PM muda versão para justificar ferimento em pênis de suspeito preso

Publicado em 21 de outubro de 2015

O sargento da Polícia Militar, Charles Otaga, preso em flagrante nesta terça-feira (20) por supostamente torturar o suspeito de um roubo na Zona Leste de São Paulo, mudou sua versão dos fatos para justificar as lesões constatadas pelo Instituto Médico Legal (IML) no pênis do acusado Afonso de Carvalho Trudes. O sargento está preso no presídio militar Romão Gomes.
De acordo com o boletim de ocorrência registrado no 103º DP, em Itaquera, primeiramente o PM informou que, assim que deu voz de parada a Afonso, o suspeito desceu de sua bicicleta e ficou em posição para ser revistado, colaborando com a abordagem.
Depois, após a denúncia de tortura, Otaga voltou atrás no depoimento e afirmou que Afonso tentou fugir quando foi detido. Segundo ele, o suspeito acelerou a bicicleta e pedalou por cerca de 70 metros com um arma de brinquedo presa à cueca, passando rapidamente por lombadas e valetas, o que teria causado os ferimentos em sua genitália.
Afonso afirma que foi torturado pelo policial antes de ser levado à delegacia e que chegou a levar choques no pescoço, na região das costelas e no pênis. Ele conta que uma faca também foi usada pelo sargento Otaga, que a todo momento dizia que iria matá-lo. A tortura teria acontecido na Avenida Luís Mateus e durado cerca de 15 minutos. Um laudo do IML apontou diversas lesões de natureza leve no jovem.
O suspeito foi detido acusado de roubar uma loja de sapatos. A dona do estabelecimento o reconheceu e ele acabou confessando o crime, além de também indicar o nome de um comparsa que o ajudou no assalto. O delegado do 103º DP, Raphael Zanon, decidiu prender, então, tanto o suspeito de roubo como o PM.

Sargento nega
O advogado do sargento Charles Otaga, Fernando Pittner, disse que o criminoso havia confirmado inicialmente que a bicicleta utilizada no roubo foi a responsável por causar as escoriações. A bike foi colocada pela polícia junto com ele no compartimento para presos da viatura, o que teria causado os ferimentos.
Pittner disse ainda que os policiais de fato pararam o carro a caminho da delegacia, mas que a parada só aconteceu para ajustar a posição da bicicleta, à pedido do próprio Afonso, que afirmou que ela o estava machucando. O sargento ainda alegou que aproveitou o momento para também afrouxar a algema do suspeito que estava muito apertada.
Segundo Otaga, esta foi a única parada da viatura na Avenida Luís Mateus e que toda a movimentação da viatura pode ser consultada pelo GPS instalado no veículo. O PM acredita que foi indicado como o autor das torturas apenas por ter “lidado direto” com o suspeito, conforme contou em depoimento à polícia.

Protesto e escolta a delegado
O caso levou até a frente da delegacia outros PMs e familiares dos policiais envolvidos. O grupo protestou contra a prisão do sargento. Deputados ligados às polícias Civil e Militar também foram ao local. O delegado Zanon, que determinou as prisões, precisou deixar a delegacia sob escolta de colegas de corporação durante a madrugada.
O sargento Charles Otaga deixou o local sob aplausos das pessoas que aguardavam do lado de fora. Ele foi levado pela polícia para o presídio militar Romão Gomes. Os outros policiais militares envolvidos na ação não foram detidos, mas serão investigados. A Secretaria da Segurança Pública, responsável pelas polícias militar e civil, afirmou que apura o caso.
G1

Banner Add

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Social media & sharing icons powered by UltimatelySocial