preciso] fazer mais com menos”, disse o delegado, ao detalhar as ações em entrevista em Curitiba.
O delegado negou houve “uma restrição orçamentária”. Segundo ele, havia dinheiro para as duas fases, mas, como as investigações evoluíram de modo semelhante, foi uma opção usar o mesmo efetivo para cumprir os mandados judiciais e “transformar tudo uma viagem só”.
“Operacionalmente, é mais fácil tratar as operações juntas”, disse o delegado Filipe Pace. Ele citou ainda que um pen drive encontrado com Othon Luiz Pinheiro da Silva, ex-presidente da Eletrobras, forneceu provas para as duas operações.
Principais pontos das investigações
Ações apuram o favorecimento de empresas estrangeiras em contratos com Petrobras.
Operação Abate investiga fraudes no fornecimento de asfalto para a Petrobras por uma empresa norte-americana, entre 2010 e 2013.
Funcionários da Petrobras, o PT e, principalmente, Cândido Vaccarezza teriam recebido propinas que somam US$ 500 mil no esquema da Abate.
Operação Sem Fronteiras investiga o pagamento de propinas para contratação de armadores (transportadores marítimos) da Grécia, entre 2009 e 2013.
Ao menos 2% dos contratos com as empresas gregas, que superaram US$ 500 milhões, seriam propina para políticos, funcionários da estatal e operadores financeiros.
As investigações surgiram da delação do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa.
Alvos das operações
As duas fases resultaram na prisão de três pessoas nesta sexta: Cândido Vaccarezza, ex-deputado, Márcio Albuquerque Aché Cordeiro, ex-gerente da Petrobras, e Henry Hoyer de Carvalho, operador financeiro.
Dois alvos estão no exterior: Luiz Eduardo Loureiro Andrade, da Seargent Marine, e Dalmo Monteiro Silva, ex-gerente da Petrobras. Eles não são considerados foragidos.
A PF pediu ainda a prisão de outro ex-gerente da Petrobras, Carlos Roberto Martins Barbosa, mas ele está hospitalizado, e o mandado não será cumprido.
US$ 438 mil para Vaccarezza
Uma das ações desta sexta-feira, chamada de Abate, resultou na prisão do ex-deputado Cândido Vaccarezza, que é suspeito de receber ao menos US$ 438 mil por contrato na Petrobras até 2011. Investigadores da PF dizem que ele favoreceu a contratação da empresa norte-americana Sargeant Marine, que forneceu asfalto para a estatal entre 2010 e 2013.
O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, hoje delator, também teria sido beneficiado pelo esquema. Segundo a PF, Costa recebeu ao menos US$ 162 mil por cinco contratos. O PT teria sido outro beneficiário da propina.
A PF chegou a pedir a prisão preventiva (sem prazo para liberação) do ex-deputado, por haver provas e por conta de outras delações, que dizem que ele teria praticado crimes não apenas no âmbito da Petrobras. Mas o juiz Sérgio Moro autorizou a prisão temporária.
O delegado Filipe Hille Pace disse que Vaccarezza se mostrou “bastante surpreendido e bastante assustado” no momento da prisão.
Pace afirmou ainda que agentes encontraram R$ 122 mil na casa de Vaccarezza. Ele estaria pagando com esse dinheiro despesas de seu novo partido, o PTdoB.
‘Loteamento político’
O delegado Filipe Pace afirmou que Vaccarezza era pressionado para retirar, da Petrobras, funcionários não ligados ao PT, o que indica que havia “loteamento político” na estatal.
Paulo Roberto Galvão de Carvalho, procurador da República, disse que as investigações confirmam que esse esquema não era um esquema de diretores e gerentes: “Trata-se de um esquema de corrupção partidária”.
Operação Sem Fronteiras
Também na manhã desta sexta-feira, a Polícia Federal deflagrou outra operação ligada à Lava Jato. A outra fase, chamada de Sem Fronteiras, tem como foco irregularidades envolvendo executivos da Petrobras e grupo de armadores estrangeiros, que obtiveram informações privilegiadas para fechar contratos milionários com a empresa brasileira.
Segundo as investigações, Paulo Roberto Costa ajustou com o cônsul honorário da Grécia no Brasil, Konstantinos Kotronakis, um esquema de facilitação de contratação de navios gregos. O operador Henry Hoyer de Carvalho, que foi alvo da 13ª fase da Lava Jato, teria efetivado o esquema entre 2008 e 2010. Depois, quem assumiu o comando foi uma empresa de brokeragem constituída na Inglaterra e pertencente a Georgios Kotronakis, filho de Konstantinos.
O MPF afirma que os grupos Tsakos e Aegean, dos quais Konstantinos Kotronakis é, respectivamente, diretor e sócio-administrador, além das empresas Dynacom Tankers Management, Galbraiths e Dorian Hellas, com as quais o cônsul grego tinha vínculos indiretos, formalizaram contratos de afretamento com a Petrobras, entre os anos de 2009 a 2013, em valores que superam US$ 500 milhões.
De acordo com as investigações, ao menos 2% desses valores era destinado ao pagamento de propina a funcionários públicos, operadores financeiros e políticos. Costa já tinha afirmado ao MPF que recebeu US$ 530 mil em propina de Konstantinos Kotronakis.
Paulo Roberto Galvão de Carvalho, procurador da República, afirmou que um pen drive encontrado na casa de Othon Luiz Pinheiro, ex-presidente da Eletrobras, na 16ª fase da Lava Jato, foi fundamental para essa etapa da Lava Jato.
Segundo ele, diversas anotações comprovaram afirmações feitas por delatores e confirmaram que houve pagamentos para partidos políticos, como o PT e o PP. “Todos os fatos têm esse viés de ter havido base de sustentação governamental que tomou a empresa pública e se deu o direito de receber propinas”, disse Carvalho.
A força-tarefa da Lava Jato chegou a pedir a prisão do cônsul honorário da Grécia, mas o juiz Sérgio Moro indeferiu.
G1
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