Plano de Israel para Gaza: total dominação militar e proibição de criar um Estado Palestino

Publicado em 24 de fevereiro de 2024

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, apresentou na quinta-feira ao seu gabinete de segurança os planos para o pós-guerra em Gaza — o documento com o detalhamento do projeto foi divulgado na sequência. Na primeira proposta sobre o tema formalmente apresentada para aprovação, Netanyahu sugere a instalação de “autoridades locais” não afiliadas ao terrorismo para substituir o Hamas e administrar os serviços no enclave, o fechamento da agência de assistência da ONU para refugiados palestinos e “liberdade indefinida” para atuação do Exército no enclave.
De acordo com o jornal Times of Israel, o premier adiou por mais de quatro meses as discussões do gabinete sobre o chamado “dia seguinte” à guerra. Netanyahu temia que isso pudesse levar a fissuras em sua coalizão, apoiada principalmente pela direita. Alguns de seus ministros tentaram usar as reuniões para pressionar pela reinstalação de assentamentos israelenses em Gaza, e pelo controle permanente de Israel no enclave palestino. O primeiro-ministro, porém, diz se opor às medidas, que levariam à dissipação do pouco apoio do país no Ocidente.
Na quinta-feira, Netanyahu se limitou a dizer que não permitirá que a Autoridade Nacional Palestina (ANP) volte a governar Gaza, embora em alguns momentos tenha afirmado que Israel não aceitará a administração da ANP em sua forma atual, indicando que o país poderia conviver com o órgão caso ele seja reformulado. Antes do Hamas assumir o controle da região, em 2007, o enclave era liderado pelo Fatah, partido político associado à ANP. O documento apresentado por Netanyahu não detalha como será este tópico.
Em vez disso, diz apenas que os assuntos civis em Gaza serão administrados por “autoridades locais” que possuem “experiência administrativa” e que não estão vinculadas a “países ou entidades que apoiam o terrorismo”. A linguagem é vaga, mas pode excluir grupos que recebem financiamento do Catar e do Irã. Em comunicado, o escritório do primeiro-ministro afirmou que o documento se baseia em “princípios amplamente aceitos pelo público” e que “servirá de base para futuras discussões sobre a gestão pós-guerra em Gaza”.

Quais são as propostas?
A proposta apresentada afirma que as Forças Armadas de Israel continuarão a guerra até alcançar seus objetivos, que são a destruição das capacidades militares e infraestrutura governamental do Hamas e da Jihad Islâmica, o retorno dos reféns sequestrados em 7 de outubro e a remoção de qualquer ameaça à segurança de Gaza a longo prazo. Além disso, o Exército israelense terá “liberdade indefinida” para operar em todo o território e “evitar o ressurgimento da atividade terrorista”.
O projeto também prevê que Israel estabelecerá uma “zona de segurança na fronteira do lado palestino de Gaza”, acrescentando que permanecerá no local “enquanto houver necessidade de segurança”. O documento apresentado por Netanyahu também oferece os detalhes mais concretos até o momento sobre os planos do país para a fronteira entre Egito e Gaza. A proposta é que Israel aplique o fechamento da fronteira para “evitar o ressurgimento da atividade terrorista”. Esta medida seria mantida com assistência dos EUA e em cooperação com o Egito.
Israel também manterá, de acordo com a proposta, o controle de segurança “sobre toda a área a oeste do Jordão” para “impedir o fortalecimento de elementos terroristas na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, e para frustrar ameaças deles em direção a Israel”. O plano de Netanyahu prevê a “desmilitarização completa de Gaza, além do que é necessário para manter a ordem pública”. O governo israelense também será responsável pela “desradicalização” em todas as instituições religiosas, educacionais e de bem-estar no enclave.

Reconstrução de Gaza
O documento de Netanyahu propõe, ainda, o fechamento da agência de assistência das Nações Unidas para refugiados palestinos, a UNRWA. Isso porque 12 funcionários do órgão teriam tido envolvimento no ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro. Segundo a proposta, autoridades israelenses trabalharão para substituir a agência por “organizações de ajuda internacional responsáveis”. O primeiro-ministro também indicou que o país só permitirá o início da reconstrução de Gaza após a desmilitarização do enclave e o início do “processo de desradicalização”.
“O plano de reabilitação será financiado e liderado por países aceitáveis por Israel”, determina o documento. A proposta conclui reiterando princípios adotados tanto pelo gabinete quanto pelo Parlamento israelense. Entre eles, a recusa diante de qualquer ditame internacional sobre um acordo permanente com os palestinos e a oposição ao reconhecimento “unilateral” do Estado da Palestina.

Reação
O Hamas respondeu à proposta de Netanyahu afirmando que ela “nunca terá sucesso”. Em entrevista coletiva em Beirute, Osama Hamdan, um dos alto dirigentes do grupo terrorista, afirmou que o premier israelense tem consciência de que seu plano é impraticável.
— No que diz respeito ao dia seguinte na Faixa de Gaza, Netanyahu apresenta ideias que sabe perfeitamente que nunca terão sucesso — declarou Hamdan.
A Autoridade Palestina, no poder na Cisjordânia ocupada, também se opôs taxativamente ao plano, que não prevê a criação de um Estado palestino independente.

Negociações de cessar-fogo
Autoridades de Israel, do Catar, dos Estados Unidos e do Egito se reunirão em Paris nesta sexta-feira para tentar avançar com um acordo de cessar-fogo e a libertação de reféns mantidos pelo Hamas em Gaza, anunciou um oficial israelense e uma pessoa informada sobre as negociações nesta quinta-feira. A iniciativa faz parte dos esforços para negociar a libertação de reféns mantidos na Faixa de Gaza, além de uma pausa nos combates. Segundo Israel, cerca de 100 sequestrados ainda estão no enclave, e pelo menos outros 30 estão mortos.
O chefe do Mossad (agência de inteligência de Israel), David Barnea; o diretor da CIA, William Burns; o primeiro-ministro do Catar, Mohammed bin Abdulrahman bin Jassim al-Thani; e Abbas Kamel, chefe da inteligência egípcia, estão entre os participantes esperados, disse o oficial israelense e a pessoa informada sobre as negociações, ambos falando sob condição de anonimato para discutir os desenvolvimentos diplomáticos. Catar e Egito têm atuado como intermediários entre Israel e o Hamas, que não negociam diretamente.
Os esforços para garantir um acordo de cessar-fogo ganharam maior urgência à medida que o número de palestinos mortos em quatro meses de guerra se aproxima de 30 mil, de acordo com o Ministério da Saúde local, e no momento em que o plano declarado de Israel de invadir a cidade mais ao sul de Gaza, Rafah, causa alarme internacional.

Foto: Abir Sultan/AFP
O Globo/Com New York Times

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