‘Plano B’ das águas?

Publicado em 11 de setembro de 2015

Em recente entrevista à TV Paraíba (8/7/15), o gerente regional da Companhia de Água e Esgotos da Paraíba – CAGEPA, Sr. Simão Almeida, ao ser indagado a respeito da crise de abastecimento de Campina Grande, afirmou categoricamente não possuir outro plano de atuação que não seja a ampliação do racionamento já existente, captando água do volume “morto” e esperar as chuvas. Ou seja, não existe um plano B. Além disso, ironicamente, o jornalista Carlos Siqueira ressaltou que o plano B seria a oração para que Deus envie água dos céus, devido a falta de planejamento.

sangria

Uma cidade do porte de Campina Grande, que possui uma grande importância como polo médico, educacional e financeiro na Paraíba e em parte do interior nordestino, está à beira de um colapso em seu abastecimento e essa crise poderá ser sem precedentes, parando indústrias e todo o ciclo produtivo em razão de que o pouco de água que restar deverá ser destinado exclusivamente ao consumo humano.
Atualmente, o açude Epitácio Pessoa (Boqueirão) abastece mais de duas dezenas de localidades, exatamente Campina Grande e seus arredores, e nas últimas décadas sua bacia hidrográfica tem virtualmente diminuído, já que a construção de açudes no Rio Paraíba antes da barragem de Boqueirão – como o do Congo, por exemplo – tem captado águas que antes iria direto para o Epitácio Pessoa, mas essa é uma outra discussão.
Pelas atuais condições, não acredito que a transposição de águas do Rio São Francisco ocorra até o final deste governo. Portanto, seria possível um plano B para abastecimento emergencial de Campina Grande? Bom, entendemos que sim.
Se considerarmos todos os mananciais da Paraíba, os que estão localizados no litoral gozam de constante recarga e podem subsidiar uma parcela do abastecimento de Campina Grande. E como funcionaria isso? Uma adutora de 1000mm poderia ser construída e no máximo quatro estações elevatórias trariam água serra acima. Outra possibilidade seria trazer água em adutora do maior açude existente no país, no município de Assú (barragem do Açu), no Rio Grande do Norte. Essa adutora teria extensão um pouco maior que a vinda do litoral paraibano e boa parte do percurso a água viria por gravidade. Não mencionamos aqui a barragem de Acauã, com pouco mais da metade da capacidade de Boqueirão, poderia ser um plano B se não tivesse em um nível tão baixo.
A água é um bem federal e não há nenhum impedimento de se fazer esse manejo. Em conversa com um amigo – o Prof. Juvandi Santos da UEPB – ele afirmou que o Exército, com seu pessoal e maquinário altamente qualificado, teria condições de em poucos meses construir as duas adutoras. As águas vindas das adutoras leste (litoral) e norte (Açú) iriam subsidiar parte do abastecimento da cidade de sábado a segunda, em consonância com o abastecimento racionado já existente. Caso o açude de Boqueirão não receba recarga no inverno do próximo ano, suas águas – que já não estariam em boas condições para o consumo humano – seriam destinadas às indústrias e a outras utilizações, a água potável das adutoras norte e leste poderiam abastecer juntas a cidade 2 dias por semana, uma a cada dia, garantindo o consumo humano. As adutoras funcionariam até a recarga significativa do açude de Boqueirão, ficando em quarentena após esse uso, sendo um plano B para um próximo período de estiagem prolongada. Outra possibilidade seria uma adutora advinda do Pajeú (Pernambuco) com águas vindas de Itaparica.
É viável esse plano B? É caro? Viável é sim e o valor não se compara ao prejuízo do nordeste perder um de seus importantes polos econômicos do interior. O fracasso de Campina Grande arruinaria as relações comerciais encampando uma miséria sem precedentes em toda região. Portanto, cabe aos detentores do poder viabilizar esse projeto e pô-lo em prática. Plano B deve existir sim, o que nos espanta é o descaso das autoridades com um problema de tamanha grandeza.

Historiador e Jornalista
Mestre em História, Especialista em Historia do Brasil e da Paraíba,
Editor da Revista Tarairiú

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