Polícia do Rio cita uso de óculos escuros como semelhança entre ladrão procurado e homem detido; outro suspeito já estava preso

Publicado em 21 de julho de 2018

A Justiça autorizou a libertação de Antônio Carlos Rodrigues Júnior, de 43 anos, preso porque a polícia achou que ele era parecido com um ladrão. Entre as semelhanças listadas, a polícia chegou a mencionar que os dois usavam óculos escuros. O verdadeiro assaltante já estava até preso e a delegada não sabia.
Antonio Carlos foi detido há uma semana na casa dele, na Glória, por policiais que fizeram a identificação do suposto criminoso por fotos em redes sociais. O crime é o assalto ao Consulado da Venezuela, no Rio, no início de junho.
Os investigadores da Delegacia Especial de Apoio ao Turismo apontaram, no pedido de prisão, uma suposta semelhança de Antônio Carlos com o bandido que aparecia nas imagens do assalto.
Os argumentos utilizados pela polícia chamaram a atenção da família. O relatório afirma que os dois tinham semelhança “na cor da pele, no formato do nariz e no formato da cabeça”. O relatório dizia, ainda, que “ambos são carecas, têm orelhas grandes, pontudas e voltadas para fora”.
Os agentes também ressaltaram uma “forte semelhança” entre os dois quando usavam óculos escuros. “É nítido que não é ele comparando com o verdadeiro assaltante”, diz a mulher de Antônio Carlos, Ingrid Silva.
Apesar disso, a consulesa da Venezuela reconheceu em um primeiro momento Antônio Carlos como um dos assaltantes. A família dele, revoltada, começou a investigar por conta própria. E descobriu que o verdadeiro bandido já estava até preso, em Bangu.
“Tem duas pessoas presas pelo mesmo crime e pelo mesmo processo. Trouxemos essas informações à delegacia, a delegada apurou o fato que os trouxemos e ai foi feito um novo reconhecimento em Bangu, da vítima, com o verdadeiro autor do fato e ela reconheceu ser ele o verdadeiro autor do crime que está sendo discutido”, diz a advogada Mitsi Rocha.
A família de Antônio Carlos passou a tarde desta sexta na porta da cadeia pública de Benfica. Eles tiveram informações de que a advogada foi com o promotor do caso na tarde desta sexta ao fórum levando os termos de reconhecimento e de confissão do verdadeiro assaltante, na esperança de conseguir o alvará de soltura.
Um dos irmãos se queixa que a família não conseguiu falar com Antônio Carlos após a prisão. “Eles mantiveram o telefone do meu irmão sob custodia deles, eles não deixaram ninguém visitar, aqui (em Bangu) que ele teve um pouco mais de condicões, conseguimos através da advogada no dia marcado da custodia trazer as coisas para ele, trazer o mínimo de higiene porque na delegacia ficou quatro dias lá e nem banho ele tomou”.
Antonio Carlos tem 43 anos. Trabalha como motorista de aplicativo. Tem um filho e um neto.
“Se uma delegada assim pode fazer esse estrago todo na vida de várias pessoas, será que ela ta capacitada para delegar uma delegacia? A gente tem que fazer um apelo agora para corregedoria da Policia Civil pra ver se enxerga isso e toma uma atitude. Ele é um filho, ele é um pai, ele é um avô, e ele tem que tocar a vida dele”, diz um irmão do motorista.
A delegada Valéria Aragão, responsável pela prisão do Antônio Carlos, não quis comentar. A polícia civil disse apenas que a investigação é sigilosa. A boa notícia é que a Justiça autorizou a libertação do Antônio Carlos. E ele deve deixar a cadeia na noite desta sexta-feira.

Outro caso
A família de Eduardo Nery vive angústia parecida com a de Antônio Carlos. Ele também está preso em Benfica há nove dias. O técnico de áudio foi detido ao desembarcar no aeroporto internacional do Rio, depois de viver um ano na Irlanda.
A família diz que o mandado de prisão era por um estelionato, cometido há mais de 15 anos, em Minas Gerais e acredita que o mecânico teve documentos falsificados.
“O nome do pai errado e o RG errado, não é dele e o CPF também não é o dele, e o principal, esse documento de identidade foi emitido em Minas Gerais, não é do Rio de Janeiro. O documento do Eduardo, meu marido é do Rio de Janeiro”, diz a mulher de Eduardo, Najla Nery.
A família já moveu uma ação pedindo que ele seja liberado.
Mas a justiça ainda não concordou com a soltura.
G1

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